Odebrecht entra com pedido de recuperação judicial
18 de junho de 2019
Com dívidas de R$ 98,5 bilhões e envolvida na Lava Jato, empresa enfrenta o maior processo de recuperação judicial da história do Brasil. Principais credores da Odebrecht são bancos públicos.
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O conglomerado empresarial Odebrecht S.A. entrou nesta segunda-feira (17/06) com um pedido de recuperação judicial na Justiça de São Paulo para negociar dívidas que chegam a 98,5 bilhões de reais. Esse é o maior processo deste tipo da história do país e supera o da empresa de telefonia Oi, que alcançou 64 bilhões de reais.
A recuperação judicial visa à negociação de dívidas com credores, evitando que elas sejam executadas e levem a empresa à falência. Se o processo for autorizado pela justiça, a empresa deve apresentar um plano de recuperação, acordado com os credores, e ações e execuções contra a companhia serão suspensas por seis meses. Durante dois anos, um administrador judicial assumiria o comando da empresa.
O pedido do grupo incluiu 51 bilhões de reais de dívidas passíveis de reestruturação, 14,5 bilhões de reais de dívidas lastreadas em ações da petroquímica Braskem e 33 bilhões de reais em dívidas com empresas de dentro do grupo. Do processo de recuperação judicial, foram excluídas a Braskem e as companhias operacionais OEC, de construção civil; OR, de incorporação imobiliária; Ocyan, de petróleo, e o estaleiro Enseada.
Os maiores credores da Odebrecht são bancos públicos – o Banco Nacional de Desenvolvimento Econômico e Social (BNDES), Banco do Brasil e Caixa Econômica Federal –, e detentores de bônus no exterior.
Em nota, o diretor presidente da Odebrecht, Luciano Guidolin, defendeu o pedido de recuperação judicial. "Representa uma mudança de ambiente para dar continuidade ao nosso esforço de reestruturação financeira. A partir de agora, a negociação se dará de forma coletiva com os credores e se desenrolará com proteção judicial para a empresa e os seus integrantes, e com mais coordenação, segurança e transparência", disse.
Criada em 1944, na Bahia, a Odebrecht S.A. começou com empreiteira e expandiu seus negócios ao longo dos anos. A empresa é uma das principais envolvidas no escândalo de corrupção revelado pela Operação Lava Jato.
A Odebrecht enfrenta dificuldades desde a deflagração da Lava Jato, em 2014, que revelou esquemas de corrupção nos quais a empresa estava envolvida. O grupo admitiu pagar subornos milionários a políticos em 12 países da América Latina e África para obter contratos de obras. Esses pagamentos chegaram a aproximadamente 788 milhões de dólares, segundo as autoridades americanas.
CN/afp/ots
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História do país é marcada por episódios de corrupção. Uma seleção com alguns dos mais emblemáticos.
Foto: Reuters/P. Whitaker
As origens
A colonização do Brasil foi baseada na concessão de cargos, caracterizada pelo patrimonialismo (ausência de distinção entre o bem público e privado) e o clientelismo (favorecimento de indivíduos com base nos laços familiares e de amizade). Apesar de mudanças no sistema político, essas características se perpetuaram ao longo dos séculos.
Foto: Gemeinfrei
Roubo das joias da Coroa
Em março de 1882, todas as joias da Imperatriz Teresa Cristina e da Princesa Isabel foram roubadas do Palácio de São Cristóvão. O roubo levou a oposição a acusar o governo imperial de omissão, pois as joias eram patrimônio público. O principal suspeito, Manuel de Paiva, funcionário e alcoviteiro de Dom Pedro 2º, escapou da punição com a proteção do imperador. O caso ajudou na queda da monarquia.
Foto: Gemeinfrei
A República e o voto do cabresto
Em 1881 foi introduzido no país o voto direto, porém, a maioria da população era privada desse direito. Na época, podiam votar apenas homens com determinada renda mínima e alfabetizados. Durante a Primeira República (1889 – 1930), institucionaliza-se no Brasil o voto do cabresto, ou seja, o controle do voto por coronéis que determinavam o candidato que seria eleito pela população.
Foto: Gemeinfrei
Mar de lama
Até década de 1930, a corrupção era percebida comu um vício do sistema. A partir de 1945, a corrupção individual aparece como problema. Várias denúncias de corrupção surgiram no segundo governo de Getúlio Vargas. O presidente foi acusado de ter criado um mar de lama no Catete.
Foto: Imago/United Archives International
Rouba mas faz
Engana-se quem pensa que Paulo Maluf é o criador do bordão "rouba mas faz". A expressão foi atribuída pela primeira vez a Adhemar de Barros (de bigode, atrás de Getúlio), governador de São Paulo por dois mandatos nas décadas de 1940 e 1960. O político ganhou fama por realizar grandes obras públicas, e nem mesmo as acusações constantes de corrupção contra ele lhe impediram de ganhar eleições.
Foto: Wikipedia/Gemeinfrei/DIP
Varrer a corrupção
Em 1960, o candidato à presidência da República Jânio Quadros conquistou a maior votação já obtida no país para o cargo desde a proclamação da República. O combate à corrupção foi a maior arma do político na campanha eleitoral, simbolizado pela vassoura. Com a promessa de varrer a corrupção da administração pública, Jânio fez sucesso entre os eleitores.
Foto: Imago/United Archives International
Ditadura e empreiteiras
Acabar com a corrupção foi um dos motivos usados pelos militares para justificar o golpe de 1964. Ao assumir o poder, porém, o novo regime consolidou o pagamento de propinas por empreiteiras na realização de obras públicas. Modelo que se perpetuou até os dias atuais e é um dos alvos da Operação Lava Jato.
Foto: picture-alliance/AP
Caça a marajás
Mais uma vez um presidente que partia em campanha eleitoral prometendo combater a corrupção foi aclamado com o voto da população. Fernando Collor de Mello, que ficou conhecido como "caçador de marajás", por combater funcionários públicos que ganhavam salários altíssimos, renunciou ao cargo em 1992, em meio a um processo de impeachment no qual pesavam contra ele acusações que ele prometeu combater.
Foto: Imago/S. Simon
Mensalão
Em 2005, veio à tona o esquema de compra de votos de parlamentares aplicado durante o primeiro governo do presidente Luís Inácio Lula da Silva, que ficou conhecido como mensalão. O envolvimento no escândalo de corrupção levou diversos políticos do alto escalão para a prisão, entre eles, o ex-ministro José Dirceu e o ex-presidente do PT José Genoino.
Foto: picture-alliance/robertharding/I. Trower
Lava Jato
A operação que começou um inquérito local contra uma quadrilha formada por doleiros tonou-se a maior investigação de combate à corrupção da história do país. A Lava Jato revelou uma imensa rede de corrupção envolvendo a Petrobras, empreiteiras e políticos. O pagamento de propinas por construtoras, descoberto na operação, provocou investigações em 40 países.