Há 1 milhão de desabrigados no Líbano, diz governo
29 de setembro de 2024
Primeiro-ministro libanês Najib Mikati afirma que país vive maior deslocamento da sua história devido aos ataques de Israel; um sexto da população está em abrigos ou na rua.
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Cerca de um milhão de pessoas fugiram de suas casas nos últimos dias no Líbano devido à campanha de ataques sem precedentes de Israel no sul e no leste do país e nos subúrbios de Beirute, anunciou o primeiro-ministro libanês Najib Mikati neste domingo (29/09).
"O número é grande, estima-se que 1 milhão foram forçadas a se deslocar de um lugar para outro nos últimos dias. É considerada a maior operação de deslocamento da história do Líbano", afirmou, em coletiva de imprensa. O contintente de deslocados anunciado pelo governo representa um sexto da populaçao do país.
"O gerenciamento desse deslocamento não depende apenas de encontrar abrigo e comida para essas pessoas, mas há outras coisas, como garantir o saneamento nesses centros de recepção para evitar a propagação de doenças ou o problema do acúmulo de lixo", disse Mikati.
Inimigos de longa data, o Hezbollah e Israel têm se envolvido em ataques quase diários desde que o grupo extremista palestino Hamas lançou um ataque terrorista contra Israel em 7 de outubro. Na última semana, a ofensiva se agravou, ameaçando se espalhar pelo Oriente Médio.
Fim das hostilidades fora do radar
Mikati afirma que seu país "não tem outra opção a não ser a diplomacia". Ele apela à resolução 1701 do Conselho de Segurança da ONU, de agosto de 2006, que exigiu o fim das hostilidades entre Israel e o Hezbollah.
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"O Líbano tem fé na comunidade internacional, na legitimidade internacional e na ONU, e não acredita na lei do mais forte", disse.
Em 2006, mais de mil pessoas foram mortas ao longo de um mês de conflito entre Israel e o movimento xiita libanês. O estopim da guerra foi o lançamento de foguetes pelo Hezbollah contra Israel, matando oito soldados israelenses, além de dois capturados.
Na atual escalada da ofensiva, as forças militares israelenses já mataram mais de 700 libaneses, segundo o Ministério da Saúde do Líbano. Só na segunda-feira, foram mais de 500 mortos, em bombardeios e ataques de pagers e walkie-talkies explosivos, o dia mais sangrento no país desde o fim da Guerra Civil libanesa, em 1990.
Na sexta-feira, ataques aéreos israelense atingiram o QG do Hezbollah e mataram dirigentes do grupo extremista, incluindo o líder Sayyed Hassan Nasrallah, considerado então o homem mais poderoso do Líbano.
No sábado e domingo, após anunciar a morte do líder xiita, Israel voltou realizar ataques contra alvos do Hezbollah dentro e fora da capital Beirute. Segundo as autoridades libanesas e relatos de quem está no local, os bombardeios têm atingido diversos civis, entre eles crianças e mulheres.
"Eu nem sequer levei roupas comigo, nunca pensei que sairíamos assim, de repente estamos na rua", disse Rihab Naseef, 56 anos, moradora do sul de Beirute, à AFP.
No sábado, 28 de setembro, o Alto Comissário da ONU para Refugiados, Filippo Grandi, disse que, até aquela data, "mais de 200 mil pessoas foram deslocadas dentro do Líbano" e mais de 50 mil fugiram para a Síria – sem contar com as subnotificações de quem está na rua, sem abrigo.
Para facilitar o recebimento de ajuda humanitária, o primeiro-ministro Najib Mikati ordenou que os impostos sobre doações do exterior fossem removidos e que fossem entregues diretamente ao Estado.
O Programa Mundial de Alimentos (PMA), agência de combate à fome da ONU, anunciou no início deste domingo uma operação de emergência para ajudar 1 milhão de afetados pela violência no Líbano.
sf (AFP, EFE, ots)
A longa história do processo de paz no Oriente Médio
Por mais de meio século, disputas entre israelenses e palestinos envolvendo terras, refugiados e locais sagrados permanecem sem solução. Veja um breve histórico sobre o conflito.
Foto: PATRICK BAZ/AFP/Getty Images
1967: Resolução 242 do Conselho de Segurança da ONU
A Resolução 242 do Conselho de Segurança das Nações Unidas, aprovada em 22 de novembro de 1967, sugeria a troca de terras pela paz. Desde então, muitas das tentativas de estabelecer a paz na região referiram-se a ela. A determinação foi escrita de acordo com o Capítulo 6 da Carta da ONU, segundo o qual as resoluções são apenas recomendações e não ordens.
Foto: Getty Images/Keystone
1978: Acordos de Camp David
Em 1973, uma coalizão de Estados árabes liderada pelo Egito e pela Síria lutou contra Israel no Yom Kippur ou Guerra de Outubro. O conflito levou a negociações de paz secretas que renderam dois acordos 12 dias depois. Esta foto de 1979 mostra o então presidente egípcio Anwar Sadat, seu homólogo americano Jimmy Carter e o premiê israelense Menachem Begin após assinarem os acordos em Washington.
Foto: picture-alliance/AP Photo/B. Daugherty
1991: Conferência de Madri
Os EUA e a ex-União Soviética organizaram uma conferência na capital espanhola. As discussões envolveram Israel, Jordânia, Líbano, Síria e os palestinos – mas não da Organização para a Libertação da Palestina (OLP) –, que se reuniam com negociadores israelenses pela primeira vez. Embora a conferência tenha alcançado pouco, ela criou a estrutura para negociações futuras mais produtivas.
Foto: picture-alliance/dpa/J. Hollander
1993: Primeiro Acordo de Oslo
Negociações na Noruega entre Israel e a OLP, o primeiro encontro direto entre as duas partes, resultaram no Acordo de Oslo. Assinado nos EUA em setembro de 1993, ele exigia que as tropas israelenses se retirassem da Cisjordânia e da Faixa de Gaza e que uma autoridade palestina autônoma e interina fosse estabelecida por um período de transição de cinco anos. Um segundo acordo foi firmado em 1995.
Foto: picture-alliance/dpa/A. Sachs
2000: Cúpula de Camp David
Com o objetivo de discutir fronteiras, segurança, assentamentos, refugiados e Jerusalém, o então presidente dos EUA, Bill Clinton, convidou o premiê israelense Ehud Barak e o presidente da OLP Yasser Arafat para a base militar americana em julho de 2000. No entanto, o fracasso em chegar a um consenso em Camp David foi seguido por um novo levante palestino, a Segunda Intifada.
Foto: picture-alliance/AP Photo/R. Edmonds
2002: Iniciativa de Paz Árabe
Após Camp David, seguiram-se encontros em Washington e depois no Cairo e Taba, no Egito – todos sem resultados. Mais tarde, em março de 2002, a Liga Árabe propôs a Iniciativa de Paz Árabe, convocando Israel a se retirar para as fronteiras anteriores a 1967 para que um Estado palestino fosse estabelecido na Cisjordânia e em Gaza. Em troca, os países árabes concordariam em reconhecer Israel.
Foto: Getty Images/C. Kealy
2003: Mapa da Paz
Com o objetivo de desenvolver um roteiro para a paz, EUA, UE, Rússia e ONU trabalharam juntos como o Quarteto do Oriente Médio. O então primeiro-ministro palestino Mahmoud Abbas aceitou o texto, mas seu homólogo israelense Ariel Sharon teve mais reservas. O cronograma previa um acordo final sobre uma solução de dois estados a ser alcançada em 2005. Infelizmente, ele nunca foi implementado.
Foto: Getty Iamges/AFP/J. Aruri
2007: Conferência de Annapolis
Em 2007, o então presidente dos EUA George W. Bush organizou uma conferência em Annapolis, Maryland, para relançar o processo de paz. O premiê israelense Ehud Olmert e o presidente da ANP Mahmoud Abbas participaram de conversas com autoridades do Quarteto e de outros Estados árabes. Ficou acordado que novas negociações seriam realizadas para se chegar a um acordo de paz até o final de 2008.
Foto: picture-alliance/dpa/S. Thew
2010: Washington
Em 2010, o enviado dos EUA para o Oriente Médio, George Mitchell, convenceu o premiê israelense, Benjamin Netanyahu, a implementar uma moratória de 10 meses para assentamentos em territórios disputados. Mais tarde, Netanyahu e Abbas concordaram em relançar as negociações diretas para resolver todas as questões. Iniciadas em setembro de 2010, as negociações chegaram a um impasse dentro de semanas.
Foto: picture-alliance/dpa/M. Milner
Ciclo de violência e cessar-fogo
Uma nova rodada de violência estourou dentro e ao redor de Gaza no final de 2012. Um cessar-fogo foi alcançado entre Israel e os que dominavam a Faixa de Gaza, mas quebrado em junho de 2014, quando o sequestro e assassinato de três adolescentes em mais violência. O conflito terminou com um novo cessar-fogo em 26 de agosto de 2014.
Foto: picture-alliance/dpa
2017: Conferência de Paris
A fim de discutir o conflito entre israelenses e palestinos, enviados de mais de 70 países se reuniram em Paris. Netanyahu, porém, viu as negociações como uma armadilha contra seu país. Tampouco representantes israelenses ou palestinos compareceram à cúpula. "Uma solução de dois Estados é a única possível", disse o ministro francês das Relações Exteriores Jean-Marc Ayrault, na abertura do evento.
Foto: Reuters/T. Samson
2017: Deterioração das relações
Apesar de começar otimista, o ano de 2017 trouxe ainda mais estagnação no processo de paz. No verão do hemisfério norte, um ataque contra a polícia israelense no Monte do Templo, um local sagrado para judeus e muçulmanos, gerou confrontos mortais. Em seguida, o plano do então presidente dos EUA, Donald Trump, de transferir a embaixada americana para Jerusalém minou ainda mais os esforços de paz.
Foto: Reuters/A. Awad
2020: Tiro de Trump sai pela culatra
Trump apresentou um plano de paz que paralisava a construção de assentamentos israelenses, mas mantinha o controle de Israel sobre a maioria do que já havia construído ilegalmente. O plano dobrava o território controlado pelos palestinos, mas exigia a aceitação dos assentamentos construídos anteriormente na Cisjordânia como território israelense. Os palestinos rejeitaram a proposta.
Foto: Reuters/M. Salem
2021: Conflito eclode novamente
Planos de despejar quatro famílias palestinas e dar suas casas em Jerusalém Oriental a colonos judeus levaram a uma escalada da violência em maio de 2021. O Hamas disparou foguetes contra Israel, enquanto ataques aéreos militares israelenses destruíram prédios na Faixa de Gaza. A comunidade internacional pediu o fim da violência e que ambos os lados voltem à mesa de negociações.
Foto: Mahmud Hams/AFP
2023: Terrorismo do Hamas e retaliações de Israel
No início da manhã de 7 de outubro, terroristas do grupo radical islâmico Hamas romperam barreiras em alguns pontos da Faixa de Gaza, na fronteira com Israel, e, em território israelense, feriram e mataram centenas de pessoas, além de sequestrarem mais de uma centena. Devido a isso, Israel declarou "estado de guerra" e iniciou uma série de bombardeios, deixando partes da Cidade de Gaza em ruínas.