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Ofensiva midiática da China avança em várias frentes

William Yang av
27 de março de 2019

Pequim fortalece sua própria TV e obtém influência sobre órgãos de imprensa internacionais com viagens grátis para jornalistas e encartes pagos em jornais. Repórteres Sem Fronteiras vê ameaça às democracias.

Emissora estatal de TV chinesa CGTN foi inaugurada em 31/12/2016
Emissora estatal de TV chinesa CGTN foi inaugurada em 31/12/2016Foto: picture-alliance/Photoshot/Ju Peng

A China vem tentando estabelecer uma nova ordem mundial da mídia, na qual os jornalistas se tornam meros "auxiliares da propaganda estatal", denunciou a ONG Repórteres Sem Fronteiras (RSF) em relatório divulgado nesta segunda-feira (25/03). O documento destaca como a expansão internacional da abordagem midiática chinesa constitui uma ameaça direta à liberdade de imprensa e às democracias em todo o mundo, incluindo a exportação de modelos de censura para Estados ditatoriais a campanhas de intimidação de dissidentes.

"Pequim está esbanjando verbas para modernizar sua emissão de TV internacional, investindo em canais de comunicação estrangeiros, comprando enormes quantidades de publicidade na mídia internacional e convidando jornalistas de todo o mundo a viagens para a China com todas as despesas pagas", aponta a RSF.

"Essa expansão, cuja escala ainda é difícil de avaliar, representa uma ameaça direta não só à mídia, mas também às democracias", acrescenta, classificando o presidente Xi Jinping de "inimigo da democracia, dos valores universais, dos direitos humanos e da liberdade de imprensa". Além disso, jornalistas estão se transformando em instrumentos do Partido Comunista chinês para "transmitir propaganda partidária", cujos tarefas se centram em "se alinharem com a liderança do partido em pensamento, política e ação".

Segundo a RSF, a potência asiática está tentando combater a influência de forças ocidentais "hostis" ao criar eventos midiáticos internacionais sob seu controle e exportar seus modelos de mídia e vigilância para outros países. A ênfase é dada à expansão global das emissoras estatais China Global Television Network (CGTN) e China Radio International, como exemplo dos esforços para atrair audiências internacionais.

Transmitindo em 140 idiomas, a CGTN é especialmente ambiciosa em expandir sua influência midiática na África, através de programas diários específicos sobre esse continente, onde 70% da infraestrutura de telecomunicações foi instalada pela Huawei. Embora alegando apresentar a África "real" para o mundo, a emissora de TV também se concentra em polir a imagem da China através de uma cobertura positiva das atividades do país no continente.

"Muito do conteúdo da CGTN não é mais apenas sobre a China e a África, à medida que Pequim intensifica os esforços para produzir conteúdo original sobre a África", disse à DW o pesquisador Chenshen Yan, da Universidade Nacional Chengchi, em Taiwan. "Em outras palavras: no futuro a China estará apta a ditar os debates internacionais sobre a África."

Além de expandir sua influência midiática através da CGTN, a RSF também destaca que governo chinês sistematicamente infiltra propaganda nos meios de comunicação ocidentais através do suplemento grátis em inglês chamado China Watch. De acordo com o relatório, ele seria produzido por funcionários do jornal estatal China Daily. A iniciativa seria uma "política de cavalo de Troia", permitindo que o país "insinue sua propaganda para dentro das salas de estar das elites".

"China Daily", "China Watch": propaganda do Partido Comunista de Pequim em milhões de lares?Foto: Getty Images/AFP/T. Karumba

O China Watch é distribuído como caderno extra em cerca de 30 diários importantes, entre os quais o Washington Post, Wall Street Journal e Daily Telegraph, com uma circulação total estimada em 13 milhões de cópias. A ONG alerta que esses veículos estrangeiros podem estar contribuindo para a difusão de propaganda chinesa, além de se tornarem vulneráveis à pressão do país asiático.

Outra forma de assegurar cobertura positiva são os convites a jornalistas estrangeiros para seminários na China, com todas as despesas pagas, afirma a RSF. O relatório argumenta que, uma vez que esses profissionais são, em geral, aprovados pelas embaixadas chinesas em seus respectivos países, o convite é sob a condição de auxiliarem a comunicar uma imagem positiva da China em suas reportagens.

Louisa Lim, jornalista premiada e professora do Centro de Jornalismo Avançado da Universidade de Melbourne, Austrália, interpreta todas as abordagens adotadas pela China como parte de uma estratégia coordenada para exercer influência no exterior, num momento em que os veículos noticiosos ocidentais encaram dificuldades financeiras.

"Acho que Pequim tem sido muito eficiente em explorar as vulnerabilidades da imprensa livre. Os veículos de comunicação estão dispostos a aceitar patrocínio chinês, por meio do envio de repórteres ao país, ou a encartar o China Watch em seus jornais, sem questionar muito o que isso possa significar."

Em meio a uma tentativa crescente da China de redefinir a ordem midiática global, Lim crê ser importante a comunidade internacional ter uma compreensão clara sobre a definição de jornalismo daquele país, ao promover a discussão sobre o impacto da expansão midiática global chinesa.

"Sob Xi Jinping, o governo chinês está apertando o controle sobre jornalistas e as redes sociais através de regulamentações. O jornalismo se transformou numa ferramenta para disseminar os pontos de vista e opiniões do Partido Comunista para a população em geral." Nesse contexto, é necessário questionar se é legítimo que órgãos da imprensa ocidental aceitem publicidade e viagens grátis de Pequim, observa Lim.

A professora de jornalismo observa que o encarte de suplementos patrocinados da mídia chinesa pode dar a impressão de os veículos estarem legitimando a propaganda de Pequim. "Os jornalistas devem questionar seus jornais sobre algumas dessas práticas de longa data. Também acho que é necessário haver mais transparência sobre coisas como patrocínio e como notícias são produzidas."

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