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Oferta atômica à China ameaça crise em Berlim

ef3 de dezembro de 2003

Proposta de Gerhard Schröder para a China comprar uma fábrica de plutônio ameaça crise no governo alemão. Parceiros verdes da coalizão temem que Pequim use o material para fabricar bombas atômicas e rejeitam o negócio.

Angelika Beer: venda da fábrica seria uma insensatez políticaFoto: AP

A Siemens garante que seria impossível o uso de elementos combustíveis da sua fábrica para fins militares, porque o plutônio que ela produz não é apropriado para bomba atômica. O diretor da Siemens, Peter Faber, garantiu que o plutônio só poderia ser usado para fins pacíficos. A presidenta do Partido Verde, Angelika Beer, rejeitou tal argumento e apoiou a pressão de seus correligionários para que o ministro das Relações Exteriores, Joschka Fischer, impeça uma venda da fábrica a Pequim.

Fábrica de plutônio parada em HanauFoto: AP

A fábrica construída em Hanau nunca chegou a operar, em virtude dos protestos de massa na Alemanha. Foi exatamente Joschka Fischer, a maior estrela dos verdes e da política alemã, que impediu a sua entrada em operação em meados dos anos 90, quando era secretário do Meio Ambiente do Estado do Hessen. Dois anos atrás, a Rússia mostrou interesse em adquirir a fábrica, mas o negócio fracassou ante a resistência dos verdes. Uma venda das instalações tem que ser aprovada pela Comissão de Exportação, que é subordinada também ao Ministério das Relações Exteriores.

Maior fábrica do mundo

- A fábrica deveria ser a maior instalação de produção de plutônio do mundo, mas tal plano foi abandonado totalmente em 1995 em conseqüência dos protestos de massa liderados pelos verdes. Sua construção custou 700 milhões de euros e as partes que restam das instalações foram avaliadas em 50 milhões de euros. Mesmo assim sua venda a Pequim seria um negócio melhor do que deixar que tudo vá se acabando com o passar do tempo.

Se insistir em fazer o negócio que ofereceu aos chineses, o chefe de governo alemão corre o risco de gerar uma crise no seu gabinete e de perder sua própria credibilidade, como advertiu o jornal Financial Times da Alemanha. O argumento do jornal é o mesmo da presidenta do Partido Verde: o governo que fez um acordo histórico com o setor energético para acabar com a produção de energia nuclear perderia moral vendendo instalações nucleares em qualquer parte do mundo. A necessidade de coerência reivindicada pelos verdes é o nó da questão, com o agravante de que, assim como as outras potências atômicas, a China não separa o uso do seu setor nuclear entre civil e militar.

Incoerência política

- Mesmo que o plutônio fosse usado só para fins pacíficos, a venda da fábrica à China seria "uma insensatez política", segundo a presidenta dos verdes, porque contradiria o ideário do seu partido, que sempre advertiu para os riscos da tecnologia nuclear. O Partido Verde foi a força propulsora do acordo do governo com o setor energético para desativar, paulatinamente, todas as 19 usinas atômicas alemãs. A primeira já foi desativada.

Por isso mesmo, o porta-voz dos verdes para questões de defesa, Winfrid Nachtwei, exigiu um exame para verificar se há possibilidade legal de impedir a venda da fábrica da Siemens à China. "Se a exportação pode contribuir para a propagação de armas atômicas, o negócio tem de ser impedido", disse ele. A bancada das legendas irmãs de oposição CDU e CSU no Parlamento em Berlim, ao contrário, expressou apoio ao chefe de governo. "Nós só temos de saber se a produção da fábrica não vai ser usada para fins militares, porque não podemos ajudar os chineses a construir bombas atômicas melhores", disse o porta-voz da bancada Friedbert Pflüger.

Suspensão do embargo de armas

- Apesar das críticas, o chanceler federal alemão voltou a defender uma venda da fábrica de plutônio à China, onde se encontra em visita oficial. Ele disse que prometeu examinar o desejo dos chineses de comprar a instalação nuclear de comum acordo com os ministérios competentes na questão nuclear. Schröder defendeu também a sua posição favorável a uma suspensão do embargo internacional de armas decretado contra a China em represália ao massacre do movimento democrático na Praça da Paz Celestial em 1989.

Políticos do Partido Verde em Berlim mostraram-se indignados de Schröder se empenhar em Pequim pelo fim das sanções, impostas depois que tanques reprimiram as manifestações por liberdades democráticas. Schröder argumentou que sintonizou a sua posição com a França, mas acha que a maioria dos governos na União Européia também entende que já é hora de suspender as sanções.

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