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Oferta de Trump a Bolsonaro irrita aliados na Otan

20 de março de 2019

Presidente americano levantou possibilidade de fazer lobby pelo Brasil na aliança, o que causou espanto entre representantes na sede da organização em Bruxelas e foi logo rechaçado por potências como França e Alemanha.

Sede da Otan em Bruxelas: diplomatas se surpreenderam com oferta de Trump
Sede da Otan em Bruxelas: diplomatas se surpreenderam com oferta de TrumpFoto: Reuters/Y. Herman

O presidente dos Estados Unidos, Donald Trump, irritou parceiros na Organização do Tratado do Atlântico Norte (Otan) ao sugerir ser possível que o Brasil seja admitido na aliança. O líder americano mencionou a possibilidade durante a visita do presidente Jair Bolsonaro à Casa Branca na terça-feira (19/03).

Trump prometeu classificar o Brasil como major non-Nato ally, o que daria ao Brasil privilégios militares similares aos recebidos pelos aliados dos americanos na Otan. A Argentina é o único país latino-americano que recebeu até agora esse status, de caráter mais simbólico.

Com o status, o Brasil poderia, por exemplo, participar oficialmente do desenvolvimento de tecnologias de defesa, realizar exercícios militares conjuntos e receber ajuda financeira para a compra de equipamento militar.

Trump e Bolsonaro confirmaram que o tema foi um dos assuntos tratados numa reunião no Salão Oval. Na entrevista coletiva subsequente, Trump chegou a mencionar a possibilidade de o Brasil ser um membro de fato da Otan, mas admitiu que teria "que falar com muitas pessoas" para que isso acontecesse.

Segundo reportagem da Folha de S. Paulo, durante um almoço fechado na Casa Branca nesta terça, Trump afirmou que vai trabalhar para fazer com que o Brasil se torne um membro pleno da Otan.

Na sede da Otan, em Bruxelas, representantes da aliança ressaltaram nesta quarta-feira que o Tratado do Atlântico Norte não prevê a admissão de mais países não europeus. Liderada por Washington, a organização tem atualmente 29 membros plenos, todos, com exceção de Canadá e Turquia, na Europa.

Além disso, a obrigação de prestar assistência no caso de ataques armados a um dos membros da organização seria dificultada pela localização geográfica do Brasil. Tal obrigatoriedade só se aplica a países acima do Trópico de Câncer, e o Brasil está bem abaixo dele, afirmaram os representantes da Otan.

O governo da Alemanha, país-membro da Otan, também afirmou que o acesso à organização está reservado a países europeus. A porta-voz do Ministério do Exterior alemão, Maria Adebahr, destacou o artigo 10 do tratado de fundação da Otan.

O documento estabelece que os países-membros podem, se houver unanimidade, convidar para entrar na aliança "qualquer Estado europeu que esteja em condições de favorecer o desenvolvimento dos princípios do presente tratado e de contribuir para a segurança da região do Atlântico Norte".

Adebahr sublinhou que isso não significa que a Alemanha não considera o Brasil um parceiro relevante. "Como maior país do continente latino-americano, o Brasil tem para nós uma especial importância", disse, citada pela agência de notícias Efe.

O governo francês também chamou atenção para as regras da Otan em reação às declarações de Trump sobre uma possível adesão do Brasil.

"A Otan é uma aliança de países vinculados por uma cláusula de defesa coletiva, cujo campo de aplicação geográfica está claramente definido do Tratado de Washington de 4 de abril de 1949", afirmou uma porta-voz do Ministério do Exterior da França, país-membro da aliança.

Uma porta-voz da Otan não quis comentar as declarações de Trump. Mas fontes da organização ouvidas pela agência de notícias alemã DPA ressaltaram que a aliança já estabeleceu parcerias com uma série de países mundo afora, como Colômbia, Japão, Austrália e Afeganistão.

Segundo as fontes, a aliança estaria disposta a cooperar mais estreitamente com o Brasil, se o país tiver interesse. No entanto, a possibilidade de alterar o Tratado do Atlântico Norte para que o Brasil possa se tornar membro da organização foi classificada de improvável, já que para tanto seria necessária uma decisão unânime de todos os aliados.

Fundada quatro anos após o fim da Segunda Guerra Mundial, que devastou o continente europeu, a organização tinha como objetivo original favorecer o bem-estar e a estabilidade na região. Inicialmente, 12 países faziam parte da aliança, entre eles Canadá e EUA.

A missão da Otan foi por muito tempo conter a influência da antiga União Soviética, mas desde a desintegração desta, em 1991, a Aliança Atlântica decidiu não se restringir apenas à Europa e colaborar com outros parceiros globais. Estes países podem contribuir com as operações e missões da Otan.

LPF/efe/dpa/afp

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