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Olaf Scholz finalmente visitará a Ucrânia?

14 de junho de 2022

Imprensa alemã especula sobre uma visita do chanceler federal a Kiev, ao lado de Macron e Draghi. A DW analisa o que isso pode significar para a política – por vezes relutante – da Alemanha em relação à Ucrânia.

Olaf Scholz
Olaf Scholz expressou várias vezes temor de uma escalada no conflito na Ucrânia e continuou a se comunicar com Putin – provocando insatisfação de países aliados na Europa OrientalFoto: WPA Pool/Getty Images

Andriy Melnyk, o embaixador ucraniano na Alemanha, é conhecido por sua inteligência afiada. Quando começaram a surgir especulações de que o chanceler federal da Alemanha, Olaf Scholz, estaria planejando visitar Kiev junto com dois outros líderes europeus – presumivelmente o presidente francês, Emmanuel Macron, e o primeiro-ministro italiano, Mario Draghi -– Melnyk postou uma foto no Twitter de cinco veículos blindados juntamente com uma mensagem para o governo alemão: "Por que vocês negam ao Exército ucraniano o acesso a esses veículos de combate de infantaria Marder disponíveis na [empresa alemã] Rheinmetall para pronta entrega enquanto as forças ucranianas sangram até a morte diante de seus olhos?"

Pouco depois veio uma atualização. "O povo da Ucrânia espera que, durante sua visita a Kiev, o chanceler Olaf Scholz anuncie que está trazendo consigo um novo pacote de ajuda de armamento alemão, que deve incluir imediatamente os tanques Leopard-1, bem como mais veículos de infantaria Marder", disse Melnyk à agência de notícias dpa.

O presidente ucraniano, Volodimir Zelenski, já havia pedido mais remessas adicionais e urgentes de armas ocidentais. O prefeito de Kiev, Vitali Klitschko, disse ao tabloide alemão Bild: "O que precisamos dos três líderes dos países mais importantes são sanções mais duras e armas o mais rápido possível". Ambos enfatizaram sua convicção de que as ambições do presidente russo, Vladimir Putin, vão muito além da Ucrânia.

Mario Draghi, Emmanuel Macron e Olaf Scholz. O trio vai visitar Kiev?Foto: Francois Mori/Michael Kappeler/AP Photo/dpa/picture alliance

Tensão diplomática

As expectativas para a visita dos dirigentes da Itália, França e Alemanha são agora muito altas, sobretudo porque Scholz não demonstrou pressa em visitar Kiev, apesar de já ter sido oficialmente convidado anteriormente a visitar a capital ucraniana.

Em abril, houve tensão diplomática entre os dois países após o governo ucraniano rejeitar uma visita do presidente alemão, Frank-Walter Steinmeier, alegando que o político social-democrata tinha um passado de posições brandas em relação ao Kremlin – algo que o presidente posteriormente reconheceu como equivocadas.

A situação desconfortável só começou a se acalmar depois que Steinmeier e Zelenski conversaram pelo telefone para diminuir a tensão. Ainda assim, Scholz vinha hesitando: "Não vou entrar na fila e me tornar uma daquelas pessoas que fazem qualquer coisa por uma foto", disse o chanceler federal em meados de maio.

Quando a Alemanha entregará armas?

Enquanto isso, o líder da oposição conservadora ao governo Scholz, Friedrich Merz, se antecipou ao chanceler quando visitou Kiev no início de maio, em meio à disputa envolvendo Steinmeier. Poucos dias depois, foi a vez de a ministra das Relações Exteriores da Alemanha, Annalena Baerbock, do Partido Verde, visitar a capital ucraniana e a cidade de Bucha.

Na mesma época, o primeiro-ministro do Reino Unido, Boris Johnson, também visitou os ucranianos, prometendo mais apoio militar e econômico por meio de uma aliança mundial.

Políticos britânicos, americanos e do Leste Europeu não foram tímidos ao mandar mais armas para a Ucrânia. O governo Scholz, enquanto isso, continuou temeroso sobre uma escalada do conflito e se recusou a enviar armas pesadas até acabar cedendo à pressão do governo dos EUA. O chanceler então prometeu, junto com tanques e sistemas de artilharia, enviar equipamentos de defesa aérea Iris-T e quatro lançadores múltiplos de foguetes. No entanto, a entrega tem se arrastado e a Alemanha parece se limitar a enviar armas leves e munições.

"É hora de palavras serem seguidas por ações", afirma Henning Hoff, do Conselho Alemão de Relações Exteriores, um instituto político voltado para questões externas.

"Num cenário ideal, ele poderia ter ido junto com o presidente francês a Kiev depois que Emmanuel Macron foi reeleito. Isso teria sido um forte sinal de solidariedade e apoio. Mas antes tarde do que nunca." Agora, diz Hoff, chegou a hora de o chanceler federal "corrigir essa falha" e abordar a entrega dos lançadores de mísseis e sistemas de defesa aérea prometidos.

Olaf Scholz com o presidente do Parlamento ucraniano, Ruslan Stefantschuk. Relações entre Berlim e Kiev tem sido tumultuadasFoto: Michael Kappeler/dpa/picture alliance

Ressentimento com a Alemanha

ressentimento em muitas partes da Europa Oriental pela maneira como o chanceler federal alemão vem lidando com a situação -– ou evitando -– ficou mais uma vez claro durante uma reunião em Vilnius. Na ocasião, Scholz se reuniu com os chefes de Estado e governo da Lituânia, Letônia e Estônia. As ex-repúblicas soviéticas temem que possam ser as próximas vítimas da agressão russa se Putin for bem-sucedido na Ucrânia.

Durante a reunião, Scholz recitou o mantra de sempre: "Não se deve permitir que a Rússia vença esta guerra." Mas ao mesmo tempo ele se recusou a afirmar que a Ucrânia deveria vencer a guerra. O primeiro-ministro letão, Krisjanis Karins, aparentemente estava se referindo a essa falta de clareza quando disse recentemente: "Nosso objetivo é claro: a Rússia deve perder esta guerra. E a Ucrânia deve vencê-la."

O primeiro-ministro da Estônia, Kaja Kallas, foi igualmente franco durante uma visita a Berlim no final de abril: "Somos 65 vezes menores que a Alemanha. Mas oferecemos seis vezes mais assistência militar do que os alemães."

Além disso, muitos líderes da Europa Oriental ficaram irritados quando Scholz e Macron telefonaram em conjunto para Putin – sem consultá-los. Macron alertou repetidamente que a Rússia não deveria ser humilhada e que Putin deveria contar com uma estratégia de saída para salvar as aparências. O presidente lituano, Gitanas Nauseda, por outro lado, disse na presença de Scholz que "é muito complicado negociar com um ditador".

O presidente da Polônia, Andrzej Duda, foi ainda mais longe. Em 9 de junho, ele reclamou, em entrevista ao tabloide alemão Bild, dessas negociações a portas fechadas com Putin: "Essas conversas são inúteis. O que elas fazem? Elas apenas legitimam uma pessoa responsável pelos crimes cometidos pelo exército russo na Ucrânia. Putin é o responsável. Ele decidiu enviar as tropas para lá. Os comandantes estão subordinados a ele."

Duda ainda traçou paralelos entre a Rússia de Putin e a Alemanha nazista: "Alguém falou assim com Adolf Hitler durante a Segunda Guerra Mundial? Alguém disse que Hitler tinha que salvar as aparências? Que devemos proceder de uma forma que não seja humilhante para Adolf Hitler? Eu não ouvi essas vozes."

Volodimir Zelenski e seu governo expressaram varias vezes insatisfação com a política alemã em relação à RússiaFoto: Natacha Pisarenko/AP/dpa/picture alliance

O destino da Ucrânia

A Ucrânia e outros países da Europa Oriental ainda demonstram insatisfação com Scholz pela falta de um compromisso claro do chanceler com a adesão da Ucrânia à União Europeia.

O significado de tal compromisso vai além da perspectiva de adesão posterior, escreveu o jornal Neue Zürcher Zeitung em 4 de junho: "A recusa em dar garantias de segurança a Kiev para o pós-guerra, por exemplo, através da perspectiva de adesão à UE", é, para todos os efeitos, um ato de "apaziguamento" em relação a Putin.

"Macron e Scholz agem como se o destino da Ucrânia fosse de importância secundária para eles. A impressão pode estar errada, mas a percepção também é uma realidade. Isso é especialmente verdadeiro na guerra, onde o moral pode fazer toda a diferença. Nesse cenário, Berlim e Paris estão se transformando em ajudantes involuntários do Kremlin."

Tanque russo danificado é exibido em Kiev. Ucrânia cobra mais armas da AlemanhaFoto: GLEB GARANICH/REUTERS

Difícil adeus ao pacifismo

A mídia anglófona, por outro lado, tem sido mais amigável com Scholz ultimamente. "Contra o pano de fundo de sua história e da sua história política pacifista, a Alemanha está ajudando a Ucrânia mais do que muitos esperavam", escreveu a revista Economist. E o jornalista Thomas L. Friedman demonstrou espanto no New York Times em relação a como a Alemanha abandonou, quase da noite para o dia, seu medo de conflito de 80 anos, aumentando maciçamente seus gastos com defesa e planejando fornecer armas para a Ucrânia.

Henning Hoff, do Conselho Alemão de Relações Exteriores, traça um cenário mais complicado: "A política de segurança e defesa alemã mudou mais nos últimos três meses do que em três décadas, e isso com apoio da população." Do ponto de vista dos aliados de Berlim, porém, a Alemanha só agora está chegando ao presente. "Espera-se mais da Alemanha, ou seja, assumir o manto da liderança, muito mais claramente do que antes."

A Alemanha fará isso, junto com a França e a Itália? Se Scholz, Macron e Draghi realmente visitarem Kiev juntos, haverá grandes expectativas para a viagem. Resta saber se elas poderão ser cumpridas.