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Olaf Scholz, o chanceler calado (e impopular) da Alemanha

25 de janeiro de 2024

Há muito tempo um chanceler alemão não tinha uma aprovação tão baixa. Seu governo teve que lidar com muitos problemas, mas analistas culpam também seu estilo de comunicação e os conflitos na coalizão.

Scholz em um ato, cercado de pessoas e olhando para cima
Scholz em um ato contra o extremismo de direita em 14 de janeiro, em PotsdamFoto: Sebastian Gollnow/dpa/picture alliance

"Vejam, ali está o nosso chanceler, Olaf Scholz", diz uma mulher entusiasmada, empurrando dois meninos de cerca de 10 anos à frente de fotojornalistas.

"O homem baixinho e careca?", pergunta um deles, espiando por cima da fita de isolamento na direção de dois homens e uma mulher a alguns metros de distância, ao lado de um veículo agrícola, que falam sobre a colheita de morangos totalmente automatizada, durante uma feira agrícola em Berlim.

A distância física tinha algo de simbólico. Por meses, muitos cidadãos têm tido a sensação de que seu chanceler não está lá, que sua presença mal é notada. Desde dezembro de 2021, Scholz comanda um governo de coalizão de três partidos, incluindo seus social-democratas (SPD), verdes e liberais (FDP). Não tem sido fácil.

Nunca antes um governo alemão teve que lidar com tantos problemas. A começar pela guerra russa contra a Ucrânia, que tornou a energia escassa e cara e provocou inflação. O Estado interveio com ajuda financeira, mas agora os cofres públicos estão vazios.

Os últimos a sentirem o aperto são os agricultores, que tiveram o subsídio ao combustível para equipamentos agrícolas cortado. Isso levou os agricultores com seus tratores às ruas, e muitos outros se juntaram aos protestos. Autônomos reclamaram de custos altos e excesso de burocracia. Maquinistas de trens entraram em greve porque querem ganhar mais e trabalhar menos.

Alemanha vem registrando uma série de protestos, como este ato de agricultores em BerlimFoto: Christophe Gateau/dpa/picture alliance

Estradas, pontes e ferrovias precisam ser reformadas, e a Alemanha está atrás de outros países na digitalização. No estudo internacional Pisa sobre desempenho educacional, os alunos alemães tiveram sua pior performance na série histórica.

E Scholz e seu governo, o que estão fazendo a respeito? Aos olhos do público, muito pouco.

Apenas um em cada cinco satisfeito com Scholz

O social-democratas, os verdes e os liberais já implementaram boa parte do que haviam proposto em seu acordo de coalizão. Mas também houve muitas brigas, especialmente entre os liberais e os verdes. Scholz costuma se abster desses conflitos, e é disso que as pessoas se lembram.

Em meados de janeiro, a DW falou com transeuntes nas ruas de Berlim. Quando perguntada sobre Scholz, uma mulher disse: "As pessoas não se sentem realmente ouvidas. Parece que todos os preços estão subindo muito. Há uma sensação de que não vale mais a pena viver na Alemanha."

Scholz durante uma visita a local afetado por enchente na Baixa Saxônia, em dezembro Foto: Alexander Koerner/Getty Images

De acordo com o instituto de pesquisa infratest-dimap, apenas 19% dos eleitores estão satisfeitos com Scholz. Nenhum chanceler federal alemão foi tão impopular desde que o instituto começou a fazer pesquisas em 1997.

"As pessoas precisam ser informadas de antemão que haverá muito o que enfrentar, e que as coisas não podem continuar assim", disse outra mulher à DW.

Mas é exatamente isso que Scholz não está fazendo. O chanceler só se manifesta quando acha necessário. Quando faz uma declaração pública, é sempre breve, sóbria e factual. Suas mensagens geralmente tentam apaziguar o público, assegurando-lhes que tudo ficará bem. Mas isso não tem sido convincente.

É evidente que há problemas sérios, disse Marcel Fratzscher, presidente do Instituto Alemão de Pesquisa Econômica (DIW) em Berlim, à DW. Olaf Scholz deve deixar isso claro.

"Ele deve falar de forma honesta e aberta sobre o que o governo pode e o que não pode realizar. Ele deve apresentar uma visão e também mostrar humildade. Acima de tudo, é preciso falar com a população, ganhar sua confiança, inclusive a dos empresários."

Mediador ou líder? 

É preciso mais humildade e melhorar o gerenciamento das expectativas. Não é que Scholz esteja inativo, observando as muitas crises do país a partir de sua sala. De acordo com o gabinete da Chancelaria, em comparação com sua antecessora, Angela Merkel, Scholz tem feito um esforço maior para se conectar diretamente com os cidadãos.

Mas isso envolve principalmente encontros direcionados e controlados, seja participando da semana agrícola em Berlim, recebendo líderes empresariais na Chancelaria ou visitando um hospital ou uma empresa.

As visitas do chanceler no final de dezembro e início de janeiro a áreas devastadas por enchentes e ao jogo da equipe alemã de handebol no Campeonato Europeu mostraram o que pode acontecer quando ele se encontra com cidadão. Olaf Scholz foi insultado, vaiado e ridicularizado.

O popular ministro da Defesa, Boris Pistorious, vem despontando como possível candidato dos social-democratas em 2025Foto: Political Moments/IMAGO

As políticas do chanceler federal não estão chegando à população, disse à DW Ursula Münch, diretora da Academia de Educação Política em Tutzing, na Baviera. "Muita visibilidade não equivale a muito impacto. Especialmente para um chanceler que as pessoas receiam ser não tão assertivo e presente como ele afirmou que seria."

Münch refere-se a algo que Scholz disse uma vez: "Quem me pedir liderança, a terá." Aos olhos do público, um chanceler federal deve ser capaz de liderar. Mas na coalizão que governa a Alemanha, ele se vê mais como um moderador do que como um chefe.

Aos olhos de seus críticos, o chanceler também carece de liderança no cenário internacional. Na semana passada, ele não compareceu ao Fórum Econômico Mundial de Davos, sem dar explicações.

Não é de se admirar que o ressentimento também esteja crescendo no próprio partido de Scholz, o SPD. A revista Der Spiegel noticiou sobre reuniões secretas para discutir planos para que o popular ministro da Defesa, Boris Pistorius, concorra pela legenda nas próximas eleições em 2025, em vez de Scholz. O que o chanceler tem a dizer sobre esses rumores? Nenhum comentário.

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