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OMS adverte para risco de pandemia de coronavírus

9 de março de 2020

Organização, no entanto, afirma que surtos ainda podem ser controlados. Israel e Arábia Saudita restringem entrada de passageiros. Prisioneiros na Itália se amotinam após governo suspender visitas para conter propagação.

Posto de controle em uma estrada na República Tcheca
Posto de controle em uma estrada na República Tcheca Foto: picture-alliance/dpa/A. Weigel

O coronavírus está mais perto de causar uma pandemia, mas os surtos em países ainda podem ser controlados por meio de uma combinação de medidas de contenção e mitigação, declarou a Organização Mundial da Saúde (OMS) nesta segunda-feira (09/03).

"Quando chega a 100 países e 100 mil casos, é o momento de parar e pensar. Duas semanas atrás eram 30, 40 países, agora são 100. Não é uma questão de quantidade, mas de qualitativa, do caminho que estamos tomando. Nós estamos muito perto [da pandemia], porque a partir desse ponto muitos outros países vão ser afetados e o vírus estará em todo lugar", disse Michael Ryan, chefe do departamento de emergência da OMS em Genebra.

Ryan ainda afirmou que a pandemia é declarada quando uma doença já se espalhou em demasia por vários países e não pode mais ser contida. Ele explicou que, diante desse quadro, a OMS não está evitando a palavra, mas que teme a reação que uma eventual declaração nesse sentido possa provocar.

"A palavra é importante. Porque em muitas situações a palavra faz com que países se movam meramente para uma abordagem de mitigação. E o que sabemos é que ir para uma condição de mitigação é essencialmente falar que a doença vai se espalhar de forma incontida."

Mesmo diante desse quadro, a OMS avaliou que, ao contrário da gripe, ainda é possível controlar a situação. "Seria a primeira pandemia na história que poderia ser controlada. O ponto principal é não estamos à mercê deste vírus", declarou Tedros Adhanom Ghebreyesus, diretor-geral da OMS. Ele assinalou que quatro países representam 93% dos quase 110.000 casos em todo o mundo. "Estamos encorajados pela Itália estar tomando medidas agressivas para conter sua epidemia e esperamos que essas medidas se mostrem eficazes nos próximos dias", acrescentou.

Israel e Arábia Saudita reforçam controle

Ainda nesta segunda-feira, o governo Israel anunciou que vai impor uma quarentena de 14 dias para qualquer pessoa que chegar do exterior como precaução contra a propagação do coronavírus. A medida vale tanto para cidadãos do país quanto para estrangeiros.

"Qualquer pessoa que chegue a Israel do exterior entrará em um isolamento de 14 dias", disse o primeiro-ministro, Benjamin Netanyahu. "Esta é uma decisão difícil. Mas é essencial para salvaguarda da saúde pública, e a saúde pública vem em primeiro lugar."

Membros do governo disseram que a ordem entrou em vigor imediatamente para os israelenses que retornam ao país. A partir de quinta-feira, qualquer não israelense que pretenda entrar no país vai ter que provar possuir os meios de ficar em quarentena.

A mídia israelense apontou que a medida pode colocar em isolamente cerca de 300 mil cidadãos em um país que tem 9 milhões de habitantes. Segundo o Ministério da Saúde, Israel tem atualmente 42 casos confirmados da covid-19.

Israel já havia ordenado que cidadãos que retornassem de vários países europeus e asiáticos ficassem 14 dias de quarentena em casa. Agora, a medida se aplica a qualquer pessoa que chegar do exterior.

Já a Arábia Saudita proibiu temporariamente a entrada de cidadãos e visitantes de 14 países para conter a doença. A medida afeta Emirados Árabes Unidos, Kuwait, Bahrein, Líbano, Síria, Egito, Iraque, Omã, Itália, Coréia do Sul, França, Alemanha, Turquia e Espanha. Pessoas provenientes desses países ou qualquer pessoa que os tenha visitado nos últimos 14 dias serão temporariamente proibidas de entrar no reino.

A companhia aérea Etihad, que opera 12 voos diariamente para a Arábia Saudita, disse que três voos já estavam no ar quando o anúncio foi feito. Os aviões pousaram em Dammam, Jidá e Riad. Apenas cidadãos sauditas puderam desembarcar. Estrangeiros tiveram que retornar a Abu Dhabi.

O país ainda anunciou que aplicará uma multa de até meio milhão de riyals (mais de 600 mil reais) àqueles que não divulgarem as informações corretas relacionadas à saúde nos pontos de entrada do país.

Reação na Europa

Os novos casos de coronavírus na Europa têm levado governos locais a suspender eventos públicos e reforçar o controle. O governo irlandês anunciou nesta segunda-feira o cancelamento de todos os desfiles do dia de São Patrício para evitar a disseminação da doença.

Os atos que celebram o santo padroeiro do país atraem regularmente centenas de milhares de pessoas, em especial na capital Dublin, e são realizados em 17 de março. No ano passado, cerca de 500 mil pessoas participaram do evento na capital. Atualmente, a Irlanda tem 24 casos confirmados, segundo dados do departamento de saúde.

Já o governo da Itália anunciou no domingo uma série de medidas drásticas para conter o avanço do coronavírus, como um decreto que colocou em quarentena a maior parte do norte do país, impondo restrições ao deslocamento de pelo menos 16 milhões de pessoas.

A medida representou o esforço mais abrangente fora da China para conter o avanço da doença. A Itália é o terceiro país mais afetado pelo surto, depois da China e da Coreia do Sul. O governo italiano já registrou mais de 9 mil infecções e 463 mortes – 97 foram registradas apenas nesta segunda-feira.

Além de isolar o norte do país, o governo ainda ordenou o fechamento de cinemas, museus, teatros e piscinas públicas em todo o território italiano. O fechamento desses locais, assim como a quarentena no norte, deve valer até pelo menos 3 de abril.

As medidas têm provocado reações extremas e até mesmo violentas. Pelo menos seis presidiários morreram em cadeias italianas após o anúncio da quarentena. Prisioneiros protestaram em pelo menos 23 prisões em todo o país após serem informados sobre uma suspensão de visitas de parentes às prisões. Em alguns casos, os presos chegaram a manter guardas como reféns.

Na prisão de San Vittore, em Milão, detentos atearam fogo em um bloco de celas e depois subiram no telhado. Num presídio na cidade de Foggia, no sul, cerca de 20 detentos conseguiram fugir durante o motim. A maior parte foi rapidamente recapturada.

Já a Espanha anunciou que todas as escolas em Madri serão fechadas pelos próximos 14 dias.  Na França, o ministro da Cultura do país, Franck Riester, testou positivo para o novo coronavírus. Sua pasta disse que ele está "bem". Riester havia visitado recentemente o parlamento francês, onde cinco casos foram confirmados anteriormente, levando-o a fazer um teste.

Nos EUA, autoridades sanitárias pediram nesta segunda-feira aos americanos que correm um risco maior de desenvolver doenças graves se contraírem o novo coronavírus, como idosos e portadores de doenças crônicas, que comprem alimentos e remédios e se prepararem para permanecer em casa.

"Verifique se tem suprimentos à mão, como medicamentos de rotina para pressão arterial ou diabetes, além de medicamentos comuns e suprimentos médicos para tratar a febre e outros sintomas", disse Nancy Messonnier, do Centro de Controle e Prevenção de Doenças (CDC). "Tenha suprimentos suficientes para o lar e comida, para que estejam preparados para ficar em casa por um período de tempo", acrescentou.

JPS/dpa/afp/rt/ap

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