OMS alerta para escassez global de soro antiofídico
Nele Rößler md
24 de agosto de 2017
Cada vez menos empresas produzem antídotos contra venenos de cobras. Organização Mundial da Saúde inclui picada de cobras na lista de doenças tropicais esquecidas e testa novos preparados.
Serpente venenosa comum no Oriente Médio: cobras matam 100 mil por ano no mundoFoto: picture-alliance/WILDLIFE
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Mais de 100 mil pessoas morrem anualmente no mundo em consequência de picada de cobra, e o número de mortes pode aumentar. A Organização Mundial da Saúde (OMS) alerta para a escassez de soro antiofídico em nível mundial.
O problema é particularmente grande na África. Até 30 mil pessoas morrem por ano no continente após serem picadas por serpentes. A empresa farmacêutica francesa Sanofi Pasteur encerrou a produção do preparado Fav-Afrique em 2014, produto eficaz contra o veneno de muitas serpentes africanas, por combinar antídotos contra o veneno de várias cobras. Entre outros, o Fav-Afrique age contra o veneno de biútas, víboras, najas e mambas.
Cada veneno precisa de um antídoto específico, já que nem todos os antídotos ajudam com todos os gêneros de cobra. Quando uma taipan asiática ataca, apenas um antídoto feito a partir do veneno do mesmo gênero de cobra é eficaz. Por isso, o soro do veneno de cobras indianas tem pouco efeito na África.
"Em Gana, um produto indiano substituiu o francês em 2004, e a taxa de mortalidade por mordidas de cobra aumentou seis vezes", ressalta David Williams, conhecido como especialista em serpentes da série Snake Hunter.
"Na África subsaariana, em particular, há uma grande escassez de antídotos", diz Micha Nübling, da OMS. "Em muitos países, não há teste de qualidade para medicamentos", explica. Isso faz com que, por exemplo, alguns mercados da África sejam inundados há anos por antídotos pouco eficazes originários da Ásia. Com isso, as pessoas passaram a preferir recorrer a curandeiros a comprarem as drogas. Isso contribuiu para que o mercado quebrasse.
Soro antiofídico é feito de anticorpos produzidos em cavalos, a partir do próprio veneno da cobraFoto: Getty Images/AFP/A. Berry
Mesmo a Índia, que produz antídotos, tem problemas. "Muitos produtos são de qualidade duvidosa", diz Williams. Ao menos 50 mil pessoas morrem anualmente no país vítimas de cobras venenosas.
Testes em laboratório
A OMS incluiu a picada de cobras na lista de doenças tropicais esquecidas, visando aumentar a conscientização sobre o problema. Além disso, a OMS está trabalhando em diretrizes para a produção segura de antídotos efetivos e agora também está testando antídotos preparados para agir contra picadas de diversas cobras venenosas existentes na África.
"A primeira fase de testes de laboratório foi concluída. A próxima fase será de testes de eficácia em camundongos", informa Nübling. Assim que a OMS carimbar as substâncias com seu selo de qualidade, a produção deve começar. O selo de qualidade se destina a ajudar a superar o ceticismo entre a população, resultante de más experiências com outros medicamentos. “Mas ainda podem ser necessários até 12 meses para a produção começar”, frisa Nübling.
Para a produção em larga escala do soro antiofídico, o fabricante precisa de uma grande quantidade de cavalos. O soro é produzido após se colher o veneno das cobras, injetando-o, em pequenas doses, em cavalos, cujos organismos produzem anticorpos, que são posteriormente extraídos do sangue do animal.
Existem também algumas substâncias que começaram a ser produzidas com ajuda de vacas e ovelhas, cujos genes dos sistemas imunológicos animais foram trocados por genes humanos. O método já está sendo testado nos EUA, com resultados promissores. “Mas o novo método ainda não é uma alternativa para produção das grandes quantidades de soro antiofídico necessárias”, pondera Nübling.
MD/dpa/ots
Os dez animais que mais matam no mundo
Os tubarões estão entre os animais mais temidos pelos seres humanos, mas eles estão longe de serem os mais mortais. Você vai se surpreender com o efeito letal de algumas espécies.
Foto: AP
10. Tubarão branco
É claro que algumas espécies de lobos e tubarões podem nos matar, mas a frequência com que isso acontece é muito pequena: apenas dez pessoas morrem, por ano, por causa desses animais. Ou seja, a probabilidade de você morrer mexendo na torradeira, dentro da própria cozinha, é maior que a de ser mordido por um tubarão.
Foto: AP
9. Leões e elefantes
Que leões podem matar pessoas, todo mundo sabe. O surpreendente é que o número de mortos por leões, cerca de cem por ano, é quase o mesmo que o de mortos por elefantes! Os elefantes podem ser bastante agressivos, e, uma vez com raiva, têm força e tamanho suficientes para matar.
Foto: picture alliance / blickwinkel/D. u. M. Sheldon
8. Hipopótamo
Hipopótamos de brinquedo são muito populares. E por que não? Eles aparentam ser super fofos, com seus focinhos redondos e barrigas gordinhas. Mas, não se engane: os animais são bastante agressivos e podem atacar as pessoas mesmo sem nenhuma provocação! O número de mortos por ano chega a 500. Então, se você vir um hipopótamo pelo caminho, pode ser melhor mudar de rota.
Foto: picture-alliance/dpa-Zentralbild
7. Crocodilo
Muitas pessoas têm tanto medo de tubarões e de leões quanto de crocodilos – e com razão! Crocodilos são carnívoros e podem chegar a matar presas maiores que eles próprios, como pequenos hipopótamos, e, se viverem em água salgada, até mesmo tubarões! Cerca de mil pessoas morrem por ano ao serem atacadas pelos répteis.
Foto: Fotolia/amnachphoto
6. Vermes e lombrigas
Os platelmintos da classe Cestoda, também chamados de cestódeos, matam cerca de 2 mil pessoas por ano. A transmissão do parasita se dá pela ingestão de alimentos contaminados. O mesmo vale para as lombrigas (foto), que, por sua vez, matam 2,5 mil pessoas por ano e habitam o organismo de um bilhão de indivíduos.
Foto: CDC
5. Caramujos, barbeiros e moscas
Três animais dividem o 5º lugar, ainda que não sejam os causadores de mortes, mas sim os parasitas que eles transmitem. Cada uma das espécies provoca 10 mil mortes por ano. A esquistossomose é adquirida através do contato com água contaminada, e caramujos são os hospedeiros intermediários. Já as doenças de Chagas e do sono são transmitidas por insetos – barbeiro e moscas tsé-tsé, respectivamente.
Foto: picture-alliance/dpa
4. Cachorros
A raiva, doença infecciosa causada por um vírus, pode ser transmitida por inúmeros animais. Em locais onde a raiva é comum em cães, em 99% dos casos são eles que transmitem a doença às pessoas. Pode levar meses até que os sintomas fatais apareçam. A boa notícia é que existem vacinas contra a doença, que mata anualmente cerca de 25 mil pessoas.
Foto: picture-alliance/ZB/B. Wüstneck
3. Cobras
Por via das dúvidas, a melhor opção é passar bem longe das cobras. Algumas espécies não são venenosas, e outras não são capazes de matar, mas existe um número suficiente de cobras perigosas, que matam cerca de 50 mil pessoas por ano.
Foto: picture-alliance/dpa/blickwinkel/B. Trapp
2. Seres humanos
Sim, nós também estamos na lista. O ser humano é incrivelmente criativo quando se trata de matar outros de sua espécie. Triste, porém verdade: ocupamos o segundo lugar do ranking, matando 475 mil pessoas por ano.
Foto: picture-alliance/dpa
1. Mosquitos
Além de serem incômodos, os mosquitos podem levar à morte. Na verdade, não é exatamente o inseto que mata, e sim as doenças disseminadas por ele. A malária é a mais letal, e há ainda a dengue, a febre amarela e a encefalite. Os mosquitos são responsáveis pela morte de 725 mil pessoas por ano.