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OMS avalia declarar varíola dos macacos "emergência global"

14 de junho de 2022

Organização Mundial da Saúde afirma que vírus se comporta de maneira anormal. Mais de 1,6 mil casos já foram confirmados em 39 países. Mudança no nome da doença também será discutida.

Foto de microscópio mostra o vírus
O atual surto é o primeiro a surgir em vários lugares ao mesmo tempo e a não estar associado a viagens para a África.Foto: Cynthia S. Goldsmith/Russell Regner/CDC/AP/dpa/picture alliance

A Organização Mundial da Saúde (OMS) avalia se vai declarar a disseminação de casos de varíola dos macacos uma emergência de saúde global. O diretor-chefe da OMS, Tedros Adhanom Ghebreyesus, anunciou nesta terça-feira (14/06) que convocou o comitê de emergência da entidade para uma reunião em 23 de junho para debater o crescente número de infecções em todo o mundo. 

A declaração de emergência internacional é o mais alto nível de alerta que a OMS pode impor. A medida não tem consequências práticas diretas e é declarada no caso de um problema de saúde "grave, repentino, incomum e inesperado" que pode se espalhar para outros países.

A OMS declarou emergência de saúde global devido a covid-19 em janeiro de 2020. Esse alerta ainda permanece em vigor.

Até agora, mais de 1,6 mil casos de varíola dos macacos e quase 1,5 mil infecções suspeitas foram relatados à OMS em 39 países, dos quais 32 não tinham casos da doença antes de maio.  

Nesses 32 países não houve mortes pela doença – ao contrário de países onde a varíola dos macacos é endêmica, como Nigéria e República Democrática do Congo. Em países africanos, que já conviviam com a doença antes do atual surto, foram relatados oficialmente 72 óbitos. Além disso, a OMS investiga se uma morte no Brasil estaria relacionada à varíola dos macacos, informou Ghebreyesus.

A OMS também considera mudar o nome da doença. Dezenas de cientistas pedem uma denominação "não discriminatória" e "não estigmatizante".

Comportamento "anormal”

O diretor-chefe da OMS disse que a entidade está analisando decretar a emergência global, pois o vírus está se comportando de maneira "anormal" e em vários países, o que pode exigir uma coordenação internacional para lidar com a situação.

O diretor de emergências da OMS para a África, Ibrahima Socé Fall, disse que a contagem de casos está crescendo a cada dia e as autoridades de saúde enfrentam "muitas lacunas em termos de conhecimento da dinâmica da transmissão" tanto na África quanto em outros países.

Segundo ele, o comitê de emergência da OMS reúne especialistas que estão particularmente familiarizados com a doença e que, portanto, podem aconselhar melhor a organização sobre quais medidas tomar.

"Com o conselho do comitê de emergência, podemos estar em melhor posição para controlar a situação. Mas isso não significa que estamos indo direto para uma emergência de saúde pública de interesse internacional'', destacou. "Nós não queremos esperar até que a situação esteja fora de controle para começar a agir", acrescentou.

A varíola dos macacos em geral causa sintomas como febre, dor de cabeça, dor muscular e erupção cutâneaFoto: Brian W.J. Mahy/CDC/REUTERS

A especialista da OMS Rosamund Lewis disse que a organização já forneceu aos países membros várias orientações técnicas.  "O mais importante é criar consciência para que as pessoas possam avaliar seu próprio risco", destacou.

Por enquanto, para combater a disseminação global, a OMS recomenda "ferramentas comprovadas de saúde pública, como vigilância, rastreamento de contatos e isolamento de infectados".

Neste momento, a organização não aconselha uma vacinação em massa. A decisão de administrar imunizantes "deve ser tomada caso a caso, com base em uma avaliação de risco-benefício", orienta a OMS.

Situação no Brasil

O Brasil tem três casos confirmados de varíola dos macacos. No domingo, um homem de 51 anos, de Porto Alegre, no Rio Grande do Sul, apresentou sintomas da doença após chegar de Portugal, onde reside.

Em nota, o Ministério da Saúde informou que ele foi colocado em isolamento domiciliar, apresentava quadro estável, sem maiores complicações, e era monitorado pelas secretarias de Saúde do estado e do município.

Outros dois casos já haviam sido confirmados em São Paulo, e pelo menos outros seis pacientes seguem em observação, suspeitos de terem contraído a doença.

UE adquire 110 mil doses de vacina

Também nesta terça-feira, a Comissão Europeia informou que fechou um acordo para a compra de cerca de 110 mil doses vacinais contra a varíola dos macacos. A produção será feita pela empresa dinamarquesa de biotecnologia Bavarian Nordic.

De acordo com a comissária de Saúde do bloco europeu, Stella Kyriakides, a encomenda será adquirida por meio de fundos da União Europeia (UE) e deve começar a ser entregue aos Estados-membros a partir do final de junho – Noruega e Islândia, que não fazem parte do bloco, também receberão doses.

Na Alemanha, o Ministério da Saúde espera a entrega de uma vacina contra a varíola que pode ser usada também contra a varíola dos macacos já nesta quarta-feira.

Segundo o Instituto Robert Koch (RKI), agência governamental para o controle e prevenção de doenças, há 229 casos na Alemanha, sendo 142 deles em Berlim, nenhum em mulheres e crianças.

O RKI considera baixo o risco para a saúde da população em geral na Alemanha. Embora existam transmissões isoladas, "o surto tende a não desenvolver um número exponencialmente crescente de casos", disse Timo Ulrichs, especialista em saúde global da Universidade de Ciências Humanas de Akkon, em Berlim.

Na Alemanha, o primeiro paciente infectado pela varíola dos macacos foi um brasileiro de 26 anos que havia desembarcado no país após viagem com origem em Portugal e passagem pela Espanha. O caso foi confirmado pelas autoridades alemãs em 20 de maio.

O país considera iniciar a vacinação preventiva principalmente a quem integra algum grupo de risco. Isso inclui homens que não têm parceiros fixos do sexo masculino e também funcionários de laboratórios especializados que trabalham com amostras infecciosas que contenham o vírus.

A varíola dos macacos em geral causa sintomas leves, como febre, dor de cabeça, dor muscular e erupção cutânea, e é endêmica em partes da África. Entretanto, a doença também pode evoluir para casos graves e causar a morte. O atual surto é o primeiro a surgir em vários lugares ao mesmo tempo e a não estar associado a viagens para a África.

le/cn (DPA, AP, AFP, ots)

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