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OMS: "Contágio de coronavírus por assintomáticos preocupa"

27 de fevereiro de 2020

Agência da ONU diz ser importante descobrir como doença se espalhado por quem não tem sintomas. Estudo indica que triagens em passageiros podem deixar de detectar até dois terços dos infectados com Covid-19.

Pessoa de macacão protetor branco e máscara encosta dispositivo na testa de homem com máscara de respiração
Controle de passageiros pode estar deixando de registrar maior parte dos portadores do vírus, diz estudoFoto: picture-alliance/AP Photo/A. Khalil

O porta-voz da Organização Mundial da Saúde (OMS), Christian Lindmeier, disse nesta quinta-feira (27/02) à DW News que a grande maioria das infecções por coronavírus é transmitida por pessoas com sintomas, e é importante descobrir como o novo coronavírus tem sido disseminado por assintomáticos.

"Ainda precisamos entender mais sobre como os possivelmente assintomáticos estão transportando o vírus e infectando pessoas em outros países, sem que haja um vínculo direto à origem", afirmou Lindmeier. "Esses testes, olhando para a história dos viajantes, da infecção, estão em andamento. Porque precisamos entender como essas infecções são possíveis, como elas ocorrem."

"Existe um potencial muito alto para atingir níveis de pandemia. Mas não vamos cometer um erro aqui. Os esforços de resposta não estão relacionados ao fato de chamarmos isso de pandemia ou não", ressaltou o profissional.

Um estudo realizado por pesquisadores dos Estados Unidos e do Reino Unido publicado na revista eLife indica que pode haver falhas nos esforços globais de rastreamento para impedir a rápida disseminação do vírus. O estudo alerta que mesmo as melhores triagens realizadas em passageiros de viagens aéreas podem deixar de detectar mais da metade dos infectados.

Os pesquisadores usaram modelos de computador para prever o impacto da triagem, com base nos dados mais recentes de como o coronavírus se comporta e quanto tempo leva até que os sintomas se manifestem.

Com base em trabalho semelhante em 2015, eles descobriram que muitos casos seriam inevitavelmente perdidos, pedindo que seja repensada a maneira como os governos fazem a triagem de passageiros.

"Se alguém não percebe que foi exposto e ainda não apresenta sintomas, então é fundamentalmente indetectável", disse à agência AFP Katelyn Gostic, pesquisadora de pós-doutorado da Universidade de Chicago e principal autora do estudo. "Estimamos que, em média, a triagem deixe de detectar cerca de dois terços dos viajantes infectados." Gostic enfatizou que essas falhas não são resultado de erro humano, mas um subproduto inevitável de como o vírus se comporta.

A OMS diz que o período típico de incubação – tempo entre a contração do vírus e a manifestação dos sintomas – é de 10 a 14 dias. Isso significa que pacientes podem ser contagiosos sem saber, tornando, em grande parte, inúteis os testes de temperatura em busca de febre e mesmo o relato do paciente sobre uma suposta exposição.

Na triagem, os viajantes se enquadram em uma de quatro categorias: sintomático, mas inconsciente da exposição; consciente, mas assintomático; sintomático e consciente; e nem sintomático nem consciente.

Mesmo assumindo um cenário mais optimista, em que apenas um em cada 20 passageiros está infectado, mas não apresenta sintomas, os modelos previram que 53% dos casos seriam perdidos. "Parcelas substanciais dos casos positivos em quarentena não apresentaram sintomas detectáveis no momento do diagnóstico", disse Gostic.

"Alguns deles podem ser casos subclínicos verdadeiros. Outros provavelmente desenvolverão sintomas em alguns dias. De qualquer maneira, essas histórias ilustram a dificuldade da triagem, em que o objetivo é detectar casos o mais cedo possível, mas quando as pessoas simplesmente não mostram sintomas detectáveis no início do curso da infecção."

O Centro Europeu de Prevenção e Controle de Doenças (ECDC, na sigla em inglês), sediado em Estocolmo, descartou nesta quinta-feira um eventual controle de fronteiras na União Europeia (UE) devido ao novo coronavírus, afirmando que a medida "não é eficaz nem recomendável".

"Essa medida não está sendo considerada porque, por um lado, não a consideramos efetiva e, por outro, por contrariar os princípios da UE, como a [livre] circulação e o intercâmbio entre países", afirmou, em entrevista à agência Lusa, Josep Jansa, especialista-chefe do ECDC em operações de emergência e resposta.

Jansa reconheceu que houve nos últimos dias uma mudança na forma como os casos de contágio se alastram pela Europa. Se inicialmente "a maioria de casos tinha relação com alguém" que estivera nas zonas mais afetadas, como China, Coreia do Sul, Irã, Japão e Cingapura, hoje eles já começam a surgir no espaço da União Europeia, sem aparente ligação com países de fora do continente.

MD/dw/afp

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