OMS critica falta de cuidados na final da Eurocopa
12 de julho de 2021
Apesar das garantias da Uefa e do governo britânico, cientistas temem que evento possa ter agido como “super disseminador” do coronavírus, não somente em Wembley, mas também em bares, trens, ônibus e residências.
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A Organização Mundial da Saúde (OMS) expressou preocupações com o aumento das transmissões de covid-19 devido à presença de público na final da Eurocopa neste domingo (11/07) em Londres, além da falta de cuidados por parte dos torcedores.
O Reino Unido enfrenta uma nova onda de covid-19 impulsionada pela variante delta do coronavírus, mais contagiosa do que a cepa original, e tem atualmente uma nas taxas de transmissão mais altas do mundo.
O governo britânico planeja remover a maioria das restrições impostas para conter a disseminação da doença no dia 19 de julho, o que gera preocupações em um grande número de cientistas. A OMS, normalmente, evita comentar políticas de combate a pandemia de seus Estados-membros, mas, dessa vez, o caso britânico gerou uma exceção.
A principal autoridade técnica da OMS para covid-19, Maria Van Kerkhove, afirmou que a presença de mais de 60 mil espectadores na fina da Eurocopa neste domingo foi algo devastador.
"Devo me sentir entretida por ver as transmissões ocorrendo bem na minha frente?”, afirmou através do Twitter, nos minutos finais da partida entre Inglaterra e Itália.
"A covid-19 não está de folga hoje. O Sars-Cov-2 e a variante delta se aproveitarão das pessoas não vacinadas em ambientes lotados, sem máscaras, com gritos, berros e cânticos. Devastador”.
O dia festivo na capital britânica, impulsionado pelo álcool, foi repleto de brigas e vandalismo enquanto milhares de pessoas se dirigiam ao estádio. Até rojões foram disparados dentro de estações de trem.
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Acordo entre Uefa e governo britânico
Em junho, o governo britânico e a União das Federações Europeias de Futebol (Uefa) fecharam um acordo para que o estádio de Wembley pudesse acolher até 75% de sua capacidade em três jogos em julho da Eurocopa, incluindo a final, como parte do chamado Programa de Pesquisa em Eventos (ERP, na sigla em inglês).
Projetado como um esquema piloto para avaliar a segurança de eventos de massa durante a pandemia e o efeito das possíveis transmissões, o ERP se baseia em exigir dos espectadores a apresentação de resultados negativos de testes rápidos de covid-19.
Entretanto, os testes Innova utilizados pelas autoridades no Reino Unido são considerados pouco confiáveis para apontar resultados positivos quando a pessoa infectada possui uma carga viral baixa, o que ocorre nos primeiros dias após a infecção. Pior ainda quando não são realizados por profissionais de saúde.
O primeiro-ministro britânico, Boris Johnson, defendeu neste mês a decisão de permitir que mais de 60 mil torcedores fossem à final, ao afirmar que o evento ocorreria de maneira "calma e controlada”, com todos os espectadores sendo testados para covid-19. Ele acrescentou que as vacinas contra a doença servem como um "muro considerável de imunidade.”
A OMS, porém, já vinha alertando que eventos com multidões poderiam impulsionar um aumento de casos, e que as reuniões de grandes massas podem agir como "amplificadores” desse aumento.
O comitê de Saúde Pública do Parlamento Europeu considerou a decisão de permitir a presença de mais de 60 mil pessoas em Wembley como "receita para um desastre”, sendo que centenas de novos casos da doença já estavam sendo associados ao evento.
Isso inclui os quase 2,3 mil torcedores da Escócia que viajaram para Londres para assistir o jogo de sua seleção contra a Inglaterra, em 18 de junho, além de cerca de trezentos finlandeses que retornavam de São Petersburgo, na Rússia, e de uma série de infecções registradas em Copenhagen.
Situação pior nos bares, trens e ônibus
A professora de engenharia ambiental para edifícios da Universidade de Leeds, Catherine Noakes, disse que, apesar de uma multidão gritando e cantando durante um partida não ser realmente algo ideal, a situação é ainda pior nos bares, ônibus, trens, e até em residências, onde milhões de pessoas se reúnem para fazer as mesmas coisas.
Em todo o mundo, os índices de infecção continuam aumentando. Na semana passada foram mais de 2,6 milhões de novos casos. Somente a Europa experimenta uma alta de 30% nas infecções, segundo a mais recente atualização epidemiológica da OMS.
Mais de 4 milhões de pessoas perderam suas vidas desde o início da pandemia. O diretor de emergências da OMS, Michael Ryan, pediu aos países que ajam com cautela máxima ao aliviar as restrições, de modo a "não perder as conquistas que obtiveram”.
rc (Reuters)
As variantes do novo coronavírus
Para evitar a estigmatização e a discriminação dos países onde as variantes do Sars-Cov-2 foram detectadas pela primeira vez, a OMS padronizou seus nomes conforme letras do alfabeto grego.
Foto: Sascha Steinach/ZB/picture alliance
Várias denominações para uma cepa
A Organização Mundial da Saúde (OMS) definiu que as novas variantes do coronavírus passam a ser chamadas por letras do alfabeto grego e não devem mais ser identificadas pelo local onde foram detectadas pela primeira vez. Cientistas criticavam ainda que estavam sendo usados vários nomes para a cepa descoberta na África do Sul, como B.1.351, 501Y.V2 e 20H/501Y.V2.
Foto: Christian Ohde/CHROMORANGE/picture alliance
Nomes científicos continuam válidos
A OMS pediu que os países e a imprensa passem a adotar a nova nomenclatura das variantes e evitem associar novas cepas aos locais de origem. A organização acrescentou, porém, que as novas denominações não substituem os nomes científicos, que devem continuar sendo usados em trabalhos acadêmicos.
Foto: Reuters/D. Balibouse
Variante alfa
A variante B.1.1.7 foi detectada em setembro de 2020 no Reino Unido e se espalhou pelo mundo. Segundo um estudo publicado em março na "Nature", há evidências de que a variante alfa seja 61% mais mortal do que o vírus original. Entre homens com mais de 85 anos, o risco de morte aumenta de 17% para 25%. Para mulheres da mesma faixa etária, de 13% para 19%, nos 28 dias posteriores à infecção.
Foto: Christian Ohde/imago images
Variante beta
Pesquisadores identificaram a variante B.1.351 em dezembro de 2020 na África do Sul. A cepa atinge pacientes mais jovens e é associada a casos mais graves da doença. Os cientistas sequenciaram centenas de amostras de todo o país desde o início da pandemia e observaram uma mudança no panorama epidemiológico, "principalmente com pacientes mais jovens, que desenvolvem formas graves da doença".
Foto: Christian Ohde/imago images
Variante gama
A variante P.1 foi detectada pela primeira vez em 10 de janeiro de 2021 pelo Japão em passageiros vindos de Manaus. Originária do Amazonas, ela se espalhou pelo Brasil e outros países vizinhos. A cepa possui 17 mutações, três das quais estão na proteína spike. São provavelmente essas últimas que fazem com que o vírus possa penetrar mais facilmente nas células para então se multiplicar.
Foto: Christian Ohde/imago images
Variante delta
A variante B.1.617, detectada em outubro de 2020 na Índia, causa sintomas diferentes dos provocados por outras cepas, é significativamente mais contagiosa e aparentemente aumenta o risco de hospitalização, segundo sugeriram estudos. "O vírus se adapta de forma inteligente. Muitos doentes recebem resultados negativos nos testes, mas desenvolvem sintomas graves", explicou um médico de Nova Déli.
Foto: Christian Ohde/imago images
Variante ômicron
A nova variante B.1.1.529, batizada de ômicron pela Organização Mundial da Saúde, foi descoberta em 11 de novembro de 2021 em Botsuana, que faz fronteira com a África do Sul, onde a cepa também foi encontrada. A ômicron contém 32 mutações na chamada proteína "spike" (S), número considerado extremamente alto. Cientistas avaliam que essa variante se dissemina mais rapidamente do que as anteriores.
Foto: Andre M. Chang/Zuma/picture alliance
A busca pela padronização
O novo padrão foi escolhido após "uma ampla consulta e revisão de muitos sistemas de nomenclatura", afirma a OMS. O processo durou meses e entre as sugestões de padronização estavam nomes de deuses gregos, de religiões, de plantas ou simplesmente VOC1, VOC2, e assim por diante.
Foto: Ohde/Bildagentur-online/picture alliance
Nomes e apelidos polêmicos
Desde o início da pandemia, os nomes utilizados para descrever o Sars-Cov-2 têm provocado polêmica. O ex-presidente americano Donald Trump costumava chamar o novo coronavírus de "vírus da China", como forma de tentar culpar o país asiático pela pandemia. O vírus foi detectado pela primeira vez na cidade chinesa de Wuhan.
Foto: picture-alliance/AA/A. Hosbas
Novas cepas podem ser mais perigosas
Mutações em vírus são comuns, mas a maioria delas não afeta a capacidade de transmissão ou de causar manifestações graves de doenças. No entanto, algumas mutações, como as presentes nas variantes do coronavírus originárias do Reino Unido, da África do Sul e do Brasil, podem torná-lo mais contagioso.
Foto: DesignIt/Zoonar/picture alliance
Associação ao local de origem
Historicamente, vírus novos costumam ganhar nomes associados ao local de descoberta, como o ebola, que leva o nome de um rio congolês. No entanto, esse padrão pode ser impreciso, como é o caso da gripe espanhola de 1918. As origens desse vírus são desconhecidas, mas acredita-se que os primeiros casos tenham surgido no estado do Kansas, nos Estados Unidos.
Foto: picture-alliance/National Museum of Health and Medicine