OMS diz que não há certeza sobre imunidade após coronavírus
18 de abril de 2020
Organização Mundial da Saúde afirma que não é possível garantir que presença de anticorpos contra Sars-Cov-2 fornece proteção para evitar novas infecções. Dúvida coloca em xeque estratégia de imunidade de grupo.
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Nesta semana, os relatos da Coreia do Sul de que pacientes que eram considerados curados do novo coronavírus (Sars-Cov-2) testaram novamente positivo reacenderam a dúvida sobre a imunidade de infectados que se curam da covid-19. A Organização Mundial da Saúde reconheceu nesta sexta-feira (17/04) que ainda não há uma resposta clara para essa questão.
Segundo a OMS, não é possível dizer com certeza que a presença de anticorpos contra o novo coronavírus fornece uma proteção completa contra uma segunda infecção. "Nós não sabemos", disse o diretor-executivo do programa de emergências da organização, Mike Ryan. "Esperamos que essa proteção ocorra por um período razoável, mas só podemos tirar conclusões do conhecimento sobre outros vírus deste tipo, e mesmo com ele nossos dados são limitados".
Para a Síndrome Respiratória Aguda Grave (Sars), causada por um tipo similar de coronavírus, que surgiu em 2003, pesquisadores descobriram que pacientes curados permanecem protegidos de uma nova infecção por cerca de três anos, em média.
Apesar da falta de certeza, os casos registrados na Coreia do Sul não compravam necessariamente uma nova infecção. Pesquisadores afirmam que há outras explicações para esse ressurgimento do vírus. A mais provável é que o novo coronavírus não tenha desaparecido completamente do organismo do paciente e permanece dormente, como em infeções crônicas como a herpes. Outra possibilidade é que os testes tenham resultado em "falsos negativos".
Segundo Maria Van Kerhove, líder técnica do programa de emergências da OMS, é preciso entender melhor no momento como funciona a resposta do anticorpo em termos de imunidade. Esse compreendimento é fundamental para o desenvolvimento de políticas de resposta à pandemia.
"Estamos na fase de perguntar se alguém que superou a covid-19 está realmente protegido", afirmou o presidente do conselho consultivo científico da França, Jean-François Delfraissy.
Essa dúvida coloca em xeque a estratégia de imunidade de grupo, quando parte da população é exposta a determinado tipo de vírus, criando assim uma ampla imunidade que dificulta a propagação do agente patogênico. Desta maneira, o vírus tenderia a desaparecer sozinho. Especialistas argumentam que, no momento, a única solução real para a pandemia seria uma vacina.
Vírus por toda parte! Talvez no tomate, no pacote do correio, até no próprio cão de estimação? O Departamento de Avaliação de Risco da Alemanha esclarece o que se sabe sobre o Sars-Cov-2.
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Maçanetas contaminadas
Os coronavírus conhecidos permanecem infecciosos em superfícies como maçanetas por quatro a cinco dias, em média. Como todas as infecções por gotículas, o Sars-Cov-2 se propaga por mãos e superfícies tocadas com frequência. Embora seja ainda relativamente desconhecido, os especialistas partem do princípio que os conhecimentos sobre as variedades já estudadas se aplicam ao novo coronavírus.
Por isso é necessário certo cuidado durante o almoço no refeitório do trabalho – se ainda estiver funcionando. Em princípio, coronavírus contaminam pratos ou talheres se alguém infectado espirra ou tosse diretamente neles. No entanto, o Departamento Federal alemão de Avaliação de Riscos (BfR) enfatiza que "até agora não se sabe de infecções com o Sars-Cov-2 por esse meio de transmissão".
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Medo de importados?
Ainda segundo o BfR, os pais não precisam temer um contágio através de brinquedos importados. Até o momento não pôde ser comprovado nenhum caso desses. Os estudos sugerem que o novo coronavírus seja relativamente instável em termos ambientais: os patógenos permaneceriam infecciosos durante vários dias sobretudo a temperaturas baixas e alta umidade atmosférica.
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Vírus pelo correio?
Em geral, coronavírus humanos não são especialmente resistentes sobre superfícies secas. Como sua estabilidade fora do organismo humano depende de diversos fatores ambientais, como temperatura e umidade, o BfR considera "antes improvável" um contágio por pacotes de correio – embora ressalvando ainda não haver dados mais precisos sobre o Sars-Cov-2.
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Pingue-pongue entre cão e dono?
Meu cachorro pode me contagiar e eu a ele? Também o risco de contaminação de animais domésticos é considerado muito baixo pelos especialistas, embora não o descartem. Os próprios animais não apresentam sintomas patológicos. Caso infectados, contudo, é possível transmitirem o coronavírus pelas vias respiratórias ou excreções.
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Verduras assassinas?
Igualmente improvável é a transmissão do Sars-Cov-2 através de alimentos contaminados, na avaliação do BfR, não sendo conhecidos casos comprovados. Lavar cuidadosamente as mãos antes do preparar da refeição continua sendo mandatório nos tempos da covid-19. Como os vírus são sensíveis ao calor, aquecer os alimentos pode reduzir ainda mais o risco de contágio.
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Longa vida no gelo
Embora os coronavírus Sars e Mers conhecidos até o presente reajam mal ao calor, eles são bastantes resistentes ao frio, permanecendo infecciosos a -20 ºC por até dois anos. Também aqui, contudo, não há qualquer indício de cadeias infecciosas do Sars-Cov-2 por meio do consumo de alimentos, mesmo supercongelados.
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Animais silvestres são tabu
Um efeito positivo do surto de covid-19 é a China ter proibido o consumo de carne de animais selvagens. Há fortes indícios de o novo coronavírus ter sido transmitido aos seres humanos por um morcego. O animal, porém, não teve qualquer culpa: ele foi possivelmente servido como iguaria, certamente contra a própria vontade. E agora os seres humanos amargam a "maldição do morcego que virou sopa"...