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OMS quer popularizar autotestes de HIV

30 de novembro de 2016

Projeto da Organização Mundial da Saúde tenta levar autotestes a população carente. Objetivo é disseminar métodos caseiros como forma de dar a pacientes de países pobres acesso mais fácil ao diagnóstico.

Lesotho Mobile Gesundheitsversorgung: Bluttests
Foto: picture-alliance/AP Photo/D. Farrell

Metas e objetivos podem ser positivos e negativos. As Nações Unidas têm alguns poucos para o caso da aids. Um deles é acabar com a epidemia de HIV até 2030. Não que o HIV seja erradicado, mas que a epidemia, como está em 2016, com 37 milhões de pessoas vivendo com o vírus, seja controlada.

Também existem as metas "90-90-90", mais imediatas para a ONU, visando que, até 2020, 90% de todos os infectados com HIV conheçam sua condição de soropositivos, 90% deles se tratem e que 90% dos que recebem terapia antirretroviral tenham supressão viral durável.

É um objetivo ambicioso. Dados de 2015 do Programa Conjunto das Nações Unidas sobre HIV/Aids (Unaids) sugerem que apenas 54% das pessoas vivendo com HIV conhecem sua situação.

Acesso a diagnóstico é problema

Até agora, um dos principais problemas tem sido o acesso a serviços médicos. Uma gama crescente de kits de autoteste de HIV, no entanto, está trazendo esperança renovada de que os objetivos 90-90-90 sejam alcançados.

Os kits possibilitam testes em áreas remotas. Mas, como a tecnologia ainda não testada, a Organização Mundial da Saúde (OMS) lançou novas diretrizes para sua popularização.

"Trabalhamos bem em maternidades, distribuímos a muitas mulheres nesses estabelecimentos. Em alguns países até 80% das mulheres já sabem sua condição de soropositivas", diz a médica Rachel Baggaley, que supervisiona o projeto de autoteste de HIV na OMS.

"No entanto e os homens e os integrantes das assim chamadas populações-chave – homens que fazem sexo com homens, profissionais do sexo, transgêneros, usuários de drogas injetáveis e presos – têm taxas muito mais baixas de testes."

Projeto leva autotestes à África

A OMS se uniu à iniciativa internacional Unitaid e à ONG PSI, ligada à saúde, para realizar na África o projeto de HIV chamado STAR. A primeira fase é no Malawi, Zâmbia e Zimbábue, a segunda, na África do Sul.

Teste de HIV criado pelo Imperial College London possibilita diagnóstico através de pen driveFoto: Imperial College London/T. Angus

O projeto usa uma variedade de dispositivos para constatar como os autotestes podem ser distribuídos e usados em comunidades. O objetivo é "catalisar" o mercado de autotestes de HIV e gerar evidências sobre viabilidade, aceitabilidade e custos, para as empresas poderem produzir dispositivos de alta qualidade.

"Vemos que gente mais acostumada com tecnologia, mais urbana, é mais capaz de usar um kit de autoteste e seguir as instruções. Mas os das comunidades rurais, ou que fazem isso pela primeira vez, talvez precisem de um pouco de apoio – grupos comunitários que podem fazer uma demonstração ou apoiá-los, caso o teste seja positivo", relata Baggaley.

Um dos kits que o projeto STAR usa é um teste de fluido oral dos EUA, reembalado a um custo menor. Nos EUA, OraQuick é disponível em farmácias. Outros autotestes podem ser comprados online. Embora isso não seja, de todo, ruim, existe a preocupação de que os compradores estejam usando os kits sem compreendê-los perfeitamente.

Testes pré-qualificados

Cerca de 14 testes rápidos de diagnóstico de HIV foram pré-qualificados pela OMS desde 2010, nos EUA, China, França, Canadá, Coreia do Sul, Japão, Israel e Irlanda. Em 2015, foram realizados testes de HIV e sífilis em pacientes de um hospital em Ruanda, com um dispositivo baseado no smartphone.

Em novembro de 2016, o Imperial College London e a DNA Electronics divulgaram seu autoteste distribuído num pen drive. É um lab-on-a-chip  que pode no futuro permitir que pacientes monitorem seu próprio tratamento – semelhante ao que já podem fazer os diabéticos.

"Normalmente recomendamos testes de carga viral a cada seis meses", diz o médico Graham Cooke, do Imperial College London. "Mas em áreas onde há uma incidência muito alta de HIV, o diagnóstico muitas vezes não pode chegar ou estar longe dos pacientes. Por isso, há uma real necessidade de obter diagnósticos tão perto de pacientes quanto possível, e até dos que possam ser feitos pelo paciente na própria casa."

Tendência com perspectivas

Autoteste de HIV com ajuda de smartphoneFoto: Tassaneewan Laksanasopin/Columbia University

A OMS recomenda que o autoteste seja uma "abordagem adicional aos serviços de teste do HIV". Portanto, se alguém usa kit e tem um "resultado de autoteste reativo", deve procurar mais testes para confirmar um diagnóstico positivo do HIV.

Um "resultado de autoteste não-reativo" é considerado negativo (sem infecção). Mas as diretrizes recomendam aos usuários repetirem os testes, se tiverem alto risco de HIV ou se a exposição potencial ao HIV tiver ocorrido nas seis semanas anteriores e eles tiverem sido encaminhados a um serviço de prevenção, como profilaxia pós-exposição.

A OMS aposta que os autotestes "aumentarão a autonomia do paciente e descentralizarão os serviços". Cooke diz haver "uma necessidade de boa informação em torno desses testes, sobre quais são suas limitações e o tempo que leva para alguém desenvolver anticorpos depois de ser infectado". O prazo para o organismo desenvolver anticorpos suficientes para serem detectados varia de três e 12 semanas.

Warren diz que as vantagens superam todas as perguntas não respondidas. "Estamos falando sobre testar pessoas em volume sem precedentes. Testes caseiros, autotestes, testes rápidos e diagnósticos onde o paciente é atendido, tanto do vírus em si como de eventuais testes de supressão viral: esse é o futuro."

Zulfikar Abbany Ciência, com interesse especial por inteligência artificial e a relação entre tecnologia e pessoas.