OMS retoma estudos com hidroxicloroquina contra covid-19
3 de junho de 2020
Organização Mundial de Saúde havia suspenso estudos após publicação de levantamento que foi contestado. Apesar da retomada, OMS frisa que ainda não há evidências sobre a eficácia da droga em pacientes com covid-19.
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Depois de a revista científica The Lancetcolocar em dúvida um estudo sobre o uso da cloroquina e hidroxicloroquina no tratamento da covis-19, a Organização Mundial de Saúde (OMS) anunciou nesta quarta-feira (03/06) que retomará o uso do fármaco em pesquisas por ela coordenadas em vários países.
A OMS paralisou as pesquisas com cloroquina e hidroxicloroquina após o estudo publicado em 22 maio levantar suspeitas de que os medicamentos aumentavam a taxa de mortalidade em pacientes com covid-19.
O diretor-geral da OMS, Tedros Adhanom Ghebreyesus, disse que o painel que analisa a segurança dos fármacos concluiu que "não há razão para alterar o protocolo dos estudos clínicos" e que foi recomendada a continuação das pesquisas em todas as frentes. Ele acrescentou que a organização continuará a "controlar a segurança" do uso do medicamento.
A autorização para retomar o uso de hidroxicloroquina e da cloroquina, usadas no tratamento da malária, será comunicada pela OMS aos pesquisadores do estudo realizado em 35 países com mais de 3,5 mil pacientes.
A cientista-chefe da OMS, Soumya Swaminathan, frisou, no entanto, que "não há ainda provas de que qualquer medicamento reduza a mortalidade em pacientes com covid-19" e por isso "é uma prioridade urgente continuar os estudos clínicos".
Swaminathan acrescentou que estudos baseados apenas na observação de pacientes, como o da The Lancet, "têm limitações" e podem ser influenciados por outros fatores, como as condições em que os pacientes são mantidos, e não somente nos medicamentos que são utilizados.
A The Lancet, uma das revistas científicas mais renomadas do mundo, se distanciou do estudo que publicou sobre a hidroxicloroquina e a cloroquina. A pesquisa levou à suspensão de estudos clínicos em todo o mundo, ao apontar que os medicamentos não seriam benéficos para pacientes hospitalizados com covid-19 e poderiam até ser prejudicial.
A revista reconheceu na terça-feira que "questões importantes" pairam sobre o trabalho e afirma que está sendo feita uma auditoria independente dos dados utilizados.
Os dados usados são da empresa Surgisphere, que se apresenta como uma empresa de análise de dados em saúde com sede nos Estados Unidos. O jornal britânico The Guardian colocou em dúvida a idoneidade da empresa, que tem apenas uma meia dúzia de funcionários, que aparentam ter pouca experiência científica, e pequena presença online. O dono da Surgisphere, Sapan Desai, é um dos autores do estudo publicado na Lancet.
Numa carta aberta divulgada na semana passada, dezenas de cientistas expressaram preocupação com o trabalho e disseram que um exame detalhado levantou questões de metodologia e de integridade dos dados, apontando a recusa dos autores em dar acesso total aos dados e a falta de "revisão ética".
Entre os investigadores que assinaram a carta aberta está o francês Philippe Parola, colaborador em Marselha de Didier Raoult, promotor francês da hidroxicloroquina que contribuiu amplamente para popularizar esse tratamento que vem sendo promovido por líderes como Jair Bolsonaro e Donald Trump.
Vírus por toda parte! Talvez no tomate, no pacote do correio, até no próprio cão de estimação? O Departamento de Avaliação de Risco da Alemanha esclarece o que se sabe sobre o Sars-Cov-2.
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Maçanetas contaminadas
Os coronavírus conhecidos permanecem infecciosos em superfícies como maçanetas por quatro a cinco dias, em média. Como todas as infecções por gotículas, o Sars-Cov-2 se propaga por mãos e superfícies tocadas com frequência. Embora seja ainda relativamente desconhecido, os especialistas partem do princípio que os conhecimentos sobre as variedades já estudadas se aplicam ao novo coronavírus.
Por isso é necessário certo cuidado durante o almoço no refeitório do trabalho – se ainda estiver funcionando. Em princípio, coronavírus contaminam pratos ou talheres se alguém infectado espirra ou tosse diretamente neles. No entanto, o Departamento Federal alemão de Avaliação de Riscos (BfR) enfatiza que "até agora não se sabe de infecções com o Sars-Cov-2 por esse meio de transmissão".
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Medo de importados?
Ainda segundo o BfR, os pais não precisam temer um contágio através de brinquedos importados. Até o momento não pôde ser comprovado nenhum caso desses. Os estudos sugerem que o novo coronavírus seja relativamente instável em termos ambientais: os patógenos permaneceriam infecciosos durante vários dias sobretudo a temperaturas baixas e alta umidade atmosférica.
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Vírus pelo correio?
Em geral, coronavírus humanos não são especialmente resistentes sobre superfícies secas. Como sua estabilidade fora do organismo humano depende de diversos fatores ambientais, como temperatura e umidade, o BfR considera "antes improvável" um contágio por pacotes de correio – embora ressalvando ainda não haver dados mais precisos sobre o Sars-Cov-2.
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Pingue-pongue entre cão e dono?
Meu cachorro pode me contagiar e eu a ele? Também o risco de contaminação de animais domésticos é considerado muito baixo pelos especialistas, embora não o descartem. Os próprios animais não apresentam sintomas patológicos. Caso infectados, contudo, é possível transmitirem o coronavírus pelas vias respiratórias ou excreções.
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Verduras assassinas?
Igualmente improvável é a transmissão do Sars-Cov-2 através de alimentos contaminados, na avaliação do BfR, não sendo conhecidos casos comprovados. Lavar cuidadosamente as mãos antes do preparar da refeição continua sendo mandatório nos tempos da covid-19. Como os vírus são sensíveis ao calor, aquecer os alimentos pode reduzir ainda mais o risco de contágio.
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Longa vida no gelo
Embora os coronavírus Sars e Mers conhecidos até o presente reajam mal ao calor, eles são bastantes resistentes ao frio, permanecendo infecciosos a -20 ºC por até dois anos. Também aqui, contudo, não há qualquer indício de cadeias infecciosas do Sars-Cov-2 por meio do consumo de alimentos, mesmo supercongelados.
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Animais silvestres são tabu
Um efeito positivo do surto de covid-19 é a China ter proibido o consumo de carne de animais selvagens. Há fortes indícios de o novo coronavírus ter sido transmitido aos seres humanos por um morcego. O animal, porém, não teve qualquer culpa: ele foi possivelmente servido como iguaria, certamente contra a própria vontade. E agora os seres humanos amargam a "maldição do morcego que virou sopa"...