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Onda nacionalista pode romper apatia do eleitor na UE

Elizabeth Schumacher fc
21 de maio de 2019

No pleito para o Parlamento Europeu, é historicamente difícil levar o eleitor às urnas. Em 2014, apenas 40% votaram. Mas a chance de conter o avanço da extrema direita e do euroceticismo pode mudar esse cenário.

"Por amor à Alemanha - liberdade em vez de Bruxelas" - o lema do alemão AfD nas eleições europeias
"Por amor à Alemanha - liberdade em vez de Bruxelas" - o lema do alemão AfD nas eleições europeiasFoto: DW/H. Franzen

A eleição para o Parlamento da União Europeia é a maior votação do mundo em uma democracia multinacional. Mas conseguir a participação dos eleitores nunca foi uma tarefa fácil. No último pleito, em 2014, quase 60% dos eleitores deixaram de ir às urnas.

Mas depois de passar por uma crise migratória, que revelou uma profunda divisão moral e política no bloco, e pelo referendo do Brexit, que culminou no início do processo de saída do Reino Unido, alguns eleitores veem a eleição, que ocorre entre 23 e 26 de maio, como a chance de pôr um limite no sucesso dos partidos nacionalistas e de extrema direita.

Segundo a cientista política Alexia Katsanidou, diretora do instituto de ciências sociais Gesis, da Universidade de Colônia, as origens da apatia de longa data dos eleitores da União Europeia são fáceis de identificar, mas difíceis de combater.

"Um fator importante é a falta de eficácia política e da sensação de que seu voto poderá influenciar alguma coisa", comenta Katsanidou. "Há também um grau de cinismo, a ideia de que nada mudou desde a última vez que você votou. Então, por que votar novamente?"

A especialista afirma que a União Europeia de alguma forma limitou a ação dos maiores partidos. "Isso força o centrismo e a ideia de um 'governo responsável' em oposição a um responsivo. A capacidade de dar resposta foi sacrificada, o que levou em parte ao surgimento do populismo de direita que estamos vendo hoje em toda a Europa."

Segundo um relatório recente do Conselho Europeu de Relações Exteriores, os eurocéticos estão a caminho de ganhar mais de um terço dos assentos na próxima legislatura do Parlamento Europeu. 

No entanto, é precisamente essa crescente onda de nacionalismo que pode finalmente ver o voto da União Europeia se tornar mais do que uma reflexão tardia. Pesquisas sobre comportamento eleitoral mostram que mais pessoas vão às urnas quando os partidos populistas estão participando das eleições.

Na União Europeia, os cidadãos descontentes e ansiosos por uma perda percebida de identidade nacional acabam apoiando os populistas, enquanto aqueles do centro político e da esquerda votam em maior número por medo de que uma direita revigorada possa levar a Europa a repetir alguns dos momentos mais sombrios de sua história.

"Eu votarei apenas porque me sentirei culpado se eu não o fizer", diz Alex, um alemão de 37 anos. "Mas eu não tenho uma forte ligação com nenhum partido. Trata-se mais de votar contra os populistas do que votar em algo."

Ilaria, uma italiana de 35 anos, diz que planeja votar nas eleições europeias para fazer o que puder para diminuir os ganhos potenciais da extrema direita. "Se os eleitores moderados e progressistas não votarem, o extremismo também se espalhará para o nível da União Europeia", diz. "Receio que a União Europeia perca sua função de vigilante."

Anne, uma universitária alemã de 26 anos, concorda que não se importar com o resultado das eleições para o Parlamento Europeu poderia ter consequências graves. "Eu me preocupo muito com o resultado desta votação, e espero que o desastre do Brexit seja um alerta para aqueles que acreditam que a Europa não os afeta", argumenta.

Katsanidou aponta também que as alianças na Europa estão em transformação: a expulsão do partido nacional-conservador populista húngaro Fidesz pela principal aliança de centro-direita no Parlamento Europeu, o Partido Popular Europeu (PPE), mostrou que os blocos tradicionais poderão desmoronar após esta eleição.

Isso deixou os eleitores se perguntando o que vem a seguir.  E muitos acabam decidindo não ir às urnas em vez de votar no que eles não conseguem entender. Essa situação é agravada pelo que a cientista política descreveu como um consenso de que "a integração europeia tornou a política mais complicada e tornou mais difícil ver onde e como as decisões estão sendo tomadas".

"Eu acho que a maioria das pessoas gosta da Europa, especialmente os jovens. Mas eles não sabem como o bloco europeu funciona ou pensam que é repleto de tecnocratas inúteis. Aliás, acho que temos certeza disso", afirma a francesa Adele, de 30 anos. "A mídia se importa. Já as pessoas, eu não tenho tanta certeza."

Tony, um francês de 36 anos, resume a indisposição e o distanciamento dos eleitores: "Talvez eu seja um cidadão ruim, mas eu não me importo. E os políticos também não se importam comigo."

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