Pela primeira vez, pesquisadores da Nasa comprovaram a existência de água em estado líquido na superfície de Marte. Em entrevista à DW, o pesquisador Ralf Jaumann analisa a descoberta.
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O anúncio feito pela Nasa de que há grandes chances de haver água corrente em Marte, aumentou as especulações sobre a existência de vida no planeta vermelho.
Mas até que ponto isso é possível? Em entrevista à DW, o diretor do departamento de geologia planetária do Centro Aeroespacial Alemão (DLR), de Berlim, comenta a magnitude da nova descoberta – e quais as possibilidades de elas apontarem para a vida em Marte.
DW: Então quer dizer que em Marte existe mesmo água em estado líquido?
Ralf Jaumann: Sim, encontramos água com alta concentração de sal na superfície de Marte. Mas apenas em pequena escala.
Quer dizer que não é muita água?
Não. Mas é possível ver alguns desmoronamentos na beira de uma cratera. Esses deslizamentos não são muito grandes – cerca de 100 metros de extensão, ou seja, não são estruturas geológicas muito vastas. Logo, é possível que a quantidade de água não seja muito grande. Porém, as medições ainda não deram nenhuma estimativa de quanta água há.
Qual é a importância dessa descoberta? Ela lhe surpreendeu?
Nós, cientistas, não fomos surpreendidos. Na ciência nós justamente pensamos sobre hipóteses, depois criamos um modelo e acabamos imaginando que aquilo deve ser assim.
Água em estado líquido em Marte era previsível, então? Como assim?
Quando você dissolve o sal na água, o ponto de fusão diminui. Logo, essas soluções salinas continuam líquidas mesmo abaixo de zero grau. Além disso, os sais aumentam a densidade da água e, assim, ela não evapora tão rápido na baixa pressão atmosférica, como seria o caso de água pura. Existem minerais no subsolo de Marte. Quando eles são dissolvidos, formam-se sais que também reagem com o gelo. Então, podemos afirmar que, se temos gelo com alta concentração salina e aumentamos a temperatura, deverá haver água líquida. Defendemos essa teoria já há um bom tempo.
Mas até agora era apenas uma teoria...
Exatamente. Nós ainda não tínhamos observado isso. Essa é a primeira análise que mostra a grande quantidade de sal concentrado na superfície marciana.
E, com isso, também água em estado líquido?
Sim, mas isso depende da estação do ano. Dependendo da época, os cursos de lama são maiores ou menores.
É difícil comprovar a existência da água em estado líquido como os pesquisadores americanos fizeram?
As análises em laboratório já são complicadas. Agora, os pesquisadores fizeram essas medições a uma distância de 300 km da órbita de Marte com um espectrômetro. E essa foi uma grande realização. É justo que a Nasa esteja dizendo que algo de revolucionário aconteceu.
Qual é o aspecto mais empolgante na descoberta de água líquida em Marte?
Bom, onde há água, mesmo que seja com alta concentração salina, também há a possibilidade de desenvolvimento orgânico.
Isso quer dizer que seria possível encontrar vida por lá?
Com os instrumentos que temos no momento em Marte, com certeza não. No entanto, agora não só a Nasa, mas todos que se ocupam com o planeta sabem que é possível observar e comprovar a existência de água por lá – e como se pode comprovar. Agora se pode começar a procurar por lugares onde seja possível fazer coletas para serem analisadas na Terra. Pois se houver vida em Marte, será tão pequena que só será possível comprová-la em um laboratório terrestre.
Existe a possibilidade haver, em Marte, vida como nós conhecemos? O ambiente não é muito salino?
Conhecemos quase toda a forma de vida aqui na terra. Conhecemos bactérias que não gostam de oxigênio, outras que se alimentam apenas de enxofre, e também existem bactérias de sal. Na verdade, não existe nenhum ambiente na Terra que seja inóspito o bastante para que não possa haver vida.
Vinte e cinco anos do Hubble
Em um quarto de século a serviço da ciência, telescópio espacial forneceu milhares de imagens do cosmos que revolucionaram nossa concepção do universo e da criação.
Foto: NASA/ESA/B. Whitmore
De olho no universo
Desde 1990, o veterano da telescopia espacial encontra-se em órbita em torno da Terra, a 600 quilômetros de altura e a uma velocidade de 28 mil quilômetros por hora. O Hubble tem mais ou menos as medidas de um ônibus: 11 metros de comprimento e cerca de 11 toneladas.
Foto: NASA/Getty Images
Bolha cósmica
Uma estrela jovem e extremamente quente libera uma gigantesca esfera de gases. O Hubble tem ajudado a compreender o nascimento de estrelas e planetas, determinar a idade do universo e estudar a misteriosa matéria escura que provoca a expansão do universo.
Foto: AP
Photoshop cósmico
A nebulosa Carina é umas principais zonas onde nascem estrelas na nossa galáxia. As cores nesta incrível fotografia não são apenas belas, mas também revelam muito sobre as propriedades químicas dos gases componentes. Na verdade trata-se de "photoshopagem", elas são adicionadas por especialistas a posteriori, a partir das informações disponíveis. As fotos originais do Hubble são preto e branco.
Foto: picture-alliance/dpa/Eso/Ho
Cores diáfanas
As diversas tonalidades nesta foto revelam as várias substâncias presentes. O vermelho, por exemplo, indica a presença de enxofre, o verde representa hidrogênio e o azul, oxigênio.
No entanto, as primeiras fotos tiradas pelo telescópio espacial eram totalmente imprestáveis: o espelho principal, de 2,4 metros, havia sido polido de forma errada. Em 1993, a nave espacial Endeavour partiu em direção ao Hubble, que ganhou então uma lente corretiva –"óculos", em termos humanos. Ao todo já houve cinco missões de manutenção e atualização de equipamentos, a mais recente em 2009.
Foto: picture-alliance/dpa/Nasa
Creche do cosmo
Esta espetacular foto foi tirada em dezembro de 2009. Os pontos azuis são estrelas muito jovens, contando apenas uns poucos milhões de anos. Essa creche estelar se encontra na Grande Nuvem de Magalhães, uma outra galáxia da nossa Via Láctea.
Foto: picture-alliance/dpa/Nasa
Uma borboleta?
Flagrante no espaço: ninguém sabe muito bem o que o Hubble captou nesta imagem, mas ela dá asas à imaginação. Esta frágil e misteriosa aparição é um dos 30 mil objetos celestes que o telescópio registrou para a eternidade.
Foto: NASA/ESA/ Hubble Heritage Team
Aparição mística
Como a maioria das imagens do Hubble, esta – quase metafísica – é composta por diversas fotografias. A Galáxia do Sombreiro se localiza na constelação de Virgem, a meros 28 milhões de anos-luz de nosso planeta.
Foto: NASA/ESA/ Hubble Heritage Team
Hubble, pai
O telescópio espacial foi batizado em homenagem a Edwin Powell Hubble (1889-1953). O astrônomo americano foi quem descobriu que a maioria das galáxias vai se afastando da Via Láctea. Assim ele lançou as bases para a Teoria do Big Bang, defendida pela moderna cosmologia.
Foto: picture-alliance/dpa
Colunas da criação do universo
Estas estruturas em forma de coluna se localizam na Nebulosa da Águia, que fica cerca de 7 mil anos-luz distante da Terra. Fotografadas pelo Hubble, elas correram mundo sob o cognome de "Colunas da Criação".
Foto: NASA, ESA/Hubble and the Hubble Heritage Team
James Webb a postos
O Hubble ainda continuará prestando seus serviços por algum tempo. No entanto, sua órbita vem perdendo altura e pode ser que, em 2024, ele retorne à atmosfera terrestre, entrando em incandescência. Seu sucessor já está a postos: o James Webb ganha o espaço já em 2018, para orbitar a 1,5 milhão de quilômetros da Terra.
Foto: picture-alliance/dpa/Nasa/Chris Gunn
Carinha feliz
Até lá, o Hubble prossegue alegremente sua missão e, espera-se, continuará fornecendo outros fascinantes vislumbres do espaço sideral. Este é, aliás, seu mais recente instantâneo: um "smiley" no cosmos. Sem entrar em detalhes mais técnicos: a carinha feliz resulta de um fenômeno físico, a luz curva.