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Onde pode fracassar a próxima tentativa de Merkel

9 de janeiro de 2018

Chanceler federal alemã tem semana decisiva para tentar convencer social-democratas, liderados por Martin Schulz, a iniciar negociações formais e salvar seu quarto mandato. Confira os principais pontos de atrito.

Angela Merkel e Martin Schulz
Os líderes de conservadores, Angela Merkel, e social-democratas, Martin Schulz, no início das sondagens, em BerlimFoto: Reuters/H. Hanschke

Conservadores e social-democratas iniciaram neste domingo (07/01) os contatos preliminares para a formação de uma coalizão de governo na Alemanha. Se a sondagem se mostrar bem-sucedida, o país estará mais perto de uma reedição da chamada grande coalizão, que governou nos últimos quatro anos, com a chanceler federal Angela Merkel à frente.

Mas o caminho até lá não é livre de percalços – e um fracasso pode forçar a Alemanha a realizar novas eleições. A União Democrata Cristã (CDU) e a União Social Cristã (CSU) têm várias posições conflitantes com o Partido Social-Democrata (SPD), liderado por Martin Schulz, ex-presidente do Parlamento Europeu. Estas são as principais divergências:

Migração: Este é o tópico com maior número de atritos entre conservadores e social-democratas. Ao contrário dos social-democratas, CDU e CSU são contra o reagrupamento familiar de refugiados com a chamada proteção subsidiária (aqueles que, mesmo não preenchendo os requisitos para receberem o status de refugiados, não podem ser enviados de volta por sérios riscos à sua vida ou integridade física no país de origem). Por pressão da CSU, os conservadores defendem ainda um limite anual de 200 mil refugiados, ao qual o SPD se opõe, argumentando que se trata de uma violação da Convenção de Genebra. A CSU também quer reduzir a ajuda social a refugiados, e o SPD argumenta que a mudança é inconstitucional. SPD e CDU/CSU são favoráveis a uma lei migratória que regulamente a entrada de mão de obra qualificada no país.

Impostos e orçamento: Os aliados bávaros de Merkel, a CSU, querem elevar o orçamento para a Defesa até 2% do PIB, como exigido pela Otan. Já os social-democratas insistem que as áreas que devem receber mais dinheiro são educação, infraestrutura e apoio às famílias. Todos querem reduzir impostos, mas o SPD defende aliviar apenas os contribuintes de média e baixa renda, se necessário elevando a carga de quem ganha mais. Ponto central para a CDU/CSU é o orçamento equilibrado, no qual os gastos não superam a receita.

Planos de saúde: Este ponto ameaça ser um dos mais polêmicos, pois os social-democratas querem impor um modelo de plano público único para todos, acabando com o sistema atual, no qual coexistem os planos público e privados. Os conservadores preferem não alterar nada nessa área.

Aposentadorias: O SPD quer criar a chamada "aposentadoria solidária" para evitar que pessoas que trabalharam toda a vida com baixos salários recebam pouco quando se aposentarem, correndo o risco de cair na pobreza. A ideia não entusiasma a CDU e a CSU.

Trabalho: O SPD defende reformas no mercado de trabalho. Além de serem favoráveis aos contratos de trabalho por tempo indeterminado, os social-democratas defendem a necessidade de apostar no treinamento contínuo dos trabalhadores, de olho nas mudanças causadas pela digitalização. O SPD também quer facilitar o trabalho para quem tem família, por exemplo dando aos trabalhadores o direito de retornarem à jornada integral depois de um período de tempo de trabalho reduzido para se dedicar aos filhos. Os conservadores reiteram que qualquer mudança não deve elevar os custos da mão de obra.

União Europeia: Uma "Europa democrática, solidária e social" é a ideia do SPD, que espera que a Alemanha, em cooperação com o presidente francês, Emmanuel Macron, dê um novo impulso à União Europeia mediante a criação de um orçamento comum para a zona do euro e o desenvolvimento de uma política migratória unificada. Essa maior integração não agrada à CSU, para quem "mais Europa" significa "menos Alemanha".

AS/dpa/rtr

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