Malteser divulga relatório para amparar discussões sobre imigração na Alemanha e afirma que participação no mercado de trabalho é decisiva para integração bem-sucedida.
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Ao apresentar um novo estudo sobre imigrantes na Alemanha nesta quarta-feira (27/09) em Berlim, o presidente da seção alemã da associação Malteser International, Karl Prinz zu Löwenstein, já esperava por esta pergunta: por que mais uma pesquisa sobre imigração?
De fato, só o governo alemão já publicou 11 relatórios sobre o tema. Löwenstein respondeu afirmando que o estudo de sua organização é "único", ressalvando que não se trata de competir com os outros, mas de apresentar o tema sob um novo enfoque.
O relatório de 112 páginas da organização católica se apoia em análises científicas das questões migratórias e é o "resultado da longa experiência da Malteser em apoiar refugiados", disse Löwenstein. Ele explicou que o objetivo é tornar o debate sobre a imigração menos emotivo, embora ressalve que emoções não são algo ruim. "Quem não se emociona com o destino daqueles que passam necessidade?"
A Malteser publicou o relatório, intitulado Fatos e não sentimentos, de propósito logo após a eleição parlamentar alemã do último fim de semana, com o objetivo de influenciar a agenda política do novo período legislativo, disse o presidente da seção alemã da organização.
"Um país de imigração"
"A Alemanha é e foi um país de imigração", afirmou Lars Peter Feld, diretor do Instituto Walter Eucken da Faculdade de Economia da Universidade de Freiburg, que foi responsável pelo aspecto científico do relatório.
Feld apontou que a Alemanha passou por vários períodos migratórios desde o fim da Segunda Guerra Mundial. Ele disse ainda que a experiência anterior do país com a questão mostra que a participação no mercado de trabalho é decisiva para uma integração bem-sucedida.
As conclusões do relatório indicam que os imigrantes de países não europeus não estão bem integrados no mercado de trabalho alemão, apontou Feld. Os obstáculos incluem língua, nível educacional e dificuldade no reconhecimento de diplomas e certificados estrangeiros.
O nível educacional e as qualificações dos refugiados do mais recente fluxo migratório em 2015-16 se adequam mais "a trabalhos auxiliares do que a atividades de alta qualificação", ressaltou o especialista, explicando ainda que os novos imigrantes poderiam se integrar mais rapidamente no mercado de trabalho se os procedimentos para a concessão de refúgio pudessem ser realizados com mais rapidez.
Estatísticas de crimes
A estatística de crimes é outra área que precisa ser analisada de forma mais atenta, disse Feld. De forma geral, ela caiu em relação há 20 anos. No entanto, o percentual de delitos supostamente praticados por estrangeiros aumentou de 33% em 1993 para 40% em 2016. Essa estatística inclui as violações relacionadas ao próprio refúgio, nas quais os cidadãos alemães não podem incorrer.
Seria incorreto afirmar que "os refugiados representam uma parte central do aumento da criminalidade nos últimos dois anos", disse Feld, acrescentando que há ainda diferenças significativas relacionadas ao local de origem.
Ele mencionou como exemplo os 11% de crimes cometidos por não alemães provenientes de países do Norte da África, "embora eles sejam somente 2% dos imigrantes". Já os estrangeiros provenientes da Síria, do Iraque e do Afeganistão são menos propensos a cometer crimes do que pessoas de outros países, apontou o professor de economia, com base em estatísticas.
Quando se trata de impor um limite ao número de refugiados na Alemanha, o especialista da Universidade de Freiburg afirmou ser contra, chamando a questão de um debate equivocado. Ele disse que o foco deve estar na integração "verdadeiramente sensata" daqueles que já estão na Alemanha.
As imagens que marcaram a crise migratória
Fotos impressionantes do enorme fluxo de migrantes para a Europa em 2015 e 2016 circularam pelo mundo. No Dia Mundial do Refugiado, vale lembrar a perseverança dos que foram forçadas a deixar seus países.
Foto: Getty Images/AFP/A. Messinis
A meta: sobreviver
Uma jornada combinada com sofrimento e perigo para corpo e alma: para fugir da guerra e da miséria, centenas de milhares de pessoas, principalmente da Síria, viajaram pela Turquia para a Grécia em 2015 e 2016. Ainda há cerca de 10 mil pessoas nas ilhas de Lesbos, Chios e Samos. De janeiro a maio deste ano, chegaram mais de 6 mil novos refugiados.
Foto: Getty Images/AFP/A. Messinis
A pé até a Europa
Em 2015 e 2016, milhões de pessoas tentaram, a pé, chegar à Europa Ocidental através da Turquia ou da Grécia até a Macedônia, Sérvia e Hungria. Este fluxo não parou mesmo depois de a chamada rota dos Bálcãs ter sido fechada e muitos países terem bloqueado suas fronteiras. Hoje, a maioria dos refugiados vai para a Europa usando a perigosa rota pelo Mediterrâneo através da Líbia.
Foto: Getty Images/J. Mitchell
Consternação mundial
Esta foto chocou o mundo em setembro de 2015: numa praia da Turquia foi encontrado o corpo do menino sírio Aylan Kurdi, de 3 anos. A imagem se espalhou rapidamente pelas redes sociais e se tornou um símbolo da crise dos refugiados. Depois dela, a Europa não podia mais se omitir.
Foto: picture-alliance/AP Photo/DHA
Caos e desespero
Sabendo que a rota de fuga para a Europa seria fechada, milhares de refugiados tentaram desesperadamente entrar em trens e ônibus na Croácia. Alguns dias depois, em outubro de 2015, a Hungria fechou a fronteira e criou campos com contêineres, onde os refugiados seriam mantidos durante a análise de seu pedido de asilo político.
Foto: Getty Images/J. J. Mitchell
Hostilidades
A indignação foi grande quando uma repórter cinematográfica húngara deu uma rasteira num refugiado sírio que corria com um menino no colo. Ele tentava passar por uma barreira policial na fronteira húngara em setembro de 2015. No auge da crise de refugiados aumentavam as hostilidades contra imigrantes, com ataques xenófobos a abrigos de refugiados também na Alemanha.
Foto: Reuters/M. Djurica
Fronteiras fechadas
O fechamento oficial da rota dos Bálcãs, em março de 2016, gerou tumultos nos postos de fronteira, onde milhares de migrantes não puderam mais avançar e houve relatos de violência policial. Muitos, como estes refugiados, tentaram contornar os postos de fronteira entre a Grécia e a Macedônia.
Uma criança ensanguentada coberta de poeira: a fotografia de Omran, de 5 anos, chocou o público em 2016 e se tornou um símbolo dos horrores da guerra civil da Síria e do sofrimento de seu povo. Um ano mais tarde, novas imagens mostrando o menino bem mais feliz circularam na internet. Apoiadores do presidente sírio afirmam que a primeira imagem foi usada para fins de propaganda.
Foto: picture-alliance/dpa/Aleppo Media Center
Em busca de segurança
Um sírio carrega a filha na chuva em Idomeni, entre a Grécia e a Macedônia. Ele procura abrigo na Europa. Segundo o Regulamento de Dublin, o asilo político precisa ser solicitado no primeiro país da União Europeia a que o refugiado chegou. Por isso, muitos que prosseguem viagem são mandados de volta. Por sua localização fronteiriça, Itália e Grécia são os países onde mais chegam refugiados.
Foto: Reuters/Y. Behrakis
Esperança
A Alemanha continua sendo o principal destino dos migrantes, embora a política de refugiados e de asilo do país tenha se tornado mais restritiva após o grande afluxo no final de 2015. Nenhum outro país europeu acolheu tantos refugiados como a Alemanha, que recebeu 1,2 milhão de pessoas desde 2015. A chanceler federal Angela Merkel foi um ícone para muitos dos recém-chegados.
Foto: picture-alliance/dpa/S. Hoppe
Miséria nos campos de refugiados
No norte da França, um enorme campo de refugiados, a chamada "Selva de Calais", foi fechado. Durante a evacuação, em outubro de 2016, houve um incêndio no acampamento. Cerca de 6.500 moradores foram removidos para outros abrigos na França. Meio ano depois, organizações de ajuda relataram sobre muitos refugiados menores de idade que vivem como sem-teto em volta da cidade de Calais.
Foto: picture-alliance/dpa/E. Laurent
Afogamentos no Mediterrâneo
ONGs e guardas costeiras estão constantemente à procura de barcos de migrantes em perigo. Eles preferem atravessar o mar em embarcações precárias superlotadas a viver sem perspectivas na pobreza ou em meio à guerra civil. Só em 2017, a travessia já custou 1.800 vidas. Em 2016 foram registrados 5 mil mortos.
Foto: picture alliance/AP Photo/E. Morenatti
Milhares esperam na Líbia
Centenas de milhares de refugiados da África Subsaariana e do Oriente Médio esperam em campos líbios para atravessar o Mar Mediterrâneo. Muitos estão nas mãos de contrabandistas humanos e traficantes de pessoas. As condições nesses locais são catastróficas, dizem ONGs. Testemunhas relatam casos de escravidão e prostituição forçada. Ainda assim, continua vivo o sonho de chegar à Europa.
Foto: Narciso Contreras, courtesy by Fondation Carmignac