ONG vê corresponsabilidade alemã na tragédia de Brumadinho
29 de janeiro de 2019
Misereor afirma que TÜV Süd deve esclarecer como certificou uma barragem que rompeu e afirma que indústria metalúrgica alemã também é responsável pelo respeito aos direitos humanos por parte de seus fornecedores.
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A ONG católica de ajuda ao desenvolvimento Misereor cobrou nesta terça-feira (29/01) esclarecimentos sobre a eventual corresponsabilidade de empresas alemãs na tragédia com a barragem de Brumadinho, em Minas Gerais, que já custou a vida de mais de 60 pessoas.
O porta-voz de economia e direitos humanos da ONG, Armin Paasch, exigiu da certificadora TÜV Süd, que atestou a estabilidade da barragem, uma investigação independente do caso e uma eventual participação nas indenizações para as vítimas.
Paasch afirmou ainda que a indústria metalúrgica e automotiva alemã, na condição de importadora de matérias-primas, é corresponsável pelo respeito aos direitos humanos por parte de seus fornecedores no exterior, como a Vale.
O porta-voz argumentou que a indústria alemã compra mais da metade de seu minério de ferro do Brasil.
"O caso evidencia, mais uma vez, a urgente necessidade de leis que cobrem dever de diligência ambiental e de direitos humanos das empresas, também na Alemanha", afirmou Paasch.
Ele cobrou do governo alemão que coloque em prática a sua já anunciada intenção de obrigar as empresas alemãs a verificarem se suas redes de fornecedores no exterior respeitam os direitos humanos.
AS/kna
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Barragem de Brumadinho aprovada pela TÜV Süd não é a primeira polêmica envolvendo as certificadoras alemãs TÜV.
Foto: picture-alliance/dpa/J. Carstensen
Avalanche de lama
O rompimento da barragem em Brumadinho liberou milhões de toneladas de lama e resíduos, que mataram dezenas de pessoas, soterraram casas, carros e estradas e destruíram o meio ambiente. A TÜV Süd comunicou que realizou uma inspeção da barragem em nome da Vale em setembro de 2018.
Foto: Reuters/Washington Alves
Símbolo de qualidade e segurança
Fundada em 1866, a primeira TÜV verificava caldeiras a vapor. Até hoje, consta nos estatutos das certificadoras TÜV que elas são "independentes e neutras" e que desenvolvem "segurança e qualidade de acordo com critérios definidos". Por muito tempo, as TÜVs só tinham autorização para inspecionar carros na Alemanha. Foi assim que a marca ganhou sua reputação e respeito.
Foto: TÜV Süd
Empresas voltadas para o lucro
Não existe mais apenas uma TÜV, mas várias empresas com esse nome, que concorrem entre si. As principais são a TÜV Süd, a TÜV Nord e a TÜV Rheinland. Sob a marca consolidada pelas antigas associações surgiram grandes corporações, atuantes no exterior e voltadas ao lucro. Desde então, há cada vez mais acusações de que a segurança não é levada mais tão a sério.
Foto: picture-alliance/dpa/O. Spata
Nas plantações de palma
O óleo de palma, ou azeite de dendê, tem uma grande demanda mundial, e sua produção é muito criticada devido ao impacto negativo no meio ambiente. Há vários anos é a TÜV Rheinland que inspeciona as plantações na Ásia para verificar se elas atendem os requisitos de sustentabilidade da Roundtable on Sustainable Palm Oil (RSPO). A empresa já foi acusada de maquiar relatórios para agradar a indústria.
Foto: TÜV Rheinland/Thomas Ernsting
Problema nos implantes de silicone
Entre 1997 e 2010, a TÜV Rheinland certificou a fabricação dos implantes mamários da empresa francesa PIP. Mas, durante anos, a PIP usou um gel de silicone proibido. Os implantes propensos a rasgarem foram usados por centenas de milhares de mulheres. Em 2018, um tribunal francês a condenou a uma indenização de 3 milhões de euros.
Foto: picture-alliance/dpa/B. Bebert
App seguro contra hackers?
Desde setembro de 2018, o app Vivy é usado por médicos alemães para armazenar e compartilhar diagnósticos, resultados laboratoriais e de raios-X de pacientes. O aplicativo é disponibilizado a clientes de 16 seguradoras. Ele foi testado e certificado pela TÜV Rheinland, mas logo depois que começou a ser usado, funcionários da empresa Modzero descobriram várias falhas de segurança.
Questão de confiança
A confiança dos clientes na qualidade das certificações é o maior capital das TÜVs. Na Alemanha, a expressão "certificado pela TÜV" virou sinônimo de qualidade. No Brasil, a TÜV Süd, que usa o slogan "Mais valor. Mais confiança.", é agora investigada para saber como foi possível que uma barragem certificada pela empresa rompesse.