Relatório assinado por 21 grupos de direitos humanos critica Conselho de Segurança por não implementar resoluções que ajudariam civis. Em 2014, número de pessoas que precisam de auxílio dobrou para quase 5 milhões.
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Um relatório assinado por 21 ONGs, divulgado nesta quinta-feira (12/03), faz duras críticas ao Conselho de Segurança da ONU por ter fracassado na tentativa de implementar três resoluções em 2014 para aumentar a assistência a civis durante a guerra na Síria, que já dura quatro anos e custou a vida de mais de 220 mil pessoas.
As organizações "reprovaram" as potências mundiais e a comunidade internacional pelo que considera uma fraca atuação na guerra civil, que começou como um protesto pacífico e acabou escalando e levando a um sangrento combate entre as tropas do ditador Bashar al-Assad e insurgentes. A séria crise humanitária, lembra o texto, agora afeta toda a região.
"A dura realidade é que o Conselho de Segurança fracassou em implementar essas resoluções", afirma Jan Egeland, secretário-geral do Conselho de Refugiados da Noruega. "O ano passado foi o mais sombrio nessa terrível guerra. As partes do conflito têm agido de maneira impune e ignorado as demandas do Conselho de Segurança, civis não estão protegidos, e o acesso deles a ajuda não melhorou."
A grave crise levou o Conselho de Segurança da ONU, marcado por divisões dos integrantes a respeito da situação na Síria, a aprovar três resoluções no ano passado para acabar com mortes e torturas arbitrárias e facilitar a entrada de ajuda humanitária no país. A última delas, aprovada em dezembro, amplia a entrega de assistência além da fronteira, em áreas sob controle rebelde, sem necessidade de autorização do governo em Damasco.
No relatório de 27 páginas, as organizações afirmam que o número de pessoas que precisam de ajuda em áreas difíceis de serem alcançadas praticamente dobrou no ano passado, chegando a 4,8 milhões. E o número de crianças vítimas do conflito subiu para 5,6 milhões.
O diretor regional da ONG Save the Children, Roger Hearn, destacou que muitas crianças não podem sequer ir às escolas na Síria, por as instalações estarem destruídas ou por seus pais terem medo de enviá-las por medo de ataques.
"Enquanto trabalhadores humanitários heroicos arriscam suas vidas para oferecer assistência e serviços essenciais, milhões de sírios estão fora de seu alcance, não só pela violência e a piora da situação, mas também pela falta de financiamento e por obstáculos burocráticos", lamentou Hearn.
Desde que os conflitos começaram, em março de 2011, mais de 220 mil pessoas morreram e 1 milhão ficaram feridas. Cerca de quatro milhões de sírios fugiram do país, e outros 7,6 milhões encontram-se desalojados. Segundo a ONU, 12,2 milhões de pessoas precisam de ajuda humanitária no país.
Síria: patrimônio histórico destruído na guerra civil
Cerca de 300 locais de interesse histórico já foram danificados, saqueados ou totalmente destruídos na guerra civil da Síria. Uma excursão aos patrimônios culturais ameaçados do país.
Foto: Fotolia/Facundo
Destruição
Em quase quatro anos, a guerra civil síria contabilizou centenas de milhares de mortos e o deslocamento de cerca de dez milhões de pessoas. Análises do Instituto das Nações Unidas para a Formação e Pesquisa (Unitar, em inglês) feitas por satélites mostram a destruição de patrimônios culturais no país. Nesta foto, o centro histórico de Damasco.
Foto: picture-alliance/dpa/M. Tödt
Mesquita dos Omíadas
A análise revelou que 290 sítios culturais foram fortemente atingidos. Do ano 708, a Mesquita dos Omíadas, em Damasco, teve o mosaico de sua fachada destruído por tiros.
Foto: picture-alliance/blickwinkel/Neukirchen
Imagem de destruição
Especialmente atingida foi a metrópole de Aleppo, que, com 7 mil anos de história de assentamentos, faz parte das cidades mais antigas do mundo. A imagem de satélite à direita mostra a destruição na região próxima à cidadela.
Foto: US Department of State, Humanitarian Information Unit, NextView License (DigitalGlobe)
Antes dos tiros
A Mesquita dos Omíadas, em Aleppo, também foi fortemente danificada. A mesquita, do ano 715, foi reconstruída diversas vezes nos séculos seguintes à sua construção. Especialmente o minarete, do ano de 1092, é considerado uma obra-prima arquitetônica. Aqui, uma foto da mesquita antes de ser destruída.
Foto: picture alliance/Bibliographisches Institut/Prof. Dr. H. Wilhelmy
Troca de acusações
O minarete da Mesquita dos Omíadas foi destruído durante uma batalha, em 2013. Hoje sobrou somente o escombro, já que grande parte da edificação foi gravemente danificada. O governo e os rebeldes acusam-se mutuamente.
Foto: J. Al-Halabi/AFP/Getty Images
Luta implacável
A batalha entre o governo e rebeldes por Aleppo ocorre desde 2012 e faz com que os danos sejam proporcionais ao tempo do confronto. O hotel Carlton, de 150 anos, em frente à cidadela de Aleppo, era famoso, entre outros motivos, por seu interior histórico e bem conservado.
Foto: CC-SA-BY-Preacher lad
Totalmente destruído
Hoje não sobrou nada do hotel. Em maio de 2014 foram acionados explosivos em um túnel localizado embaixo da construção. De 210 prédios históricos analisados pela Unitar em Aleppo, a metade foi danificada e um quinto foi totalmente destruído.
Foto: picture-alliance/AP Photo
Mercado de "conto de fadas"
Visitantes do mercado de Aleppo se sentiam num conto de fadas das mil e uma noites. O bazar, que permaneceu inalterado desde o século 16, consistia de uma longa rede de vielas totalizando sete quilômetros.
Foto: AP
Perdido para sempre
Em 2012, um incêndio causou danos irreversíveis ao mercado. De acordo com números oficiais, 1.500 das 1.600 lojas no bazar foram danificadas ou destruídas.
Foto: AP
Inconquistável, mas…
Numa fortaleza curda, foi construído durante os séculos 12 e 13 o chamado Forte dos Cavaleiros, um castelo para cavaleiros das Cruzadas. A edificação era conhecida por nunca ter sido conquistada por meio de guerra ou de cerco.
Foto: picture-alliance/AP Photo/D. Vranic
… não indestrutível
O castelo, que se localiza ao leste de Homs e próximo à fronteira com o Líbano, foi submetido novamente à artilharia de fogo e ataques aéreos. A luta deixou o teto e muros destruídos, como também partes da edificação desmoronadas.
Foto: picture-alliance/AP Photo/D. Vranic
Impossível de se reconhecer
Dura Europos foi fundada no ano 300 a.C. como uma colônia militar. Aqui não somente as batalhas, mas também os constantes saques foram responsáveis para que muitas edificações da chamada "Pompeia síria" não sejam mais reconhecíveis.
Foto: picture-alliance/akg-images/Leo G. Linder
Templo destruído
A cidade de Palmira é considerada um dos centros culturais da antiguidade. Lutas, saques e o roubo de pedras afetaram consideravelmente as atrações históricas. De 2 mil anos, o templo de Baal – na foto, antes da guerra civil – perdeu uma de suas colunas.