Ex-militar britânico que fundou abrigo em Cabul se recusa a sair do Afeganistão sem membros da sua equipe e 140 cães e 60 gatos cuidados pela entidade. Após forte pressão, governo britânico autoriza voo.
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Organizações que cuidam de animais no Afeganistão lutam para encontrar meios de retirar centenas de cachorros e gatos do país até o prazo final para as evacuações, marcado para o dia 31 de agosto.
Um ex-fuzileiro naval britânico que administra um abrigo para animais no aeroporto de Cabul passou horas tentando conseguir lugar em um dos voos para fora do país para sua equipe, dezenas de animais e para ele próprio.
Depois de 10 horas, Paul Farthing postou uma mensagem no Twitter direcionada ao porta-voz do Talibã dizendo que recebeu garantia de que teria passagem para o aeroporto. "Eu realmente gostaria de ir para casa agora”, afirmou.
O britânico conseguiu autorização para embarcar em um voo com sua equipe, mas vinha pressionando para retirar do país em torno de 140 cães e 60 gatos do abrigo Nowzad, fundado em 2007 por ele após servir nas Forças Armadas de seu país por 22 anos, boa parte desse tempo no Afeganistão.
Nowzad era o nome do primeiro cão resgatado por ele. Desde então, Farthing reuniu uma equipe de 25 pessoas, incluindo três das primeiras mulheres veterinárias do país.
Ele vinha pedindo que os membros de sua equipe e suas famílias fossem evacuados e aceitos como refugiados no Reino Unido. Ele diz que o abrigo poderia sofre represálias, uma vez que era financiado por fontes estrangeiras.
"Eu tinha uma oportunidade, pelo fato de que sou um cidadão britânico, e usarei isso para todos os efeitos. Por isso, disse que não vou sair até que minha equipe deixe o país”, afirmou.
Governo britânico pressionado
Várias celebridades britânicas expressaram apoio a Farthing e lançaram fortes críticas ao governo nas redes sociais. Seus apoiadores criticavam o secretário de Defesa do Reino Unido, Ben Wallace, que se recusou a embarcar os animais em um avião da Força Aérea Real (RAF) britânica. "Nesse momento, tenho de priorizar pessoas ao invés de pets”, afirmou.
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Mais tarde aumentaram as esperanças para o ex-soldado e seus animais. "Agora que a equipe de Pan Farthing foi autorizada, orientei o Ministério da Defesa a facilitar seu processo, juntamente com todas aos outras pessoas elegíveis. A esse ponto, se ele chegar com seus animais, vamos procurar um lugar em seu avião”, disse Wallace nesta quarta-feira.
Medo pelos que ficaram: "O Talibã vai matar todo mundo"
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"Se ele não vier com seus animais, ele e sus equipe poderão embarcar em um voo da RAF. Eu venho insistindo o tempo todo que devemos processar primeiro os que estão sob maiores riscos”, disse Wallace.
O ministro britânico das Forças Armadas, James Heappey, afirmou nesta quinta-feira (26/08) que as forças britânicas no aeroporto iriam viabilizar o voo, mas que o mais difícil era fazer com que Farthing consiga chegar ao aeroporto.
O Reino Unido vem alertando que as pessoas devem se manter longe do aeroporto em razão de "relatos bastante críveis de ataques iminentes” por islamistas ligados ao grupo extremista "Estado Islâmico” (EI).
Outra organização, a Kabul Small Animal Rescue, vem lutando para angariar 1,5 milhão de dólares para tirar em torno de de 120 cães e 100 gatos, além de sua equipe, do Afeganistão. A ONG ainda precisa de caixas para o transporte dos animais e os vistos e autorizações para leva-los até outro país.
Charlotte Maxwell-Jones, diretora da ONG nos Estados Unidos, disse que não há como garantir que todos possam deixar o país até 31 de agosto. Ela afirmou que os custos de viagem estão bastante altos. A partir da Jordânia, os preços do transporte em aviões de carga subiram para 800 mil dólares. Até o início da semana, a entidade tinha conseguido arrecadar 700 mil dólares.
rc (AP, Reuters, ots)
A intervenção dos EUA no Afeganistão
Há 20 anos, após o 11 de Setembro, os EUA enviavam seus primeiros soldados ao país. Reveja os principais acontecimentos desde então: da operação Liberdade Duradoura à retomada do país pelos fundamentalistas do Talibã.
Foto: Evan Vucci/AP Photo/picture alliance
Operação Liberdade Duradoura
Em outubro de 2001, menos de um mês após aos ataques de 11 de Setembro, o presidente George W. Bush lança no Afeganistão a operação Liberdade Duradoura, depois que o regime Talibã se recusa a entregar Osama bin Laden. Em semanas, os americanos derrubam o Talibã, que ocupava o poder desde 1996. Cerca de mil soldados são enviados ao país em novembro, aumentando para 10 mil um ano depois.
Foto: picture-alliance/DoD/Newscom/US Army Photo
Talibã se reagrupa
A invasão do Iraque em 2003 se torna a maior preocupação dos EUA e desvia a atenção do Afeganistão. O Talibã e outros grupos islamistas se reagrupam em seus redutos no sul e leste do Afeganistão. Em 2008, Bush concorda em enviar soldados adicionais ao país em meio a pedidos por uma estratégia efetiva contra o Talibã. Em meados de 2008, há 48.500 soldados americanos no país.
Foto: picture alliance/Photoshot
Obama é eleito
Em sua campanha, Barack Obama promete encerrar as guerras no Iraque e no Afeganistão. Mas nos primeiros meses de sua presidência, em 2009, há um aumento no número de soldados no Afeganistão para cerca de 68 mil. Em dezembro, o número cresce ainda mais, para 100 mil, com o objetivo de conter o Talibã e fortalecer instituições afegãs.
Foto: AP
Morte de Bin Laden
Osama bin Laden, líder da Al Qaeda que esteve por trás dos ataques de 11 de Setembro, é morto em maio de 2011 em seu esconderijo, durante uma operação de forças especiais americanas no Paquistão.
Foto: picture-alliance/dpa
Acordo com Afeganistão
O Afeganistão assina em setembro de 2014 um acordo bilateral de segurança com os EUA e texto similar com a Otan: 12.500 soldados estrangeiros, dos quais 9.800 norte-americanos, permaneceriam no país em 2015. Mas a situação de segurança piora. Em meio à ressurgência do Talibã, Obama diminui a velocidade de retirada em 2016, afirmando que 8.400 soldados permaneceriam no Afeganistão.
Foto: Reuters
Bombardeio de hospital em Kunduz
Em outubro de 2015, no auge do combate entre insurgentes islâmicos e o Exército afegão, apoiado por forças da Otan, um ataque aéreo dos EUA atinge um hospital dirigido pela organização Médicos Sem Fronteiras na província de Kunduz. O ataque deixa 42 mortos, inclusive 24 pacientes e 14 membros da ONG.
Foto: Getty Images/AFP
"Mãe de todas as bombas"
Em abril de 2017, forças americanas atingem posições do "Estado Islâmico" (EI) no Afeganistão com a maior bomba não nuclear já usada pelo país em combate, matando 96 jihadistas. Em julho, é morto o novo líder do EI no país.
Foto: Reuters/U.S. Department of Defense
"Estamos diante de um impasse"
Em fevereiro de 2017, um relatório do governo dos EUA mostra que as perdas entre as forças de segurança afegãs subiram 35% em 2016 em relação ao ano anterior. Pouco depois, o general americano à frente das forças da Otan, John Nicholson (esq., ao lado do secretário da Defesa John Mattis), alerta que precisa de mais milhares de soldados: “Acredito que estamos diante de um impasse."
Foto: Reuters/J. Ernst
Trump anuncia nova estratégia
Em 21 de agosto de 2017, o presidente Donald Trump anuncia nova estratégia para o Afeganistão, fazendo da caça a terroristas a principal prioridade. Trump não especifica um aumento do número de soldados como esperado, mas diz que os objetivos incluem "obliterar" o Estado Islâmico, "esmagar" a Al Qaeda e impedir o Talibã de dominar o Afeganistão.
Foto: picture-alliance/Pool via CNP/MediaPunch/M. Wilson
EUA negociam com rebeldes
Em julho de 2018, sob o governo do presidente Donald Trump, os EUA entram em negociação com o Talibã, sem envolver o governo afegão eleito ou os parceiros da Otan.
Foto: picture-alliance/dpa/AP Photo/Qatar Ministry of Foreign Affairs
Trump cancela encontro com Talibã
Em setembro de 2019, o presidente Trump cancela na última hora uma reunião marcada em sigilo com líderes do Talibã e do Afeganistão, após o grupo islamista assumir a autoria de um ataque em Cabul que matou um soldado americano e outras 11 pessoas.
Foto: Getty Images/M. Wilson
EUA e Talibã assinam acordo de paz
Em fevereiro de 2020, sob o regime Trump, os governos dos EUA e do Afeganistão anunciam a retirada completa das tropas americanas e de outros países da Otan. O pacto assinado pelo negociador especial dos EUA para a paz, Zalmay Khalilzad, e pelo líder político talibã mulá Abdul Ghani Baradar, prevê que o número de militares estrangeiros seria reduzido gradualmente, ao longo de 14 meses.
Foto: AFP/G. Cacace
Biden anuncia retirada total das tropas
Em 14 de abril de 2021, o presidente Joe Biden comunica à população americana que a guerra mais longa do país terá fim, com as tropas dos EUA e da Otan se retirando inteiramente do Afeganistão até 11 de setembro, 20º aniversário dos ataques terroristas em Nova York.
Foto: Andrew Harnik/AFP/Getty Images
EUA e Otan iniciam retirada
EUA e Otan iniciam formalmente, em 1º de maio de 2021, a retirada de todas as suas tropas do Afeganistão. A previsão era retirar até 11 de setembro entre 2.500 e 3.500 soldados americanos e cerca de outros 7 mil soldados da Otan. Estima-se que os EUA tenham gasto mais de 2 trilhões de dólares no país, em 20 anos, de acordo com o projeto Costs of War da Universidade Brown.
Foto: Michael Kappeler/dpa/picture alliance
Americanos entregam base ao governo afegão
Em 2 de julho de 2021, tropas dos EUA partem da base aérea de Bagram, ponto focal da guerra, e entregam o local ao governo afegão. Permanecem no país asiático alguns poucos soldados, numa pequena base na capital Cabul.
Foto: Rahmat Gul/AP/picture alliance
Talibã toma capitais regionais
Aproveitando o vácuo deixado pela retirada das tropas de paz internacionais do Afeganistão, guerrilheiros do Talibã tomam, no inicio de agosto de 2021, capitais regionais como Sheberghan, Kunduz e Zaranj, num duro golpe para o governo afegão, que lutava para defender as cidades mais importantes da ofensiva do grupo extremista.
Foto: Abdullah Sahil/AP Photo/picture alliance
EUA retiram seus cidadãos do Afeganistão
Em meados de agosto, Estados Unidos e outros países começam a retirar seus cidadãos do Afeganistão, enquanto forças militares americanas se esforçam para proteger e manter funcionando o aeroporto de Cabul. Com todos os voos comerciais cancelados, milhares de afegãos invadem a pista do aeroporto desesperados, tentando embarcar em qualquer aeronave que fosse decolar.
Foto: Wakil Kohsar/AFP
Talibã ocupa palácio presidencial
O Talibã toma a capital Cabul, em 15 de agosto de 2021, dissolvendo o governo e estendendo seu controle sobre todo o Afeganistão. A capital era um dos últimos redutos ainda sob a autoridade do presidente Ashraf Ghani. Assim como ocorreu com dezenas de outras cidades, ele é tomada sem resistência efetiva das tropas governamentais. Ghani foge do país.
Foto: Zabi Karim/AP/picture alliance
Biden defende retirada das tropas
Um dia depois da tomada de Cabul, o presidente dos EUA, Joe Biden, defende a decisão de pôr fim à presença americana no Afeganistão e condena líderes e políticos afegãos que abandonaram o país, abrindo caminho para a tomada de poder pelo Talibã. Biden culpa ainda o ex-presidente Donald Trump, por ter fortalecido o grupo rebeldes e deixado os talibãs em sua melhor situação militar desde 2001.