ONU diz que "Estado Islâmico" vende mulheres como escravas
9 de junho de 2015
Jovens raptadas em áreas dominadas pelos jihadistas são oferecidas em mercados de escravos por milhares de dólares ou pelo valor de um maço de cigarros, afirma enviada especial Zanid Bangura.
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Muitas garotas e mulheres raptadas pelo "Estado Islâmico" (EI) no Iraque e na Síria são vendidas em mercados de escravos pelo "preço de um maço de cigarros", afirmou nesta segunda-feira (08/06) a representante especial das Nações Unidas sobre a Violência Sexual em Conflitos, Zainab Bangura.
Ela visitou os dois países em abril e conversou com mulheres e adolescentes que escaparam de cativeiros em áreas controladas pelo EI. Bangura também se reuniu com líderes religiosos e políticos e visitou refugiados na Turquia, no Líbano e na Jordânia.
Desde então, a enviada da ONU trabalha num plano de ação para abordar o problema. "Esta é uma guerra travada sobre os corpos das mulheres", afirmou Bangura, durante uma entrevista à agência de notícias AFP. Ela conta que os abusos cometidos pelos jihadistas remetem a práticas medievais e afirmou que o EI almeja "construir uma sociedade baseada no século 13".
Os extremistas voltaram a criar mercados de adolescentes escravizadas durantes as ofensivas mais recentes. "Eles raptam as mulheres após tomar as regiões para que tenham – não quero dizer uma nova remessa – mas novas meninas", afirmou Bangura.
Elas são comercializadas por preços que podem alcançar milhares de dólares ou apenas o valor de um maço de cigarros. "Algumas foram retidas, trancafiadas num quarto – mais de cem delas numa pequena casa – despidas e banhadas", diz. Ela conta que, mais tarde, as jovens são exibidas em frente a um grupo de homens, que decidem o valor de cada uma.
Virgens usadas para atrair estrangeiros
O sequestro de mulheres jovens é também parte da estratégia do EI para recrutar combatentes estrangeiros, que têm viajado em grande número à Síria e ao Iraque nos últimos meses para aderir à organização. "É assim que eles atraem jovens: temos mulheres esperando por vocês, virgens que vocês podem desposar", diz Bangura. "Os jihadistas estrangeiros são a espinha dorsal do combate."
Um relatório recente da ONU aponta que cerca de 25 mil combatentes estrangeiros de mais de cem países se envolveram em conflitos em diversas partes do mundo, a maior parte na Síria e no Iraque.
Bangura conta que comunidades como os yazidi – um dos grupos étnicos mais vitimados pelo EI – recebem as meninas de volta e oferecem apoio para que elas possam retomar suas vidas. Ela elogiou o líder yazidi Baba Sheik por declarar publicamente que as meninas precisam de aceitação e lamentou que nos líderes turcomenos ainda não tenham feito semelhante declaração.
A enviada da ONU visitou diversas capitais europeias para discutir o sofrimento das mulheres e adolescentes em áreas dominadas pelo EI e espera em breve se dirigir ao Conselho de Segurança da ONU para discutir o que pode ser feito. Uma equipe técnica das Nações Unidas viajará a região para elaborar os detalhes do plano de ajuda às vítimas da violência sexual promovida pelos jihadistas.
RC/afp
A trágica situação da minoria yazidi no Iraque
Milhares de membros da minoria religiosa estão em fuga por causa do avanço dos radicais do "Estado Islâmico", para quem os yazidis são "adoradores do diabo".
Foto: AHMAD AL-RUBAYE/AFP/Getty Images
À procura de proteção
Não importa para onde, desde que seja seguro. Milhares de yazidis fogem da brutalidade do "Estado Islâmico" (EI). Sorte daqueles que encontraram abrigo no norte do Iraque, pois a situação dos que ficaram no Monte Sinjar é extremamente difícil, em especial por causa do escasso abastecimento. Eles esperam mais ajuda do Ocidente.
Foto: Reuters
Fuga em massa
Os yazidis foram expulsos, muitas vezes com brutal violência, da região controlada pela milícia sunita "Estado Islâmico". Milhares foram para a Síria, e outros voltaram ao Iraque, por exemplo para Fishkhabour, perto da fronteira com a Síria.
Foto: Reuters
Humilhação e trauma
Em muitos casos, os combatentes do EI pegaram dinheiro, objetos de valor e passaportes dos yazidis, deixando-os apenas com a roupa do corpo. As crianças estão traumatizadas com as expulsões em massa, nas quais ao menos 500 yazidis perderam a vida.
Foto: Reuters
Falta o essencial
Refugiados yazidis disputam garrafas de água que são distribuídas no norte do Iraque. Enviar mantimentos aos refugiados na região autônoma do Curdistão é um desafio logístico.
Foto: Ahmad Al-Rubaye/AFP/Getty Images
Crescente Vermelho em ação
Voluntários do Crescente Vermelho do Curdistão ajudam os refugiados assim que eles chegam aos pés das montanhas de Sinjar. Muitos estão feridos ou enfraquecidos pela longa viagem, frequentemente feita a pé.
Foto: Reuters
Abrigo improvisado
A situação de muitos refugiados no norte do Iraque é desesperadora. Segundo a Organização Internacional para Migração (OIM), mais de um milhão de pessoas estão em fuga no Iraque, entre eles também muitos cristãos.
Foto: picture-alliance/dpa
Lembranças da vida como ela era
A Agência da ONU para Refugiados montou um acampamento provisório perto da cidade de Erbil, no norte do Iraque. Os refugiados estão felizes por terem ao menos um pequeno espaço para chamarem de seu. Muitos conseguiram até trazer itens pessoais consigo.
Foto: picture-alliance/dpa
Abastecimento por helicóptero
As Forças Armadas dos Estados Unidos começaram a distribuir, há alguns dias, comida e água aos yazidis acampados na região montanhosa de Sinjar. Os suprimentos são questão de vida ou morte para os refugiados, que não têm contato com o mundo externo.
Foto: picture-alliance/dpa
Temendo pela própria vida
A ONU estima que cerca de mil pessoas ainda estão nas montanhas de Sinjar, onde as temperaturas são muito altas e há pouco abastecimento de água. Nos últimos dias, milhares conseguiram deixar o local.
Foto: picture-alliance/dpa
Mulheres, crianças e feridos primeiro
Na hora de embarcar no helicóptero, os assistentes dão prioridade aos refugiados muito feridos e enfraquecidos, assim como às mulheres e crianças. Recentemente, num acidente trágico, um helicóptero caiu porque estava muito pesado – havia pessoas demais a bordo.
Foto: picture-alliance/dpa
Crítica direta ao Ocidente
Em toda Europa, membros da comunidade yazidi estão pedindo ao Ocidente mais apoio aos grupos minoritários do Iraque. Na foto, manisfestantes em Hannover exigem mais ajuda humanitária e armas para os curdos no norte do Iraque, para que eles possam conter o avanço dos militantes do Estado Islâmico.