ONU alerta para crimes de proporções históricas em Aleppo
21 de outubro de 2016
Comissário para Direitos Humanos classifica bombardeios como equivalentes a crimes de guerra e apela às grandes potências que entreguem o caso ao Tribunal Penal Internacional. Mais de 500 morreram desde fim de setembro.
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O alto comissário da Organização das Nações Unidas para os Direitos Humanos, Zeid Ra'ad al-Hussein, afirmou nesta sexta-feira (21/10) que o cerco e bombardeio da zona leste de Aleppo constituem "crimes de proporções históricas", equivalentes a crimes de guerra, com numerosas vítimas civis.
Num discurso em vídeo para o Conselho de Direitos Humanos da ONU em Genebra, na Suíça, Ra'ad al-Hussein apelou novamente às grandes potências para colocarem de lado suas diferenças e encaminharem a situação na Síria ao promotor do Tribunal Penal Internacional (TPI).
A sessão da ONU foi convocada pelo Reino Unido e apoiada pela França, Alemanha, EUA e Turquia. Seu objetivo é aprovar, ainda nesta sexta-feira, uma resolução condenando os abusos especialmente na região leste de Aleppo, controlada pelos rebeldes, onde cerca de 250 mil civis estão sitiados por uma ofensiva do governo sírio apoiado pela Rússia.
"Rússia, você está piorando a situação e não resolvendo", advertiu Tobias Ellwood, secretário de Estado britânico, encarregado da África e o Oriente Médio. "Isso é vergonhoso e não é uma ação ou liderança que nós esperamos de uma nação P-5", declarou, se referindo aos cinco membros permanentes do Conselho de Segurança da ONU, China, EUA, França, Reino Unido e Rússia.
Paulo Pinheiro, presidente da comissão de inquérito da ONU sobre a Síria, que dirigiu a sessão especial, afirmou que o painel vai continuar a documentar os crimes de guerra em Aleppo e exigiu do governo do presidente Bashar al-Assad informações sobre as violações.
Pausa humanitária e fuga
A ONU afirmou nesta sexta-feira que espera realizar as primeiras evacuações médicas de Aleppo, se houver uma "pausa humanitária" nos ataques realizados pelo Exército sírio e caças russos.
Apesar da queda na violência após o cessar-fogo unilateral que entrou em vigor na quinta-feira, poucos civis fizeram apelos para deixar as áreas controladas pelos rebeldes na cidade. A Rússia acusa os insurgentes de intimidação.
Inicialmente, a trégua unilateral teria duração de 11 horas, mas o ministro da Defesa russo, Sergei Shoigu, anunciou na quinta-feira que ela seria estendida "por 24 horas", não deixando claro exatamente quando terminará.
A parte leste de Aleppo, conquistada pelos rebeldes em 2012, está sitiada pelo Exército desde meados de julho e tem enfrentado bombardeios devastadores pelo governo e por sua aliada Rússia desde o lançamento da ofensiva para retomar a cidade, em 22 de setembro.
A Rússia anunciou a suspensão dos ataques aéreos a partir de terça-feira e o cessar-fogo unilateral a partir de quinta-feira. O Exército sírio abriu oito corredores na linha de frente para mais de 250 mil civis em áreas controladas por rebeldes, mas, até agora, quase nenhum aceitou a oferta.
"Não houve nenhum movimento nos corredores na parte leste da cidade. No momento, não temos visto qualquer movimento de moradores ou combatentes", afirmou Rami Abdel Rahman, chefe da ONG Observatório Sírio de Direitos Humanos (OSDH), sediada em Londres.
Mais de 500 mortos desde fim de setembro
Nesta quinta-feira, o secretário-geral da ONU, Ban Ki-moon, afirmou numa sessão especial da Assembleia Geral da organização, que o resultado da ofensiva contra Aleppo é "horrível". Quase 500 pessoas morreram e cerca de 2 mil ficaram feridas. Mais de um quarto das vítimas são crianças.
Desde o início de julho, nenhum veículo de ajuda humanitária da organização consegue chegar à cidade, e os alimentos vão terminar até o fim deste mês, alertou Ban. Em consequência, a fome será usada como arma de guerra.
O secretário-geral da ONU evocou catástrofes como em Srebrenica e Ruanda. "Quando a comunidade internacional finalmente vai unir esforços para acabar com essa carnificina?", questionou. Ban pediu o "acesso humanitário completo" à zona leste da cidade síria.
FC/dpa/afp/rtr
Amor em tempos de guerra na Síria
Apesar dos contínuos bombardeios sobre sua cidade natal, um casal de Homs recusou-se a abandonar a esperança, usando as ruínas como cenário para seu álbum de casamento. A agência AFP deu projeção mundial às imagens.
Foto: Getty Images/AFP/J. Eid
Vida e amor entre ruínas
Nada Merhi, de 18 anos, e o soldado Hassan Youssef, de 27, escolheram um pano de fundo inusitado para suas fotos de casamento: as ruínas de sua cidade natal, Homs, na Síria, destroçada por bombardeios. A ideia foi do fotógrafo Jafar Meray, com a intenção de mostrar que "a vida é mais forte do que a morte".
Foto: Getty Images/AFP/J. Eid
"O amor reconstrói a Síria"
Um mês depois de o casal sírio posar na cidade bombardeada, a agência de notícias francesa AFP divulgou uma série feita por um de seus fotojornalistas, documentando a iniciativa. O fotógrafo Meray postou o inusitado álbum de casamento no Facebook, sob o título "O amor reconstrói a Síria".
Foto: Getty Images/AFP/J. Eid
Cidade dilacerada
A guerra civil na Síria já fez mais de 250 mil vítimas, a maior parte delas civis. Terceira maior cidade síria, Homs tem sofrido tremendamente com as ofensivas das forças leais ao presidente Bashar al-Assad. Ela foi uma das primeiras cidades a se opor ao governo em 2012, embora em vão. Desde então, o governo conseguiu expulsar de Homs a maioria dos combatentes rebeldes.
Foto: Getty Images/AFP/J. Eid
Destroços cinzentos, vestido branco
Em meio à antes próspera metrópole, o branco do vestido de noiva de Nada realça a destruição que circunda o jovem casal. Buracos de bala, prédios abandonados, ruínas incendiadas e estradas desertas são um lembrete constante das vidas que Homs abrigava antes da guerra civil.
Foto: Getty Images/AFP/J. Eid
Ataques continuam
Homs continua sendo alvo frequente de ataques armados. Em 26 de janeiro de 2016, 22 pessoas foram mortas e mais de cem feridas num atentado suicida a bomba no bairro de Al-Zahra. A maioria da população local é de alauítas, a seita islâmica minoritária a que também pertencem o presidente Assad e sua família. A milícia jihadista do "Estado Islâmico" (EI) reivindicou o ato terrorista.
Foto: Getty Images/AFP/J. Eid
Homs não é única vítima
Desde 30 de setembro de 2015, aviões de combate russos têm realizado ofensivas aéreas em apoio às forças de Assad. Homs não é a única cidade síria atingida: em 15 de fevereiro, um hospital perto de Murat al-Numan, a cerca de 280 quilômetros de Damasco, foi atingido por bombardeios. Ao menos nove pessoas morreram.
Foto: Getty Images/AFP/J. Eid
Pressão internacional
Numa entrevista à agência de notícias AFP, Assad afirmou que continuaria a lutar, apesar da pressão internacional crescente no sentido de um cessar-fogo. O ministro saudita do Exterior, Adel al-Jubeir, rebateu, falando a um jornal alemão: "Não vai mais haver um Bashar al-Assad no futuro. Ele não vai mais arcar com a responsabilidade pela Síria."
Foto: Getty Images/AFP/J. Eid
Destaque na Conferência de Munique
O sofrimento contínuo dos habitantes nas áreas sitiadas da Síria foi um dos pontos centrais de debate na Conferência de Segurança de Munique, realizada de 12 a 14 de fevereiro de 2016 e dedicada à segurança. O secretário de Estado americano, John Kerry, declarou: "Em nossa opinião, a grande maioria dos ataques da Rússia foi contra grupos oposicionistas legítimos."
Foto: Getty Images/AFP/J. Eid
Repercussão na rede social
Alguns usuários do Facebook comentaram as imagens de Jafar Meray de forma emocional. "Sinto-me como o noivo na foto", escreveu um deles. Outro desejou: "Que Deus esteja com vocês e com todos os sírios. Obrigado por todas estas fotos e por partilhá-las com o mundo." Um terceiro propôs um título alternativo: "Amor em tempos de guerra".
Foto: Getty Images/AFP/J. Eid
Prova de que a vida continua
As fotografias de Meray se tornaram um sucesso tão grande que, além de comentá-las, seus seguidores no Facebook criaram sequências de slides com a série e a transformaram em vídeos para o YouTube. Para um usuário, o trabalho de Meray é "prova de que a vida continua, mesmo em Homs, a cidade mais devastada da Síria".