Nações Unidas pedem cessar-fogo humanitário na cidade síria, palco de intensos conflitos entre regime e oposição, para que redes de água e luz sejam reparadas. Sobretudo crianças correm risco devido a água contaminada.
Anúncio
A Organização das Nações Unidas (ONU) pediu nesta terça-feira (09/08) um cessar-fogo urgente na cidade síria de Aleppo, dividida entre regime e oposição e onde dois milhões de pessoas estão sem acesso a água corrente limpa.
O alerta é feito num momento em que ativistas sírios relatam bombardeios de aviões de guerra do governo a áreas da cidade controladas pela oposição. A ONU pede uma "pausa humanitária" nos combates, para que seja possível levar alimentos e medicamentos à população e para que técnicos possam reparar redes elétricas e de água, que sofreram danos graves nos ataques dos últimos dias.
A ONU tem que "as consequências sejam terríveis para milhões de civis se as redes de luz e água não forem imediatamente reparadas", disse a organização em comunicado.
Estima-se que entre 250 mil e 275 mil pessoas estejam sitiadas no leste de Aleppo, após a estrada de Castello ter sido bloqueada no mês passado, que era o último acesso à área controlada pela oposição.
No último sábado, os rebeldes conseguiram romper o cerco do governo, que já durava um mês. O avanço da oposição danificou o corredor de abastecimento do governo e levantou temores de que um cerco seja imposto pelos insurgentes ao oeste da cidade, controlado pelo regime.
Crianças em risco
Segundo o Fundo das Nações Unidas para a Infância (Unicef), crianças pequenas são especialmente vulneráveis a diarreia e outras doenças ao beberem água suja e em meio a uma onda de calor.
"Nas áreas a leste de Aleppo, até 300 mil pessoas – sendo um terço delas crianças – estão dependendo de poços cuja água está potencialmente contaminada por coliformes fecais e é imprópria para beber", disse Christophe Boulierac, porta-voz do Unicef.
Ele afirmou que o Unicef e outras agências estão levando diariamente água potável em caminhões a cerca de 325 mil pessoas no oeste de Aleppo.
Ao mesmo tempo, falta atendimento aos doentes e feridos. Ao menos dez ataques a instituições de saúde no leste de Aleppo foram confirmados somente em julho, segundo a Organização Mundial da Saúde (OMS).
"De acordo com autoridades de saúde do leste de Aleppo, oito em cada dez hospitais e 13 em cada 28 centros de atendimento primário estão funcionando somente parcialmente ou fora de serviço como resultado dos ataques", disse Tarik Jasarevic, porta-voz da OMS. "Somente 35 médicos permanecem na cidade", disse.
LPF/rtr/ap
Amor em tempos de guerra na Síria
Apesar dos contínuos bombardeios sobre sua cidade natal, um casal de Homs recusou-se a abandonar a esperança, usando as ruínas como cenário para seu álbum de casamento. A agência AFP deu projeção mundial às imagens.
Foto: Getty Images/AFP/J. Eid
Vida e amor entre ruínas
Nada Merhi, de 18 anos, e o soldado Hassan Youssef, de 27, escolheram um pano de fundo inusitado para suas fotos de casamento: as ruínas de sua cidade natal, Homs, na Síria, destroçada por bombardeios. A ideia foi do fotógrafo Jafar Meray, com a intenção de mostrar que "a vida é mais forte do que a morte".
Foto: Getty Images/AFP/J. Eid
"O amor reconstrói a Síria"
Um mês depois de o casal sírio posar na cidade bombardeada, a agência de notícias francesa AFP divulgou uma série feita por um de seus fotojornalistas, documentando a iniciativa. O fotógrafo Meray postou o inusitado álbum de casamento no Facebook, sob o título "O amor reconstrói a Síria".
Foto: Getty Images/AFP/J. Eid
Cidade dilacerada
A guerra civil na Síria já fez mais de 250 mil vítimas, a maior parte delas civis. Terceira maior cidade síria, Homs tem sofrido tremendamente com as ofensivas das forças leais ao presidente Bashar al-Assad. Ela foi uma das primeiras cidades a se opor ao governo em 2012, embora em vão. Desde então, o governo conseguiu expulsar de Homs a maioria dos combatentes rebeldes.
Foto: Getty Images/AFP/J. Eid
Destroços cinzentos, vestido branco
Em meio à antes próspera metrópole, o branco do vestido de noiva de Nada realça a destruição que circunda o jovem casal. Buracos de bala, prédios abandonados, ruínas incendiadas e estradas desertas são um lembrete constante das vidas que Homs abrigava antes da guerra civil.
Foto: Getty Images/AFP/J. Eid
Ataques continuam
Homs continua sendo alvo frequente de ataques armados. Em 26 de janeiro de 2016, 22 pessoas foram mortas e mais de cem feridas num atentado suicida a bomba no bairro de Al-Zahra. A maioria da população local é de alauítas, a seita islâmica minoritária a que também pertencem o presidente Assad e sua família. A milícia jihadista do "Estado Islâmico" (EI) reivindicou o ato terrorista.
Foto: Getty Images/AFP/J. Eid
Homs não é única vítima
Desde 30 de setembro de 2015, aviões de combate russos têm realizado ofensivas aéreas em apoio às forças de Assad. Homs não é a única cidade síria atingida: em 15 de fevereiro, um hospital perto de Murat al-Numan, a cerca de 280 quilômetros de Damasco, foi atingido por bombardeios. Ao menos nove pessoas morreram.
Foto: Getty Images/AFP/J. Eid
Pressão internacional
Numa entrevista à agência de notícias AFP, Assad afirmou que continuaria a lutar, apesar da pressão internacional crescente no sentido de um cessar-fogo. O ministro saudita do Exterior, Adel al-Jubeir, rebateu, falando a um jornal alemão: "Não vai mais haver um Bashar al-Assad no futuro. Ele não vai mais arcar com a responsabilidade pela Síria."
Foto: Getty Images/AFP/J. Eid
Destaque na Conferência de Munique
O sofrimento contínuo dos habitantes nas áreas sitiadas da Síria foi um dos pontos centrais de debate na Conferência de Segurança de Munique, realizada de 12 a 14 de fevereiro de 2016 e dedicada à segurança. O secretário de Estado americano, John Kerry, declarou: "Em nossa opinião, a grande maioria dos ataques da Rússia foi contra grupos oposicionistas legítimos."
Foto: Getty Images/AFP/J. Eid
Repercussão na rede social
Alguns usuários do Facebook comentaram as imagens de Jafar Meray de forma emocional. "Sinto-me como o noivo na foto", escreveu um deles. Outro desejou: "Que Deus esteja com vocês e com todos os sírios. Obrigado por todas estas fotos e por partilhá-las com o mundo." Um terceiro propôs um título alternativo: "Amor em tempos de guerra".
Foto: Getty Images/AFP/J. Eid
Prova de que a vida continua
As fotografias de Meray se tornaram um sucesso tão grande que, além de comentá-las, seus seguidores no Facebook criaram sequências de slides com a série e a transformaram em vídeos para o YouTube. Para um usuário, o trabalho de Meray é "prova de que a vida continua, mesmo em Homs, a cidade mais devastada da Síria".