Relatório divulgado pelas Nações Unidas denuncia que os dois lados cometeram sérias violações dos direitos humanos no conflito de 2014. "Extensão da devastação foi sem precedentes", diz documento.
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Um relatório divulgado nesta segunda-feira (22/06) pelas Nações Unidas aponta que tanto Israel quanto grupos armados palestinos cometeram sérias violações dos direitos humanos durante o último conflito na Faixa de Gaza, em 2014. As ações de ambos os lados, segundo o texto, podem configurar crimes de guerra.
Mais de 2,1 mil palestinos morreram nos ataques, um terço deles, crianças. Israel registrou 73 vítimas, a maioria soldados, durante as sete semanas de bombardeio, entre julho e agosto do ano passado.
"A extensão da devastação e do sofrimento humano em Gaza foi sem precedentes e terá impacto sobre as gerações futuras", disse em comunicado a presidente da Comissão Independente de Inquérito da ONU, Mary McGowan Davis.
O documento mostra que Israel efetuou mais de 6 mil ataques aéreos e disparou 50 mil projéteis de artilharia. Já os grupos armados palestinos, sobretudo o Hamas, soltaram quase 5 mil mísseis e mais de 1,7 mil morteiros.
A ONU denuncia "a impunidade que prevalece em todos os níveis" em Israel e apela para que o país julgue os responsáveis. A organização também lamenta que as autoridades palestinas tenham "sempre falhado" na hora de punir os que violam as leis internacionais.
A comissão também expressa "preocupação com a ampla utilização de armas letais por Israel" e critica o disparo "indiscriminado" de milhares de foguetes a partir dos territórios palestnios para "espalhar terror" entre os civis israelenses.
Israel foi contrário à investigação da ONU e proibiu a entrada da comissão de inquérito nos territórios palestinos. A comissão recolheu os testemunhos por teleconferência e chamadas de telefone.
O primeiro-ministro de Israel, Benjamin Netanyahu, criticou o relatório e disse que seu país não cometeu crimes de guerra. "Este organismo condena Israel mais do que Irã, Síria e Coreia do Norte juntos", assegurou Netanyahu. "Israel não comete crimes de guerra. Se defende de uma organização terrorista assassina que pede sua destruição e que perpetrou muitos crimes de guerra."
O Hamas, por outro lado, aplaudiu a divulgação do relatório. "Essa condenação franca pede um novo passo para levar os líderes da ocupação [Israel] ao Tribunal Penal Internacional e a outras cortes internacionais para processá-los pelos crimes cometidos contra o nosso povo."
A divulgação do relatório das Nações Unidas estava programada para março. O lançamento foi adiado para junho, depois de o presidente da comissão de investigação pedir demissão, pressionado por Israel.
KG/lusa/afp/rtr
Os 50 dias de guerra em Gaza em 2014
Os momentos-chave do conflito entre Israel e Hamas, que deixou mais de 2 mil mortos.
Foto: Reuters
Governo de unidade palestino
Em 2 de junho, en Ramallah, na Cisjordânia, Hamas e Fatah oficializam um governo de unidade. Europeus e americanos manifestam apoio, porém com cautela. O governo israelense reage e suspende as negociações de paz mediadas pelos Estados Unidos, por considerar o Hamas uma organização terrorista.
Foto: Reuters
Sequestro de três estudantes
Em 12 de junho, três estudantes israelenses são sequestrados. O primeiro-ministro Benjamin Netanyahu culpa o Hamas pelo desaparecimento dos jovens. No final de junho, os corpos são encontrados. Em 23 de agosto, pouco antes do cessar-fogo duradouro, o Hamas assumiria envolvimento no assassinato dos três.
Foto: Menahem Kahana/AFP/Getty Images
Assassinato de jovem palestino
Em 2 de julho, o corpo de um adolescente palestino, de 16 anos, é encontrado numa floresta perto de Jerusalém. A família acusa colonos israelenses do assassinato. Na parte árabe de Jerusalém, há confrontos com a polícia israelense. Após seguidos lançamentos de foguetes a partir da Faixa de Gaza, o Exército israelense move tropas adicionais à divisa com o território palestino.
Foto: Getty Images
Começa a guerra
Em 8 de julho, o conflito entre israelenses e palestinos torna-se novamente uma guerra. Em poucas horas, dezenas de foguetes são lançados da Faixa de Gaza contra Israel. Não há feridos, já que grande parte dos mísseis são destruídos no ar. Nos ataques aéreos israelenses, mais de 20 pessoas são mortas.
Foto: Reuters
Iniciam-se as negociações
Após uma semana de conflito, em 14 de julho surge a primeira esperança de um cessar-fogo. O Egito intervém como mediador. Israel concorda com uma trégua prevista para o dia seguinte. O Hamas rejeita a proposta egípcia. "Um armistício sem um acordo com Israel está fora de questão", disse o porta-voz do grupo. A guerra, então, já tinha 180 mortos.
Foto: Reuters
A primeira trégua
Em 17 de julho, pela primeira vez desde o início dos combates, Israel e Hamas concordam com um cessar-fogo de cinco horas. Após o período, Israel começa uma ofensiva terrestre. Netanyahu detalha os objetivos da operação: a infraestrutura do Hamas deve ser destruída, especialmente os chamados "túneis do terror".
Foto: DAVID BUIMOVITCH/AFP/Getty Images
Protestos pelo mundo
O secretário-geral da ONU, Ban Ki-moon, apela por uma suspensão dos ataques. Um dia depois, em 20 de julho, ele viaja com o secretário de Estado dos EUA, John Kerry, ao Cairo para discutir uma trégua. Em Gaza, milhares de pessoas fogem de suas casas e procuram abrigo. Em alguns países, há protestos contra a ofensiva de Israel. Em Paris, há manifestações e ataques contra instituições judaicas.
Foto: Reuters
Ataque a escola da ONU
Em 24 de julho, 15 pessoas morrem e mais de 200 ficam feridas em um ataque israelense a uma escola das Nações Unidas. O Exército de Israel argumenta que havia avisado sobre a investida antes de ela ocorrer. A agência de refugiados da ONU informa que a evacuação da escola não era possível. Mais de 570 palestinos e 25 soldados israelenses são as vítimas da guerra até então.
Foto: Reuters
Novo cessar-fogo
Em 26 de julho, começa um cessar-fogo de 12 horas. Em Paris, ministros do Exterior se encontram para discutir uma trégua permanente. Muitos palestinos usam a suspensão dos ataques para comprar medicamentos e alimentos. Os serviços de emergência retiram mais de 130 corpos dos escombros. Israel anuncia o prolongamento do cessar-fogo por algumas horas, mas o Hamas dispara foguetes novamente.
Foto: imago
Tréguas violadas
Uma nova trégua é violada, em 1º de agosto. Nos dias seguintes, o caso se repete. No início de agosto, Israel dispara novamente contra uma escola da ONU e, em seguida, retira as tropas terrestres da Faixa de Gaza. No Cairo, as partes envolvidas no conflito negociam um cessar-fogo duradouro.
Foto: picture-alliance/dpa
Chance à paz
A mais longa trégua desde o início da guerra possibilita, a partir de 10 de agosto, negociações. O cessar-fogo que era para durar três dias se estende por nove. O mediador, Egito, evita a longa lista de exigências dos dois lados. Um pequeno texto seria promissor para um possível acordo. A abertura das fronteiras de Gaza e a expansão gradual da zona de pesca são discutidas.
Foto: picture-alliance/AP
Mortes passam de 2 mil
Um armistício permanente é quase alcançado em 19 de agosto. Mas foguetes são novamente lançados. Israel responde e mata, entre outros, a mulher e filho de um chefe militar do Hamas nos ataques. Dois mil palestinos foram mortos e mais de 10 mil ficaram feridos na guerra. O lado israelense contabiliza as mortes de 64 soldados e três civis. Uma criança israelense morre por um foguete lançado de Gaza.
Foto: Menahem Kahana/AFP/Getty Images
Cessar-fogo permanente
Depois de 50 dias de guerra, em 26 de agosto o Egito consegue fazer as duas partes chegarem, enfim, a um cessar-fogo permanente. O acordo entre os palestinos e Israel garante que as fronteiras de Gaza serão reabertas. As negociações para tratar de mais detalhes do acordo continuam em quatro semanas.