ONU: 30 mil terroristas estrangeiros na Síria e Iraque
5 de julho de 2016
Comitê Contra o Terrorismo alerta para o risco de ataques cada vez mais fortes nos países de origem dos combatentes, à medida que luta contra o "Estado Islâmico" avança no Oriente Médio.
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Aproximadamente 30 mil combatentes terroristas estrangeiros estão no Iraque e na Síria, afirmou nesta terça-feira (05/07) o diretor do Comitê da ONU Contra o Terrorismo, Jean-Paul Laborde, que advertiu contra o risco de "ataques cada vez mais fortes" nos seus países de origem.
"Os combatentes terroristas estrangeiros são muito numerosos" no Iraque e na Síria, afirmou Laborde. "São cerca de 30 mil. E agora que o espaço vital do Daesh [acrônimo árabe do grupo extremista "Estado Islâmico" (EI)] se reduz no Iraque, vemos eles regressar para nós, não apenas para a Europa, mas também para os seus países de origem, como Tunísia ou Marrocos", disse em Genebra.
"Os ataques terroristas nos países de origem tendem a ser cada vez mais fortes para contrabalancear a pressão que é exercida sobre eles", insistiu. Laborde apelou aos países para colocarem em prática uma "filtragem" destinada a distinguir "entre uma grande parte dos combatentes estrangeiros que não são pessoas perigosas e aquelas que são".
O diplomata francês acrescentou que a comunidade internacional dispõe de utensílios jurídicos para combater o terrorismo, mas sublinhou que "a adaptabilidade e flexibilidade das organizações terroristas é muito mais rápida que a nossa".
Laborde defendeu uma cooperação conjunta da comunidade internacional com empresas privadas, como Google, Twitter e Microsoft, para combater o deficit de flexibilidade e vigiar os terroristas de forma mais eficaz na internet, sem, no entanto, violar a liberdade de expressão.
Ele apelou ainda aos governos nacionais para compartilharem de forma mais rápida as informações, considerando que, se isso não for feito, os atos terroristas continuarão crescendo.
O Comitê Contra o Terrorismo, no qual estão representados os países-membros do Conselho de Segurança, foi criado em Nova York logo após os atentados de 11 de setembro de 2001 nos Estados Unidos.
PV/lusa/afp
"Estado Islâmico": de militância sunita a califado
Origens do grupo jihadista remontam à invasão do Iraque, em 2003. Nascido como oposição ao domínio xiita e inicialmente um braço da Al Qaeda, EI passou por mudanças e virou uma ameaça internacional.
Foto: picture-alliance/AP Photo
A origem do "Estado Islâmico"
A trajetória do "Estado Islâmico" (EI) começou em 2003, com a derrubada do ditador iraquiano Saddam Hussein pelos EUA. O grupo sunita surgiu a partir da união de diversas organizações extremistas, leais ao antigo regime, que lutavam contra a ocupação americana e contra a ascensão dos xiitas ao governo iraquiano.
Foto: picture-alliance/AP Photo
Braço da Al Qaeda
A insurreição se tornou cada vez mais radical, à medida que fundamentalistas islâmicos liderados pelo jordaniano Abu Musab al Zarqawi, fundador da Al Qaeda no Iraque (AQI), infiltraram suas alas. Os militantes liderados por Zarqawi eram tão cruéis que tribos sunitas no Iraque ocidental se voltaram contra eles e se aliaram às forças americanas, no que ficou conhecido como "Despertar Sunita".
Foto: AP
Aparente contenção
Em junho de 2006, as Forças Armadas dos EUA mataram Zarqawi numa ofensiva aérea e ele foi sucedido por Abu Ayyub al-Masri e Abu Omar al-Bagdadi. A AQI mudou de nome para Estado Islâmico do Iraque (EII). No ano seguinte, Washington intensificou sua presença militar no país. Masri e Bagdadi foram mortos em 2010.
Foto: AP
Volta dos jihadistas
Após a retirada das tropas dos EUA do Iraque, efetuada entre junho de 2009 e dezembro de 2011, os jihadistas começaram a se reagrupar, tendo como novo líder Abu Bakr al-Bagdadi, que teria convivido e atuado com Zarqawi no Afeganistão. Ele rebatizou o grupo militante sunita como Estado Islâmico do Iraque e do Levante (EIIL).
Foto: picture alliance/dpa
Ruptura com Al Qaeda
Em 2011, quando a Síria mergulhou na guerra civil, o EIIL atravessou a fronteira para participar da luta contra o presidente Bashar al-Assad. Os jihadistas tentaram se fundir com a Frente Al Nusrah, outro grupo da Síria associado à Al Qaeda. Isso provocou uma ruptura entre o EIIL e a central da Al Qaeda no Paquistão, pois o líder desta, Ayman al-Zawahiri, rejeitou a manobra.
Foto: dapd
Ascensão do "Estado Islâmico"
Apesar do racha com a Al Qaeda, o EIIL fez conquistas significativas na Síria, combatendo tanto as forças de Assad quanto rebeldes moderados. Após estabelecer uma base militar no nordeste do país, lançou uma ofensiva contra o Iraque, tomando sua segunda maior cidade, Mossul, em 10 de junho de 2014. Nesse momento o grupo já havia sido novamente rebatizado, desta vez como "Estado Islâmico".
Foto: picture alliance / AP Photo
Importância de Mossul
A tomada da metrópole iraquiana Mossul foi significativa, tanto do ponto de vista econômico quanto estratégico. Ela é uma importante rota de exportação de petróleo e ponto de convergência dos caminhos para a Síria. Mas a conquista da cidade é vista como apenas uma etapa para os extremistas, que pretenderiam avançar a partir dela.
Foto: Getty Images
Atual abrangência do EI
Além das áreas atingidas pela guerra civil na Síria, o EI avançou continuamente pelo norte e oeste iraquianos, enquanto as forças federais de segurança entravam em colapso. No fim de junho, a organização declarou um "Estado Islâmico" que atravessa a fronteira sírio-iraquiana e tem Abu Bakr al-Bagdadi como "califa".
Foto: Reuters
As leis do "califado"
Abu Bakr al-Bagdadi impôs uma forma implacável da charia, a lei tradicional islâmica, com penas que incluem mutilações e execuções públicas. Membros de minorias religiosas, como cristãos e yazidis, deixaram a região do "califado" após serem colocados diante da opção: converter-se ao islã sunita, pagar um imposto ou serem executados. Os xiitas também eram alvo de perseguição.
Foto: Reuters
Guerra contra o patrimônio histórico
O EI destruiu tesouros arqueológicos milenares em cidades como Palmira (foto), na Síria, ou Mossul, Hatra e Nínive, no Iraque. Eles diziam que esculturas antigas entram em contradição com sua interpretação radical dos princípios do Islã. Especialistas afirmam, porém, que o grupo faturou alto no mercado internacional com a venda ilegal de estátuas menores, enquanto as maiores eram destruídas.
Foto: Fotolia/bbbar
Ameaça terrorista
Durante suas ofensivas armadas, o "Estado Islâmico" saqueou centenas de milhões de dólares em dinheiro e ocupou diversos campos petrolíferos no Iraque e na Síria. Seus militantes também se apossaram do armamento militar de fabricação americana das forças governamentais iraquianas, obtendo, assim, poder de fogo adicional.