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CatástrofeLíbia

ONU diz que alerta poderia ter poupado vidas na Líbia

14 de setembro de 2023

Organização aponta que maioria das mortes causadas pelas enchentes na Líbia poderia ter sido evitada se sistemas de alarme e gestão de emergência funcionassem adequadamente. Mortes podem chegar a 20 mil

Carro destruído em meio a entulho
Paisagem de destruição em Derna: enxurrada rompeu duas barragens fluviais e reduziu a cidade a um deserto apocalípticoFoto: Esam Omran Al-Fetori/REUTERS

A Organização das Nações Unidas (ONU) disse nesta quinta-feira (14/09) que a maioria das mortes no desastre das enchentes na Líbia poderia ter sido evitada se os sistemas de alerta precoce e gestão de emergências tivessem funcionado adequadamente.

"Com um melhor funcionamento da coordenação no país assolado pela crise, o custo humano poderia ter sido muito menor”, afirmou a Organização Meteorológica Mundial (OMM) da ONU. A entidade advertiu, ainda, que outros países atingidos por conflitos enfrentam deficiências semelhantes nos seus sistemas de alerta precoce.

Se o sistema na Líbia funcionasse corretamente, "as forças de gestão de emergência teriam sido capazes de realizar a evacuação das pessoas, e poderíamos ter evitado a maioria das vítimas humanas”, disse o chefe da OMM, Petteri Taalas, a jornalistas em Genebra.

Os comentários foram feitos após uma enchente repentina do tamanho de um tsunami atingir o leste da Líbia no fim de semana, matando pelo menos 4 mil pessoas, com milhares de desaparecidos.

A enxurrada rompeu duas barragens fluviais e reduziu a cidade de Derna a um deserto apocalíptico onde quarteirões inteiros e um número expressivo de pessoas foram arrastados para o Mar Mediterrâneo.

Taalas disse que a falta de previsão do tempo, divulgação e ação em alertas precoces contribuiu muito para a dimensão do desastre.

Anos de conflito e crise dificultam prevenção

O conflito interno e a crise política que há anos assolam o país fizeram com que a sua "rede de observação meteorológica tenha sido muito destruída, os sistemas de TI foram destruídos", disse. "As inundações ocorreram e não houve evacuação, porque não havia sistemas de alerta precoce adequados”.

O Centro Meteorológico Nacional da Líbia (NMC) emitiu alertas antecipados para condições meteorológicas extremas com 72 horas de antecedência e notificou as autoridades governamentais por e-mail, instando-as a tomar medidas preventivas.

Mas a OMM disse que "não está claro se (os alertas) foram efetivamente disseminados”.

Embora já tenha havido no passado uma cooperação estreita entre os serviços meteorológicos e a gestão de catástrofes em toda a Líbia, atualmente isso não ocorre mais.

Embora nenhuma evacuação tenha sido ordenada, foi ordenado um toque de recolher em várias cidades do leste, incluindo Derna, o que significa que a maioria das pessoas estava em suas casas quando as barragens se romperam.

O escritório regional da OMM no Bahrein disse que "o problema não estava em emitir o alerta” em tempo hábil, mas no fato de que "não havia capacidade para lidar com tal situação”, especialmente porque o rompimento das duas barragens criou um cenário "sem precedentes”.

"Até 20 mil mortos"

Dadas as divisões políticas na Líbia, com o epicentro do desastre em torno de Derna controlado por uma administração regional separada do governo internacionalmente reconhecido em Trípoli, os números de mortos na manhã desta quinta-feira variavam entre 4 mil e 5 mil – mas espera-se que aumentem dramaticamente.

Ossama Ali, porta-voz de um centro de ambulâncias no leste da Líbia, disse à agência Associated Press (AP) que pelo menos 9 mil pessoas ainda estavam desaparecidas, enquanto Abdulmenam al-Ghaithi, o prefeito de Derna, previu "18 mil a 20 mil mortes, com base nos distritos de Derna" sozinhos.

Até um terço da cidade portuária foi destruído quando fortes chuvas da tempestade mediterrânea Daniel causaram o rompimento de duas barragens acima da cidade. As enchentes inundaram o Wadi Derna, um vale que atravessa a cidade, destruindo edifícios e arrastando pessoas para o mar.

Segundo a imprensa local, as barragens, construídas na década de 1970, não foram devidamente mantidas durante anos de guerra civil.

Em outros lugares, a tempestade ceifou cerca de 170 vidas nas cidades vizinhas de Bayda, Susa, Um Razaz e Marj, segundo o ministro regional da Saúde, Othman Abduljaleel. A mídia líbia também disse que dezenas de migrantes sudaneses foram mortos no desastre.

md (AFP, AP)

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