ONU diz que "Estado Islâmico" comete crimes estarrecedores no Iraque
2 de outubro de 2014
Violência sexual, execuções e uso de crianças como soldados são algumas das violações dos direitos humanos cometidas pelos jihadistas, afirma relatório das Nações Unidas.
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Jihadistas do grupo "Estado Islâmico" (EI) estão provocando violações dos direitos humanos "estarrecedoras" no Iraque, que podem ser classificadas como crimes de guerra e, como tais, precisam ser julgadas, afirmou a Organização das Nações Unidas nesta quinta-feira (02/10).
Segundo relatório da ONU, os extremistas estão fazendo crianças de soldados, realizando execuções em massa e expondo mulheres e crianças à escravidão sexual e violência psicológica. O texto cita também a destruição cultural e profanação religiosa provocada pelos radicais. Entre as minorias perseguidas estão cristãos, curdos, xiitas, yazidis, shabaks e turcomenos.
"A série de violações e abusos cometidos pelo 'Estado Islâmico' e grupos armados associados é estarrecedora, e muitos desses atos devem ser contados como crimes de guerra ou crimes contra a humanidade", afirmou o alto comissário para Direitos Humanos da ONU, Zeid Ra'ad al Hussein, por meio de uma nota.
Ele pediu ao governo em Bagdá que passe a fazer parte do Tribunal Criminal Internacional, ressaltando que a corte em Haia foi criada exatamente para julgar casos de abusos em massa e que visem atingir civis diretamente, com base em seus grupos étnicos e religiosos.
As Nações Unidas expressaram ainda preocupação com ataques aéreos realizados pelo governo iraquiano e que causaram um "significante número de civis mortos" ao atingir não apenas alvos militares, mas também povoados, uma escola e hospitais, violando leis internacionais.
Mortos e refugiados
Pelo menos 9.347 civis morreram e mais de 17 mil ficaram feridos em confrontos no Iraque este ano, tendo mais da metade dos casos ocorrido desde que os jihadistas assumiram o controle de grandes partes do norte do Iraque no começo de junho.
Vida e tradições dos yazidis
Desde os ataques da organização terrorista “Estado Islâmico“, os yazidis entraram no foco da atenção pública mundial. Porém pouco se sabe sobre as origens, crenças e tradições dessa comunidade etnorreligiosa curda.
Foto: Yezidisches Forum e.V.
Pavão Anjo
A crença dos curdos yazidis é mais antiga do que o cristianismo e o islã. Em sua teologia, existe um Deus acima de tudo, mas não existe um diabo. Melek Taus, o "Pavão Anjo", tem significado central. Segundo a mitologia yazidi, ele honrou de maneira especial a onipotência de Deus, sendo, por isso, eleito chefe dos sete anjos.
Local sagrado
O santuário mais importante para os yazidis é o sítio de peregrinação Lalish. Lá se encontram duas fontes sagradas e o túmulo do xeique Adi ibn Musafir, o principal santo dos yazidis. A origem exata de Lalish ainda não foi pesquisada. Hoje, essa região isolada no norte do Iraque é estritamente vigiada por combatentes curdos peshmerga.
Foto: Yezidisches Forum e.V.
Origem no Iraque
A população total dos yazidis é estimada em 800 mil. A maioria vive no norte do Iraque e há pequenos grupos na Síria, Turquia, Armênia e Geórgia. A maior comunidade yazidi na Europa está na Alemanha. Calcula-se que residam no país cerca de 60 mil membros da comunidade, mas não há números exatos a respeito.
Foto: Yezidisches Forum e.V.
Opressão e expulsão
Os curdos yazidis do norte do Iraque já eram uma comunidade religiosa perseguida mesmo antes dos ataques do grupo terrorista "Estado islâmico". Durante o regime de Saddam Hussein (1979-2003) e até antes, eles estiveram expostos à hostilidade de outros grupos religiosos. Alguns muçulmanos consideram os yazidis uma seita rebelde.
Foto: Reuters
Protestos na Alemanha
No segundo semestre de 2014, yazidis protestaram em diversas cidades da Alemanha, pedindo proteção para seus familiares e amigos. Muitos exigiram da União Europeia ações mais decisivas. A maioria dos yazidis da Alemanha vive na Renânia do Norte-Vestfália e na Baixa Saxônia. Muitos imigraram já na década de 1980, como refugiados.
Foto: DW/M. Lütticke
Tradições mantidas
Também na Alemanha os yazidis dão continuidade a suas tradições, o que inclui vestir os trajes típicos nas festas tradicionais. Só se é yazidi de nascença: para eles, é impensável converter outras pessoas à sua religião. Por outro lado, não é fácil deixar a comunidade religiosa curda: os clãs familiares costumam impedir casamentos com não yazidis.
Foto: Yezidisches Forum e.V.
Cemitérios Yazidis
Em Hanover e outras cidades alemãs com grandes comunidades yazidis, desde algum tempo existe a possibilidade de funerais de acordo com as tradições religiosas da comunidade. Os cemitérios mantêm áreas reservadas, onde os mortos são lavados e velados segundo os ritos yazidis. Antes, era comum trasladar os mortos para seus países de origem.
Foto: Yezidisches Forum e.V.
Festa de peregrinos em Lalish
Todo ano, milhares de yazidis peregrinam até Lalisch. Lá veneram seus santos e os celebram com música tradicional religiosa. Para muitos, a peregrinação é um encontro "da grande família yazidi". A tradicional festa se realiza em outubro.
Foto: Yezidisches Forum e.V.
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O governo turco divulgou que o país já recebeu cerca de 1,3 milhão de refugiados da guerra civil na Síria. De acordo com a ONU, outros 1,8 milhão, em sua maioria refugiados iraquianos, estão à procura de abrigo na região autônoma curda no norte do Iraque.
Com 29 páginas, o relatório foi elaborado com base em 500 entrevistas com testemunhas e cobre o período de 6 de julho a 10 de setembro. De acordo com o documento, em um único dia, 12 de junho, cerca de 1,5 mil soldados iraquianos e agentes de segurança da antiga base militar americana de Camp Speicher, na província de Salauddin, foram capturados e mortos por combatentes do EI.
Em outro episódio relatado pela ONU, entre 450 e 500 mulheres e garotas foram levadas pelo EI para Tal Afar, na região de Nineveh, onde 150 "mulheres e meninas solteiras, predominantemente das comunidades yazidis e cristãs e foram transportadas para a Síria, ou para serem dadas a combatentes jihadistas como recompensa ou vendidas como escravas sexuais".
Confrontos continuam
Os extremistas do "Estado Islâmico" continuaram as ações militares em Ain al-Arab, cidade próxima à fronteira entre a Síria e a Turquia, nesta quinta-feira, apesar de a coalizão ter intensificado os ataques aéreos nos últimos dias e de alegar que os extremistas estariam enfraquecidos nesta região. Combatentes curdos, apoiados pela aliança militar liderada pelos EUA, travam intensas batalhas a fim de evitar que a cidade, também chamada de Kobane, caia nas mãos dos jihadistas.
"Há um temor real de que o EI possa avançar na cidade de Kobane muito brevemente", alertou o Observatório Sírio dos Direitos Humanos, uma ONG baseada em Londres. Segundo a organização, os aliados liderados pelos EUA realizaram novos ataques nas áreas tomadas pelos jihadistas durante a noite.
O Comando Central dos EUA informou que a coalizão já realizou pelo menos sete ataques em alvos do EI nos arredores de Kobane nos últimos cinco dias.
As combatentes peshmerga
Há quase duas décadas que mulheres lutam ao lado dos homens nas forças curdas, conhecidas como peshmerga, que lutam no norte do Iraque contra o "Estado Islâmico".
Foto: Getty Images/S. Hamed
O início
A primeira unidade feminina das forças peshmerga, como o Exército curdo é conhecido, remonta a 1996. Segundo o próprio Exército, cada vez mais mulheres se unem à luta dos curdos contra o "Estado Islâmico", mas não há verificação independente dessa informação.
Foto: Getty Images/S. Hamed
No front
Uma das maiores unidades femininas fica centenas de quilômetros ao sul de Dahuk, na província de Suleimânia. Cerca de 600 mulheres servem no local. Elas são responsáveis pela vigilância de prédios públicos e também de instalações militares. Cerca de cem já participaram de combates.
Foto: Getty Images/S. Hamed
Número desconhecido
A quantidade exata de mulheres que servem no Exército curdo é segredo militar. Mas a noção de que a participação feminina nas forças peshmerga é necessária é muito forte. "Quero aprender a manusear armas para defender meu país", declarou uma das combatentes. Os curdos possuem autonomia no norte do Iraque e lutam pelo próprio Estado.
Foto: AFP/Getty Images/S. Hamed
Solteiras e casadas
Algumas das mulheres que se alistam como voluntárias são casadas e têm filhos. Em alguns casos, os maridos também são combatentes. Outras são filhas de antigos soldados, ou lutam ao lado dos irmãos. Mas a maioria delas é solteira, e muitas se alistaram ainda adolescentes.
Foto: Reuters/Ahmed Jadallah
Aceitação
Algumas combatentes têm o apoio familiar. Mas nem sempre é o caso. De acordo com uma oficial, a unidade feminina ainda é vista com ceticismo por alguns homens. Mas muitos deles as apoiam e incentivam.
Foto: Getty Images/S. Hamed
Engajamento
Para a comandante de um regimento, os batalhões femininos são um acréscimo importante para o Exército peshmerga. E o comprometimento das mulheres é exemplar, afirma. "Aqui estão mulheres armadas e dispostas a lutar por seu país."
Foto: Getty Images/S. Hamed
Beleza e coragem
Peshmerga significa "aquele que encara a morte". O olhar determinado e a beleza de muitas das combatentes chamam a atenção.
Foto: Getty Images/S. Hamed
Contra o "Estado Islâmico"
Unidades femininas já participaram de combate contra milícias do "Estado Islâmico". Com o avanço dos radicais, a participação das mulheres ganha em importância.
Foto: AFP/Getty Images/S. Hamed
Medo das mulheres
Uma guerrilheira disse achar engraçada a ideia de encarar um dos jihadistas do Estado Islâmico, grupo radical que reprime as mulheres nas áreas que ocupa. "Acho que eles teriam mais medo de nós do que dos homens, pois acreditam que vão para o inferno se forem mortos por uma mulher."
Foto: AFP/Getty Images/S. Hamed
Luta contra a repressão
Outra guerrilheira disse que se alistou justamente para combater um grupo radical que reprime as mulheres, proibindo-as de circular nas ruas e obrigando-as a vestir a burca.