No Dia Mundial do Refugiado, Nações Unidas afirmam que país está na "vanguarda humanitária" pelo seu papel na crise migratória. Berlim, porém, alerta que não pode enfrentar esse desafio sozinho.
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O Alto Comissariado da ONU para os Refugiados (Acnur) enalteceu a Alemanha por estar na "vanguarda humanitária" pela forma como o país lida com a crise migratória mundial. Os comentários feitos pelo vice-alto comissário do Acnur, Volker Türk, vieram por ocasião do Dia Mundial do Refugiado.
Em entrevista à emissora de televisão ZDF, Türk afirmou que a Alemanha teve papel central ao ajudar a lidar com o fluxo migratório e disse esperar que o país lidere as iniciativas referentes ao acolhimento de refugiados durante a cúpula dos países do G20 em Hamburgo, no próximo mês.
Desde o auge da crise migratória, em 2015, a Alemanha acolheu mais de 1 milhão de pessoas que fugiam de conflitos no Oriente Médio e na África. No ano passado, o fluxo migratório para o país diminui significativamente após o fechamento da chamada rota dos Bálcãs e do acordo entre a União Europeia (UE) e a Turquia.
Recentemente, os recursos do país foram voltados para o fornecimento de ajuda humanitária a regiões em crise. Apenas em 2016, Berlim disponibilizou cerca de 1,3 bilhão de euros, colocando a Alemanha entre os doadores mais generosos em todo o mundo. Desse total, em torno de 307 milhões de euros foram destinados ao Acnur.
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Segundo o ministro alemão do Exterior, Sigmar Gabriel, o orçamento federal para fins humanitários aumentou mais de dez vezes nos últimos cinco anos. Ele exaltou o Acnur como "o maior parceiro humanitário" da Alemanha, ao mesmo tempo em que pediu à comunidade internacional para que faça mais para lidar com a questão dos refugiados.
"A Alemanha não pode lidar isoladamente com esses desafios", afirmou. "Precisamos de esforços conjuntos internacionais e uma melhor distribuição de responsabilidades, para que possamos trazer alívio ao sofrimento dos refugiados em todo o mundo e evitar que as crises migratórias de longo prazo possam ocorrer."
Segundo o Acnur, em todo o mundo, o número de pessoas forçadas a abandonar suas casas devido a guerras, violência ou perseguições chegou a 65,6 milhões em 2016, incluindo deslocados internos e refugiados. Esse total equivale à população de um país como o Reino Unido e é um pouco superior ao do ano anterior, de 65,3 milhões.
Apenas no ano passado, mais de 10 milhões de pessoas foram forçadas a se deslocar de seus locais de origem. Entre estes, mais de 3,5 milhões tiveram que deixar seus países. A Síria e o Afeganistão ainda são os locais de origem da maioria dos refugiados, com 5,5 milhões e 2,5 milhões, respectivamente.
O Sudão do Sul se tornou no ano passado o país com o maior aumento no deslocamento de pessoas. O número de cidadãos que fugiram através da fronteira passou de 800 mil para 1,4 milhão por ano.
RC/dpa/kna
As imagens que marcaram a crise migratória
Fotos impressionantes do enorme fluxo de migrantes para a Europa em 2015 e 2016 circularam pelo mundo. No Dia Mundial do Refugiado, vale lembrar a perseverança dos que foram forçadas a deixar seus países.
Foto: Getty Images/AFP/A. Messinis
A meta: sobreviver
Uma jornada combinada com sofrimento e perigo para corpo e alma: para fugir da guerra e da miséria, centenas de milhares de pessoas, principalmente da Síria, viajaram pela Turquia para a Grécia em 2015 e 2016. Ainda há cerca de 10 mil pessoas nas ilhas de Lesbos, Chios e Samos. De janeiro a maio deste ano, chegaram mais de 6 mil novos refugiados.
Foto: Getty Images/AFP/A. Messinis
A pé até a Europa
Em 2015 e 2016, milhões de pessoas tentaram, a pé, chegar à Europa Ocidental através da Turquia ou da Grécia até a Macedônia, Sérvia e Hungria. Este fluxo não parou mesmo depois de a chamada rota dos Bálcãs ter sido fechada e muitos países terem bloqueado suas fronteiras. Hoje, a maioria dos refugiados vai para a Europa usando a perigosa rota pelo Mediterrâneo através da Líbia.
Foto: Getty Images/J. Mitchell
Consternação mundial
Esta foto chocou o mundo em setembro de 2015: numa praia da Turquia foi encontrado o corpo do menino sírio Aylan Kurdi, de 3 anos. A imagem se espalhou rapidamente pelas redes sociais e se tornou um símbolo da crise dos refugiados. Depois dela, a Europa não podia mais se omitir.
Foto: picture-alliance/AP Photo/DHA
Caos e desespero
Sabendo que a rota de fuga para a Europa seria fechada, milhares de refugiados tentaram desesperadamente entrar em trens e ônibus na Croácia. Alguns dias depois, em outubro de 2015, a Hungria fechou a fronteira e criou campos com contêineres, onde os refugiados seriam mantidos durante a análise de seu pedido de asilo político.
Foto: Getty Images/J. J. Mitchell
Hostilidades
A indignação foi grande quando uma repórter cinematográfica húngara deu uma rasteira num refugiado sírio que corria com um menino no colo. Ele tentava passar por uma barreira policial na fronteira húngara em setembro de 2015. No auge da crise de refugiados aumentavam as hostilidades contra imigrantes, com ataques xenófobos a abrigos de refugiados também na Alemanha.
Foto: Reuters/M. Djurica
Fronteiras fechadas
O fechamento oficial da rota dos Bálcãs, em março de 2016, gerou tumultos nos postos de fronteira, onde milhares de migrantes não puderam mais avançar e houve relatos de violência policial. Muitos, como estes refugiados, tentaram contornar os postos de fronteira entre a Grécia e a Macedônia.
Uma criança ensanguentada coberta de poeira: a fotografia de Omran, de 5 anos, chocou o público em 2016 e se tornou um símbolo dos horrores da guerra civil da Síria e do sofrimento de seu povo. Um ano mais tarde, novas imagens mostrando o menino bem mais feliz circularam na internet. Apoiadores do presidente sírio afirmam que a primeira imagem foi usada para fins de propaganda.
Foto: picture-alliance/dpa/Aleppo Media Center
Em busca de segurança
Um sírio carrega a filha na chuva em Idomeni, entre a Grécia e a Macedônia. Ele procura abrigo na Europa. Segundo o Regulamento de Dublin, o asilo político precisa ser solicitado no primeiro país da União Europeia a que o refugiado chegou. Por isso, muitos que prosseguem viagem são mandados de volta. Por sua localização fronteiriça, Itália e Grécia são os países onde mais chegam refugiados.
Foto: Reuters/Y. Behrakis
Esperança
A Alemanha continua sendo o principal destino dos migrantes, embora a política de refugiados e de asilo do país tenha se tornado mais restritiva após o grande afluxo no final de 2015. Nenhum outro país europeu acolheu tantos refugiados como a Alemanha, que recebeu 1,2 milhão de pessoas desde 2015. A chanceler federal Angela Merkel foi um ícone para muitos dos recém-chegados.
Foto: picture-alliance/dpa/S. Hoppe
Miséria nos campos de refugiados
No norte da França, um enorme campo de refugiados, a chamada "Selva de Calais", foi fechado. Durante a evacuação, em outubro de 2016, houve um incêndio no acampamento. Cerca de 6.500 moradores foram removidos para outros abrigos na França. Meio ano depois, organizações de ajuda relataram sobre muitos refugiados menores de idade que vivem como sem-teto em volta da cidade de Calais.
Foto: picture-alliance/dpa/E. Laurent
Afogamentos no Mediterrâneo
ONGs e guardas costeiras estão constantemente à procura de barcos de migrantes em perigo. Eles preferem atravessar o mar em embarcações precárias superlotadas a viver sem perspectivas na pobreza ou em meio à guerra civil. Só em 2017, a travessia já custou 1.800 vidas. Em 2016 foram registrados 5 mil mortos.
Foto: picture alliance/AP Photo/E. Morenatti
Milhares esperam na Líbia
Centenas de milhares de refugiados da África Subsaariana e do Oriente Médio esperam em campos líbios para atravessar o Mar Mediterrâneo. Muitos estão nas mãos de contrabandistas humanos e traficantes de pessoas. As condições nesses locais são catastróficas, dizem ONGs. Testemunhas relatam casos de escravidão e prostituição forçada. Ainda assim, continua vivo o sonho de chegar à Europa.
Foto: Narciso Contreras, courtesy by Fondation Carmignac