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ONU exalta legado de Vieira de Mello nos 10 anos de sua morte

Ericka de Sá, de Brasília19 de agosto de 2013

Uma década após atentado em Bagdá, colegas lembram habilidades e feitos diplomáticos do brasileiro, que teve papel-chave em várias das principais crises políticas em que as Nações Unidas intervieram durante 30 anos.

Foto: Henry Ray Abrams/AFP/Getty Images

"Quando ele estava quase morrendo, naqueles escombros, a pergunta que ele fazia era ‘onde estão os outros colegas?'. Ele falava que a vida dele não era importante, o que era importante era a situação dos outros."

O relato é de Andrés Ramirez, do escritório do Alto Comissariado das Nações Unidas para os Refugiados (Acnur) no Brasil, e é representativo da personalidade do brasileiro Sérgio Vieira de Mello, morto há exatos dez anos no mais sangrento atentado já realizado contra a ONU.

Vieira de Mello estava entre as 22 vítimas do ataque com um caminhão-bomba contra o Hotel Canal, onde, em 2003, as Nações Unidas tinham sua sede em Bagdá. Ele era o enviado especial ao Iraque do então secretário-geral da ONU, Kofi Annan, e havia chegado ao país em 2 de junho daquele ano.

"Todo muito sabia que era um trabalho de muito compromisso, de muito risco. Ele mesmo tinha clareza de que a situação lá era complicada", conta Ramirez à DW.

Reivindicado pela Al Qaeda, o atentado levou ao estabelecimento pela ONU, em 2008, do Dia Mundial da Ação Humanitária, dedicado aos trabalhadores humanitários no mundo. A data serve de homenagem, também, a Vieira de Mello e de exaltação a seu legado.

Giancarlo Summa, diretor do Centro de Informação das Nações Unidas no Rio de Janeiro, diz que Vieira de Mello tinha a capacidade de compreender questões complexas e a de dialogar com os mais diversos atores. Para ele, o diplomata foi um “modelo de alguém com abnegação grande” e que teve coragem de se aventurar em locias perigosos.

“Mas também não era somente uma pessoa de grande coragem, era um diplomata de extrema habilidade e conseguiu fazer algumas coisas que são referências até hoje”, conta Summa à DW.

De Dacca a Bagdá

Sérgio Vieira de Mello com o então secretário-geral da ONU, Kofi Annan, no início da década passadaFoto: Getty Images

Como exemplo, Summa cita a conversa histórica entre a ONU e o Khmer Vermelho, mediada por Vieira de Mello em 1992. O grupo, que controlou o Camboja entre 1975 e 1978, promoveu um dos mais sangrentos massacres da história, e seus líderes foram acusados de genocídio e crimes contra a Humanidade. O desafio era repatriar centenas de milhares de refugiados.

"Ele conseguiu dialogar nos ambientes mais difíceis e conseguiu obter resultados a partir do diálogo com atores que muitas vezes eram os piores possíveis", lembra Summa.

Na opinião de Andrés Ramirez, a formação em filosofia deu a Sérgio a “possibilidade de ter uma visão geral dos fenômenos sociais e políticos importantes”.

Sérgio começou a trabalhar no Acnur aos 21 anos, como redator em francês, cargo que ocupou enquanto continuava com os estudos de filosofia na Sorbonne, em Paris. Aos 23 anos, foi enviado a sua primeira missão de campo para Dacca, Bangladesh, para trabalhar na repatriação de refugiados após a proclamação da independência do país. Depois, serviu em várias localidades, como Paquistão, Sudão, Moçambique, Peru, além da sede da ONU, em Genebra.

Em 1999, foi para o Timor Leste como administrador da Untaet (Administração de Transição das Nações Unidas do Timor-Leste). Ele atuou como governador do Timor até a eleição de Xanana Gusmão, em 2002. Em seguida, assumiu o cargo de alto comissário de Direitos Humanos em Genebra, posição que ocupou até ser enviado ao Iraque.

"A carreira dele se confundiu com as principais crises nas quais as Nações Unidas intervieram ao longo de quase 30 anos", avalia Giancarlo Summa. Para ele, a morte de Vieira de Mello foi uma perda humana e profissional enorme. "Ele era um dos mais experientes em operações complicadas, em ações humanitárias difíceis [e possivelmente] o mais o mais experiente diplomata das Nações Unidas."

Manutenção da memória

Neste Dia Mundial da Ação Humanitária, o Escritório das Nações Unidas de Coordenação de Assuntos Humanitários (Ocha) lança a campanha com o mote "vamos transformar as palavras em ações". As pessoas são convidadas a escolher, via internet, a melhor palavra para completar a frase "O mundo precisa de mais…". Ao mesmo tempo, empresas de todo o mundo escolhem a palavra que querem patrocinar, assumindo, assim, o compromisso de transformar a palavra escolhida em realidade.

Ruínas da sede da ONU em Bagdá: maior ataque contra a organizaçãoFoto: AP

Segundo o Ocha, o montante arrecadado com a campanha será investido no fundo humanitário global, destinado às principais crises humanitárias da atualidade, incluindo em países como Somália, Haiti, Síria, Iêmen e Mianmar.

A campanha deste ano é lançada nesta segunda-feira durante um seminário promovido no Rio de Janeiro pelo Ministério de Relações Exteriores do Brasil em parceria com a ONU, para marcar os dez anos de morte de Vieira de Mello, com a presença de nomes como o ex-presidente do Timor-Leste e representante especial do secretário-geral da ONU para Guiné-Bissau, José Ramos Horta.

Em termos mais permanentes, o Acnur mantém, na América Latina, a Cátedra Sérgio Vieira de Mello, que tem como objetivo o incentivo à pesquisa e à produção acadêmica relacionada ao direito internacional dos refugiados. No Brasil, a cátedra também estimula o trabalho direto com essa população, por meio de atendimento solidário.

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