ONU exige investigação sobre leilão de migrantes na Líbia
21 de novembro de 2017
Secretário-geral das Nações Unidas se diz "horrorizado" com imagens que mostram negros sendo vendidos como escravos a 400 dólares no país africano. Para Guterres, caso pode ser considerado crime contra a humanidade.
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O secretário-geral das Nações Unidas, António Guterres, declarou nesta segunda-feira (20/11) que os supostos leilões de refugiados africanos negros como escravos na Líbia devem ser urgentemente investigados como crime contra a humanidade. Ele se disse "horrorizado" com o caso.
"A escravidão não tem espaço no nosso mundo, e essas ações estão entre os mais graves abusos de direitos humanos e podem ser consideradas crimes contra a humanidade", afirmou Guterres. "Eu abomino esses atos terríveis."
O chefe da ONU ainda exigiu a "todas as autoridades competentes" que investiguem com urgência os supostos leilões, acrescentando que já pediu às devidas agências e autoridades das Nações Unidas "para que acompanhem a questão".
Segundo Farhan Haq, porta-voz da organização, Guterres já teria mobilizado o enviado especial da ONU para a Líbia, Ghassan Salamé, bem como a Organização Internacional de Migração (OIM), o Escritório das Nações Unidas sobre Drogas e Crime, responsável por tráfico humano, e o Escritório do Alto Comissário das Nações Unidas para os Direitos Humanos.
O escândalo na Líbia foi revelado na semana passada pela emissora americana CNN e chocou o mundo. Imagens feitas com celular mostram homens negros sendo apresentados a compradores do Norte da África no que seria um mercado de escravos próximo à capital do país, Trípoli.
No vídeo, ouve-se alguém dizer que os homens estão sendo vendidos por 400 dólares (cerca de 1.300 reais) cada. Eles são apontados como possível mão de obra para agricultura.
Neste domingo, o vice-primeiro-ministro do governo da Líbia reconhecido pela ONU, Ahmed Metig, garantiu que vai investigar as acusações. Já o Conselho de Segurança das Nações Unidas deve realizar nesta terça-feira um debate especial sobre tráfico humano, focando-se em migrantes na Líbia.
As imagens ainda causaram indignação em vários líderes africanos, que também pediram por um inquérito urgente sobre o caso. O presidente da Guiné, Alpha Condé, que é também líder da União Africana (UA), descreveu os supostos leilões como um "comércio desprezível de outra era".
Em abril deste ano, um relatório da OIM já havia denunciado a existência de migrantes africanos retidos no país de trânsito e submetidos a trabalhos forçados, violência e abuso sexual. O documento trazia, inclusive, testemunhos de refugiados mantidos nos chamados "mercados de escravos", onde muitos são vendidos por um preço entre 200 e 500 dólares.
Para especialistas, a principal razão para o alastramento de fenômenos como o tráfico de pessoas na Líbia é a falta de impunidade dos traficantes, resultado do caos continuado no país e da falta de uma autoridade centralizada que combata esses crimes.
A Líbia é vítima do caos e da guerra civil desde que rebeldes apoiados pela Otan conseguiram, em 2011, derrubar o ditador Muammar Kadafi, no poder desde 1969. Hoje há, basicamente, dois centros de poder no país, ainda que nenhum deles detenha um controle efetivo nem mesmo sobre os grupos armados que os apoiam.
EK/dw/afp/ap/dpa/lusa
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As imagens que marcaram a crise migratória
Fotos impressionantes do enorme fluxo de migrantes para a Europa em 2015 e 2016 circularam pelo mundo. No Dia Mundial do Refugiado, vale lembrar a perseverança dos que foram forçadas a deixar seus países.
Foto: Getty Images/AFP/A. Messinis
A meta: sobreviver
Uma jornada combinada com sofrimento e perigo para corpo e alma: para fugir da guerra e da miséria, centenas de milhares de pessoas, principalmente da Síria, viajaram pela Turquia para a Grécia em 2015 e 2016. Ainda há cerca de 10 mil pessoas nas ilhas de Lesbos, Chios e Samos. De janeiro a maio deste ano, chegaram mais de 6 mil novos refugiados.
Foto: Getty Images/AFP/A. Messinis
A pé até a Europa
Em 2015 e 2016, milhões de pessoas tentaram, a pé, chegar à Europa Ocidental através da Turquia ou da Grécia até a Macedônia, Sérvia e Hungria. Este fluxo não parou mesmo depois de a chamada rota dos Bálcãs ter sido fechada e muitos países terem bloqueado suas fronteiras. Hoje, a maioria dos refugiados vai para a Europa usando a perigosa rota pelo Mediterrâneo através da Líbia.
Foto: Getty Images/J. Mitchell
Consternação mundial
Esta foto chocou o mundo em setembro de 2015: numa praia da Turquia foi encontrado o corpo do menino sírio Aylan Kurdi, de 3 anos. A imagem se espalhou rapidamente pelas redes sociais e se tornou um símbolo da crise dos refugiados. Depois dela, a Europa não podia mais se omitir.
Foto: picture-alliance/AP Photo/DHA
Caos e desespero
Sabendo que a rota de fuga para a Europa seria fechada, milhares de refugiados tentaram desesperadamente entrar em trens e ônibus na Croácia. Alguns dias depois, em outubro de 2015, a Hungria fechou a fronteira e criou campos com contêineres, onde os refugiados seriam mantidos durante a análise de seu pedido de asilo político.
Foto: Getty Images/J. J. Mitchell
Hostilidades
A indignação foi grande quando uma repórter cinematográfica húngara deu uma rasteira num refugiado sírio que corria com um menino no colo. Ele tentava passar por uma barreira policial na fronteira húngara em setembro de 2015. No auge da crise de refugiados aumentavam as hostilidades contra imigrantes, com ataques xenófobos a abrigos de refugiados também na Alemanha.
Foto: Reuters/M. Djurica
Fronteiras fechadas
O fechamento oficial da rota dos Bálcãs, em março de 2016, gerou tumultos nos postos de fronteira, onde milhares de migrantes não puderam mais avançar e houve relatos de violência policial. Muitos, como estes refugiados, tentaram contornar os postos de fronteira entre a Grécia e a Macedônia.
Uma criança ensanguentada coberta de poeira: a fotografia de Omran, de 5 anos, chocou o público em 2016 e se tornou um símbolo dos horrores da guerra civil da Síria e do sofrimento de seu povo. Um ano mais tarde, novas imagens mostrando o menino bem mais feliz circularam na internet. Apoiadores do presidente sírio afirmam que a primeira imagem foi usada para fins de propaganda.
Foto: picture-alliance/dpa/Aleppo Media Center
Em busca de segurança
Um sírio carrega a filha na chuva em Idomeni, entre a Grécia e a Macedônia. Ele procura abrigo na Europa. Segundo o Regulamento de Dublin, o asilo político precisa ser solicitado no primeiro país da União Europeia a que o refugiado chegou. Por isso, muitos que prosseguem viagem são mandados de volta. Por sua localização fronteiriça, Itália e Grécia são os países onde mais chegam refugiados.
Foto: Reuters/Y. Behrakis
Esperança
A Alemanha continua sendo o principal destino dos migrantes, embora a política de refugiados e de asilo do país tenha se tornado mais restritiva após o grande afluxo no final de 2015. Nenhum outro país europeu acolheu tantos refugiados como a Alemanha, que recebeu 1,2 milhão de pessoas desde 2015. A chanceler federal Angela Merkel foi um ícone para muitos dos recém-chegados.
Foto: picture-alliance/dpa/S. Hoppe
Miséria nos campos de refugiados
No norte da França, um enorme campo de refugiados, a chamada "Selva de Calais", foi fechado. Durante a evacuação, em outubro de 2016, houve um incêndio no acampamento. Cerca de 6.500 moradores foram removidos para outros abrigos na França. Meio ano depois, organizações de ajuda relataram sobre muitos refugiados menores de idade que vivem como sem-teto em volta da cidade de Calais.
Foto: picture-alliance/dpa/E. Laurent
Afogamentos no Mediterrâneo
ONGs e guardas costeiras estão constantemente à procura de barcos de migrantes em perigo. Eles preferem atravessar o mar em embarcações precárias superlotadas a viver sem perspectivas na pobreza ou em meio à guerra civil. Só em 2017, a travessia já custou 1.800 vidas. Em 2016 foram registrados 5 mil mortos.
Foto: picture alliance/AP Photo/E. Morenatti
Milhares esperam na Líbia
Centenas de milhares de refugiados da África Subsaariana e do Oriente Médio esperam em campos líbios para atravessar o Mar Mediterrâneo. Muitos estão nas mãos de contrabandistas humanos e traficantes de pessoas. As condições nesses locais são catastróficas, dizem ONGs. Testemunhas relatam casos de escravidão e prostituição forçada. Ainda assim, continua vivo o sonho de chegar à Europa.
Foto: Narciso Contreras, courtesy by Fondation Carmignac