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ONU exige que Vaticano entregue pedófilos

5 de fevereiro de 2014

Comitê dos Direitos da Criança critica complacência da Igreja com casos de abuso e exige que criminosos sejam afastados dos cargos e levados à Justiça. Nunca as Nações Unidas haviam criticado a Santa Sé em tom tão firme.

Foto: dapd

O Comitê dos Direitos da Criança das Nações Unidas exigiu do Vaticano que leve à Justiça todos os pedófilos da Igreja, durante a apresentação de um relatório nesta quarta-feira (05/02) em Genebra, na Suíça. A ONU quer que todos os suspeitos de praticar abusos sexuais sejam afastados de seus cargos e encaminhe os casos às autoridades civis competentes.

"Houve uma violação da Convenção [dos Direitos das Crianças de 1989]", disse a presidente do Comitê, Kristen Sandberg. Para ela, o Vaticano não fez tudo o que podia para impedir os casos de abuso sexual por representantes da Igreja Católica.

Segundo Sandberg, até agora o Vaticano não divulgou informações sobre os "terríveis crimes". Segundo ela, a Igreja Católica teria ocultado intencionalmente os casos de pedofilia, impondo um "voto de silêncio" a todos os religiosos.

No relatório, o comitê se diz "profundamente preocupado" com o fato de membros da Igreja Católica terem envolvimento nos abusos de dezenas de milhares de crianças no mundo.

Transferência de religiosos para outra paróquia teria estimulado continuidade dos crimes, diz relatórioFoto: picture-alliance/ANP

Em resposta ao relatório, o porta-voz do Vaticano, Federico Lombardi, afirmou que a Santa Sé está combatendo a pedofilia com transparência. Ele garantiu que, em breve, serão detalhadas as funções de um comissão especial criada para enfrentar o problema.

Depois, em comunicado, o Vaticano disse seguir comprometido em proteger os direitos das crianças. E lamentou o que qualificou como uma tentativa de "interferir, com os ensinamentos da Igreja, sobre a dignidade da pessoa humana".

Críticas à inação

O documento diz ainda que o Vaticano – Estado que tem representação na ONU – não reconheceu a extensão dos crimes cometidos e não tomou as medidas necessárias para proteger as vítimas e para lidar com os casos de abuso sexual de crianças. Em vez disso, a Santa Sé teria seguido políticas e práticas que levaram à continuidade das agressões e à impunidade dos autores dos crimes.

A comissão da ONU também acusa a Igreja Católica de ter transferido padres pedófilos de paróquia – local ou em outro país – após a descoberta de seus crimes. "A prática de mobilidade dos criminosos permitiu a numerosos padres ficarem em contato com as crianças e continuarem os abusos", afirmou o relatório.

O comitê exortou a Santa Sé a divulgar todas as informações sobre pedófilos e seus protetores na Igreja Católica, pedindo que o Vaticano contribua para o pleno esclarecimento dos abusos.

Kristen Sandberg, da ONU: "Vaticano não fez tudo o que podia"Foto: picture alliance/AP Photo

Em resposta ao relatório, o Vaticano disse que a Igreja Romana Católica se compromete a defender e proteger os direitos da criança. Em comunicado, a Santa Sé afirmou que submeteria o relatório da ONU a "minuciosos estudos e exames". Por outro lado, segundo o Vaticano, a ONU estaria interferindo nas lições morais da Igreja por causa das críticas da organização internacional em relação à postura do Vaticano sobre a homossexualidade, a contracepção e o aborto.

Pela primeira vez, o Estado católico teve de se justificar perante a ONU, num processo de investigação que já dura várias semanas. No mês passado, o comitê da ONU – composto por 18 especialistas independentes em direitos humanos, oriundos de diversos países – teve uma audiência com representantes do Vaticano, questionando-os sobre as práticas da Santa Sé para acabar com a pedofilia.

RK/afp/rtr/epd/lusa

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