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ONU preocupada com restrições à acolhida de venezuelanos

23 de agosto de 2018

Agências das Nações Unidas pedem maior apoio aos países da América do Sul que recebem refugiados vindos da Venezuela, além de criticar medidas anunciadas por Equador e Peru para restringir entrada desses cidadãos.

A caminho do Peru, venezuelanos dormem na beira da estrada no Equador, após entrarem no país pela Colômbia
A caminho do Peru, venezuelanos dormem na beira da estrada no Equador, após entrarem no país pela ColômbiaFoto: Getty Images/AFP/L. Robayo

As Nações Unidas pediram nesta quinta-feira (23/08) aos países sul-americanos para que continuem acolhendo refugiados venezuelanos que fogem da crise no país, depois de Equador e Peru terem anunciado medidas que endurecem o controle nas fronteiras.

"Reconhecemos os crescentes desafios associados à chegada em grande escala dos venezuelanos. Mas continua sendo crucial que qualquer nova medida permita que aqueles que precisam de proteção internacional tenham acesso a segurança e a pedidos de refúgio", diz uma nota.

O texto – assinado pelo alto comissário da ONU para os refugiados, Filippo Grandi, e o diretor-geral da Organização Internacional para as Migrações (OIM), William Lacy Swing – destaca ainda a "necessidade urgente de aumentar o compromisso internacional e a solidariedade em apoio aos planos de resposta dos governos".

Segundo eles, essa ajuda deve abordar "as necessidades humanitárias mais prementes, para que elas possam ser atendidas, para que o trânsito seguro possa ser garantido e para que a integração social e econômica possa ser alcançada de acordo com estratégias de desenvolvimento ainda maiores".

Dados divulgados pela OIM e pela agência das Nações Unidas para refugiados, a Acnur, chefiada por Grandi, mostram que 2,3 milhões de venezuelanos vivem atualmente fora de seu país, dos quais mais de 1,6 milhão deixaram a Venezuela a partir de 2015.

Ao todo, 90% dos refugiados venezuelanos se dirigiram para países da América do Sul, acrescenta a nota, que ainda elogiou as nações da região por "terem recebido tão generosamente os cidadãos da Venezuela que chegaram às suas fronteiras".

Aproximadamente 35 mil venezuelanos cruzam a fronteira diariamente. O fluxo maciço de imigrantes é sentido principalmente na direção sul, em países como Chile, Peru e Brasil, onde eles veem melhores oportunidades para encontrar um meio de vida.

Desde o início de 2017, cerca de 50 mil venezuelanos se estabeleceram em Roraima, segundo o governo estadual. Já o Peru é a segunda nação latino-americana mais procurada por pessoas dessa nacionalidade, depois da Colômbia, que já abriu suas portas a 1,5 milhão de venezuelanos.

Entre 547 mil e 560 mil passaram pelo Equador no último ano, com o objetivo de chegar ao Peru e ao Chile. Apenas 20% deles permaneceram em território equatoriano, segundo a OIM.

O ministro do Exterior do Equador, José Valencia, afirmou na quarta-feira que cerca de 50 mil venezuelanos estão atualmente tirando seus vistos no país, que abriga atualmente 200 mil cidadãos dessa nacionalidade.

A situação levou o governo em Quito a impor a exigência de passaportes aos refugiados venezuelanos como condição para permitir a entrada deles no país – mesmo sabendo que, atualmente, Caracas não tem capacidade para emitir esse documento a seus cidadãos.

A medida entrou em vigor no Equador no último fim de semana, enquanto o Peru anunciou que adotará exigência semelhante a partir do próximo sábado.

Na nota, Grandi e Swing criticaram e se disseram "preocupados" com essas e outras medidas restritivas, incluindo "uma série de modificações nas autorizações temporárias de residência para os venezuelanos no Peru".

Os chefes de ambas organizações internacionais também expressaram uma "preocupação especial" com pessoas mais vulneráveis, como "adolescentes, mulheres e pessoas que tentam se reunir com suas famílias, bem como crianças desacompanhadas e separadas que obviamente não podem cumprir com os requisitos de documentação".

A tensão provocada pelo fluxo migratório também se agravou em outros países sul-americanos, como o Brasil. No fim de semana, habitantes de Pacaraima, localidade de 12 mil pessoas no norte de Roraima, destruíram um acampamento de imigrantes venezuelanos, obrigando mais de mil a fugirem de volta para o país vizinho.

EK/afp/dpa/efe/rtr

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