ONU obtém US$ 340 milhões para refugiados rohingyas
23 de outubro de 2017
Em conferência em Genebra, governos e doadores internacionais ampliam compromisso para ajudar minoria muçulmana. Nos últimos meses, cerca de 600 mil entraram em Bangladesh, fugindo das forças de segurança de Myanmar.
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Governos e doadores internacionais prometeram nesta segunda-feira (23/10) mais 234 milhões de dólares para ajudar os mais de 600 mil refugiados da minoria muçulmana rohingya – dos quais 60% são mulheres e crianças – que fugiram da violência em Myanmar para o vizinho Bangladesh nos últimos dois meses, afirmou a ONU.
O dinheiro foi prometido numa conferência de alto escalão organizada por Nações Unidas, União Europeia e Kuwait em Genebra. Outros 116 milhões de dólares já haviam sido angariados antes do encontro, o que eleva o total prometido para 340 milhões de dólares. "Tivemos uma manhã encorajadora", disse o chefe humanitário da ONU, Mark Lowcock. "Agora temos a promessa de 340 milhões de dólares." Ele disse esperar novos comprometimentos nos próximos dias.
A ONU afirma que precisa de 434 milhões de dólares para fornecer apoio nos próximos meses aos cerca de 600 mil rohingyas que fugiram recentemente de Myanmar, assim como para os cerca de 300 mil bengaleses que ajudam na hospedagem deles. Somam-se a eles os 400 mil rohingyas que haviam fugido em oportunidades passadas e vivem em Bangladesh.
Drone mostra fuga em massa de rohingyas
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Lowcock enfatizou a importância de os países entregarem o dinheiro, pois a ONU já teve de lidar com compromissos não cumpridos em crises passadas. "Promessas são uma coisa", disse. "É realmente importante para nós que elas sejam convertidas o mais rapidamente possível em contribuições."
No entanto, a porta-voz do Departamento das Nações Unidas para a Coordenação de Assuntos Humanitários (Ocha), Vanessa Huguenin, esclareceu posteriormente que, apesar de todos os fundos serem destinados à crise dos rohingyas, nem todo o montante iria para programas da ONU. Alguns recursos ajudarão trabalhos humanitários da Cruz Vermelha, e outros serão distribuídos a programa fora das Nações Unidas.
O chefe da Organização Internacional para as Migrações (OIM), William Lacey Swing, classificou a onda migratória dos rohingyas que fogem para Bangladesh como a crise de refugiados de mais rápido crescimento no mundo. Ele acrescentou que, com base em tendências atuais, espera-se que o número passe de 1 milhão em breve.
Na prévia da conferência desta segunda-feira, o Alto Comissariado da ONU para os Refugiados (Acnur) comunicou que estimadas 603 mil pessoas fugiram para Bangladesh depois que forças de segurança de Myanmar lançaram uma repressão violenta em resposta a ataques de 25 de agosto de militantes rohingyas.
As forças de segurança de Myanmar cometeram assassinatos, estupros e incendiaram aldeias inteiras no estado de Rakhine, segundo a ONU. O governo afirmou ter reagido aos ataques de insurgentes, mas as Nações Unidas e outros estados afirmaram que a resposta militar foi desproporcional. O comissário para os direitos humanos da ONU, Zeid Ra'ad al-Hussein, chegou a classificar a incursão como "exemplo clássico de limpeza étnica".
PV/efe/ap/afp
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O drama dos rohingya de Myanmar
País majoritariamente budista rejeita a minoria muçulmana. Expulsões, assassinatos e estupros já forçaram mais de 400 mil a buscar refúgio em Bangladesh, mas também lá eles são indesejados.
Foto: picture-alliance/dpa/M.Alam
Ameaçados na terra natal
Em outubro de 2016, um grupo da etnia rohingya foi acusado de matar nove policiais em Myanmar. A partir daí, recrudesceu a histórica perseguição a essa minoria muçulmana no país maioritariamente budista. Nos meses seguintes, mais de 70 mil haviam procurado refúgio em Bangladesh. Um dos acampamentos onde foram acolhidos é Kutuupalang, no município de Cox's Bazar, no sul do país.
Foto: picture-alliance/NurPhoto/T. Chowdhury
Êxodo em massa
Após novos episódios de violência em agosto 2017, o êxodo da minoria muçulmana de Myanmar se intensificou, sobretudo a partir do estado de Rakhine. Por terra ou por mar têm chegado diariamente a Bangladesh de 10 mil a 20 mil rohingya, entre os quais numerosas mulheres e crianças. Segundo a ONU, 400 mil vivem atualmente como refugiados no país vizinho.
Foto: DW/M.M. Rahman
Condições sub-humanas
Em alguns campos de refugiados, as condições de vida são as mais árduas: não há água corrente, medidas sanitárias ou qualquer outro tipo de infraestrutura. Com argila e outros materiais básicos, eles mesmos construíram cabanas improvisadas, a fim de ao menos ter um teto sobre a cabeça.
Foto: picture-alliance/NurPhoto/T. Chowdhury
Apátridas
Myanmar se recusa a conceder a nacionalidade birmanesa a seus 1,1 milhão de rohingyas. Apesar de eles alegarem séculos de história, o governo os classifica como ilegais, imigrados de Bangladesh durante o domínio colonial britânico. Além disso, condena o emprego do termo "rohingya" nos documentos das Nações Unidas.
Foto: DW/M.M. Rahman
Crônica da rejeição
Apesar de apelos do secretário-geral da ONU, António Guterres, para que Bangladesh conceda abrigo à minoria perseguida, as autoridades em Dhaka enviaram guardas às fronteiras com o fim de impedir novas travessias. O sofrimento dos rohingya parece não ter fim: organizações de direitos humanos relatam como, em Rakhine, os militares birmaneses incendiaram suas casas, estupraram e assassinaram.
Foto: Reuters/M. Ponir Hossain
Povo mais perseguido
Segundo a ONU, os rohingya são a minoria mais perseguida do mundo. Em Bangladesh eles tampouco são bem-vindos: após a nova onda migratória, o governo anunciou o plano de realocá-los para uma ilha distante, geralmente inundada durante a estação das monções.
Foto: picture-alliance/dpa/M.Alam
Catástrofe humanitária
Originalmente um local turístico com 61 mil habitantes, a cidade litorânea de Cox's Bazaar, em Bangladesh, uma das primeiras a acomodar os refugiados muçulmanos, está com suas capacidades esgotadas. Segundo observadores, a perseguição aos rohingya em Myanmar é apenas em parte religiosa: certos setores da sociedade têm interesse em exterminá-los por motivos políticos e econômicos.
Foto: DW/M.M. Rahman
Apagados da história
A falta de pátria segura confronta os rohingya com um futuro incerto. Enquanto isso, Myanmar planeja obliterar também seu passado: o ministro da Cultura e Assuntos Religiosos anunciou o lançamento de um livro de história sem qualquer menção à minoria muçulmana. "A verdade é que a palavra rohingya nunca foi usada ou existiu como etnia ou raça na história birmanesa", declarou em dezembro de 2016.