ONU questiona legitimidade de eleição na Venezuela
7 de março de 2018
Alto-comissário para Direitos Humanos afirma que não há condições políticas e sociais mínimas para uma eleição livre e lembra que principais partidos oposicionistas estão fora da disputa.
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O alto comissário das Nações Unidas para os Direitos Humanos, Zeid Ra'ad al-Hussein, disse nesta quarta-feira (07/03) que não há condições políticas e sociais mínimas para a realização de uma eleição presidencial na Venezuela.
O governo do presidente Nicolás Maduro convocou uma eleição presidencial para 20 de maio, mas ela é boicotada pela oposição e questionada por organismos internacionais, como a Organização dos Estados Americanos (OEA).
"Estou profundamente preocupado, porque não são cumpridas de forma alguma as condições mínimas para eleições livres e credíveis", disse Al-Hussein, na apresentação do seu relatório anual sobre a situação dos direitos humanos no mundo, em Genebra.
Ele lembrou que os dois partidos da oposição foram desqualificados pela comissão eleitoral e que a "coligação oficial da oposição" foi invalidada pelo Supremo Tribunal.
"As liberdades de expressão, opinião, associação e reunião pacífica estão sendo reprimidas", afirmou, considerando ainda que "o princípio da separação de poderes está comprometido, dado que a Assembleia Nacional Constituinte continua a concentrar poderes sem restrições".
Direitos humanos
Al-Hussein indicou igualmente ao Conselho de Direitos Humanos da ONU que o alto comissariado que dirige "recebeu relatórios credíveis de centenas de execuções extrajudiciais nos últimos anos, durante os protestos e em operações de segurança" na Venezuela. Dezenas de pessoas morreram e ficaram feridas e milhares foram detidas durante protestos contra o governo venezuelano em 2017.
O alto-comissário disse ainda estar preocupado com a crise humanitária na Venezuela devido à falta de alimentos e medicamentos, criticando a forma como o governo distribui a assistência.
"A desnutrição aumentou dramaticamente no país e afeta em particular crianças e idosos e relatórios credíveis indicam que os programas de assistência governamental são muitas vezes condicionados por motivos políticos", afirmou.
"Estou profundamente alarmado com o crescente êxodo de venezuelanos de seu país, muitos dos quais em busca de comida e serviços básicos", acrescentou. Al-Hussein disse que pediu mais uma vez ao Conselho de Direitos Humanos que envie uma comissão para investigar as violações dos direitos humanos na Venezuela.
AS/efe/lusa/rtr
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Em tempos de crise, venezuelanos buscam cura pela bruxaria
Quem fica doente na Venezuela enfrenta vários problemas, como escassez de medicamentos e contas astronômicas. No "beco dos bruxos", na favela de Petare, o tratamento é barato e consiste em toque de mãos e rituais.
Foto: picture-alliance/NurPhoto/A. Fuente
Em caso de urgência, procure um feiticeiro
Eles são chamados de bruxos – e, para muitos venezuelanos, são a única alternativa de tratamento de doenças. A crise no sistema de saúde fez com que muitos não consigam mais pagar tratamentos médicos convencionais. Medicamentos são escassos e extremamente caros. Muitas vezes, pacientes com câncer também não têm acesso à quimioterapia.
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Cura no "consultório espiritual"
Em vez da aparelhagem médica, velas e estátuas: muitos venezuelanos adotaram a medicina alternativa. Num beco da favela de Petare, na região metropolitana de Caracas, dezenas de pacientes vão diariamente a um dos "consultórios espirituais", na esperança de conseguir a cura que não conseguem buscar na medicina convencional.
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"Beco dos bruxos" existe há mais de 50 anos
"El callejón de los brujos", ou "beco dos bruxos", é o nome popular dessa rua na favela de Petare. Há meio século, pacientes de todo o país vêm para cá. O movimento é especialmente grande aos sábados. Curandeiros e bruxos praticam a cura pelas mãos para amenizar o sofrimento dos doentes.
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Sem dinheiro para a cirurgia
Com frequência, os pacientes que vão ao "beco dos bruxos" não têm como arcar com as despesas de um tratamento hospitalar. Seriam obrigados a pagar centenas de dólares do próprio bolso por uma operação. É dinheiro demais para as pessoas na Venezuela, assolada por hiperinflação, fome, criminalidade e escassez de alimentos. Já consultar um curandeiro custa apenas um dólar.
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Questão de fé
Centenas de pessoas esperam diariamente para serem tratadas por um bruxo ou um curandeiro. Os curandeiros apostam em tratamentos baratos: dieta, rituais, toque de mãos. As intervenções espirituais devem "equilibrar a energia do paciente", explica um desses médicos tradicionais.
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Velas para combater doenças
Os mais jovens também recebem tratamentos. "Mas o espírito precisa autorizar o tratamento primeiro", explica um curandeiro. Algumas pessoas também se cadastram para um tratamento convencional, e a excursão pela medicina alternativa serve, entre outras coisas, para encurtar o tempo de espera até o início da terapia no hospital.