ONU vê "porta entreaberta" para negociação com Pyongyang
13 de dezembro de 2017
Na visita de mais alto nível de um emissário das Nações Unidas ao país comunista, diplomata enxerga chance ao diálogo, mas diz que não há ainda qualquer compromisso: "Eles ouviram seriamente os nossos argumentos."
Anúncio
O subsecretário-geral da ONU para Assuntos Políticos, Jeffrey Feltman, afirmou nesta terça-feira (13/12) que, após sua recente visita a Pyongyang, acredita que há uma "porta entreaberta" para uma saída negociada com a Coreia do Norte.
Segundo Feltman, as autoridades norte-coreanas afirmaram que é importante evitar a guerra, mas eles não selaram nenhum compromisso.
Feltman se encontrou com o ministro das Relações Exteriores da Coreia do Norte, Ri Yong-ho, e seu vice, Pak Myong-guk, durante uma viagem de quatro dias a Pyongyang. Foi a visita de nível mais alto de um emissário da ONU à Coreia do Norte desde 2011.
"O tempo dirá qual foi o impacto de nossas discussões, mas acho que deixamos a porta entreaberta e espero firmemente que a porta para uma solução negociada se abra agora", disse Feltman.
O diplomata da ONU explicou que Pyongyang não lhe ofereceu nenhum compromisso com sua vontade de negociar com a comunidade internacional, mas se mostrou favorável em continuar o diálogo com as Nações Unidas.
"Eles ouviram seriamente os nossos argumentos. Porém, eles não nos ofereceram nenhum tipo de compromisso nesse ponto", afirmou Feltman. "Eles concordaram que era importante evitar a guerra. E como faremos isso foi o tema de mais de 15 horas de debates."
O ex-diplomata dos Estados Unidos disse que Pyongyang precisa de tempo para "digerir e considerar" o que foi dialogado e que ele acredita que Ri transmitirá as informações ao líder norte-coreano Kim Jong-un. "Nós insistimos que acreditamos que eles devem indicar se estão dispostos a seguir um caminho diferente", afirmou.
Feltman disse que pediu que a Coreia do Norte considere "dialogar sobre as negociações" e possivelmente abrir "canais técnicos de comunicação, como uma linha direta entre militares, para reduzir riscos, sinalizar intenções, prevenir mal-entendidos e gerenciar qualquer crise".
O diplomata, do ponto de vista pessoal, reconheceu que sua visita ao país asiático foi sem dúvida "a missão mais importante de sua carreira". "Senti a responsabilidade sobre os meus ombros durante o tempo que estive ali", admitiu.
Condições para o diálogo
Em uma aparente guinada na posição política, o secretário de Estado dos EUA, Rex Tillerson, disse que os Estados Unidos estão dispostos a conversar com a Coreia do Norte sem pré-condições.
"Estamos prontos para conversar a qualquer momento em que a Coreia do Norte quiser falar. E estamos prontos para termos um primeiro encontro sem condições prévias", disse Tillerson, na terça-feira, em Washington.
A posição anterior dos Estados Unidos era que a Coreia do Norte teria que chegar à mesa de negociações pronta para desistir de seus programas de mísseis nucleares e balísticos.
"Vamos apenas nos conhecer e podemos falar sobre o tempo, se quiserem. Podemos falar sobre se é uma mesa quadrada ou uma mesa redonda, se isso é o que lhes entusiasma", disse Tillerson. "Mas podemos ao menos nos sentar e ver um ao outro e então podemos começar a elaborar um mapa, um roteiro, daquilo que talvez estejamos dispostos a trabalhar."
No entanto, o diplomata americano disse que Pyongyang precisaria suspender os testes de mísseis nucleares e balísticos por um período antes do início das negociações. A diretriz diplomática tem o apoio do presidente dos EUA, Donald Trump, garantiu Tillerson.
PV/efe/afp/rtr/ap
__________
A Deutsche Welle é a emissora internacional da Alemanha e produz jornalismo independente em 30 idiomas. Siga-nos noFacebook | Twitter | YouTube | WhatsApp | App
Verdades e mitos sobre a dinastia Kim
Família governa a Coreia do Norte desde a fundação do país, há quase sete décadas, com um culto quase divino às personalidades de Kim Il-sung, Kim Jong-il e Kim Jong-un.
Foto: picture alliance / dpa
Um jovem líder
Kim Il-sung, o primeiro e "eterno" presidente da Coreia do Norte, assumiu o poder em 1948 com o apoio da União Soviética. O calendário oficial do país começa no seu ano de nascimento, 1912, designando-o de "Juche 1", em referência ao nome da ideologia estatal. O primeiro ditador norte-coreano tinha 41 anos ao assinar o armistício que encerrou a Guerra da Coreia (foto).
Foto: picture-alliance/dpa
Idolatria
Após a guerra, a máquina de propaganda de Pyongyang trabalhou duro para tecer uma narrativa mítica em torno de Kim Il-sung. A sua infância e o tempo que passou lutando contra as tropas japonesas nos anos 1930 foram enobrecidas para retratá-lo como um gênio político e militar. No congresso partidário de 1980, Kim anunciou que seria sucedido por seu filho, Kim Jong-il.
Foto: picture-alliance/AP Photo
No comando até o fim
Em 1992, Kim Il-sung começou a escrever e publicar sua autobiografia, "Memórias – No transcurso do século." Ao descrever sua infância, o líder norte-coreano afirmou que ao 6 anos participou de sua primeira manifestação contra os japoneses e, aos 8, envolveu-se na luta pela independência. As memórias permaneceram inacabadas com a sua morte, em 1994.
Foto: Getty Images/AFP/JIJI Press
Nos passos do pai
Depois de passar alguns anos no primeiro escalão do regime, Kim Jong-il assumiu o poder após a morte do pai. Seus 16 anos de governo foram marcados pela fome e pela crise econômica num país já empobrecido. Mas o culto de personalidade em torno dele e de seu pai, Kim Il-sung, cresceu ainda mais.
Foto: Getty Images/AFP/KCNA via Korean News Service
Nasce uma estrela
Historiadores acreditam que Kim Jong-il nasceu num campo militar no leste da Rússia, provavelmente em 1941. Mas a biografia oficial afirma que o nascimento dele aconteceu na montanha sagrada coreana de Paekdu, exatamente 30 anos após o nascimento de seu pai, em 15 de abril de 1912. Segundo uma lenda, esse nascimento foi abençoado por uma nova estrela e um arco-íris duplo.
Foto: picture-alliance/AP Photo
Problemas familiares
Kim Jong-il teve três filhos e duas filhas com três mulheres, até onde se sabe. Esta foto de 1981 mostra Kim Jong-il sentado ao lado de seu filho Kim Jong-nam, fruto de um caso com a atriz Song Hye-rim (que não aparece na foto). A mulher à esquerda é Song Hye-rang, irmã de Song Hye-rim, e os dois adolescentes são filhos de Song Hye-rang. Kim Jong-nam foi assassinado em 2017.
Foto: picture-alliance/dpa
Procurando um sucessor
Em 2009, a mídia ocidental informou que Kim Jong-il havia escolhido seu filho mais novo, Kim Jong-un, para assumir a liderança do regime. Os dois apareceram juntos numa parada militar em 2010, um ano antes da morte de Kim Jong-il.
Foto: picture-alliance/AP Photo/V. Yu
Juntos
Segundo Pyongyang, a morte de Kim Jong-il em 2011 foi marcada por uma série de acontecimentos misteriosos. A mídia estatal relatou que o gelo estalou alto num lago, uma tempestade de neve parou subitamente e o céu ficou vermelho sobre a montanha Paekdu. Depois da morte de Kim Jong-il, uma estátua de 22 metros de altura do ditador foi erguida próxima à de seu pai (esq.) em Pyongyang.
Foto: picture-alliance/dpa
Passado misterioso
Kim Jong-un manteve-se fora de foco antes de subir ao poder. Sua idade também é motivo de controvérsia, mas acredita-se que ele tenha nascido entre 1982 e 1984. Ele estudou na Suíça. Em 2013, ele surpreendeu o mundo ao se encontrar com Dennis Rodman, antiga estrela do basquete americano, em Pyongyang.
Foto: picture-alliance/dpa
Um novo culto
Como os dois líderes antes dele, Kim Jong-un é tratado como um santo pelo regime estatal totalitário. Em 2015, a mídia sul-coreana reportou sobre um manual escolar que sustentava que o novo líder já sabia dirigir aos 3 anos. Em 2017, foi anunciado pela mídia estatal que um monumento em homenagem a ele seria construído no Monte Paekdu.
Foto: picture alliance/dpa/Kctv
Um Kim com uma bomba de hidrogênio
Embora Kim tenha chegado ao poder mais jovem e menos conhecido do público que seu pai e seu avô, ele conseguiu manter o controle do poder. O assassinato de seu meio-irmão Kim Jong-nam, em 2017, serviu para cimentar sua reputação externa de ditador impiedoso. O líder norte-coreano também expandiu o arsenal de armas do país.