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É irresponsável europeus porem em risco acordo UE-Mercosul

21 de setembro de 2019

Com sua resistência crescente ao acordo com Brasil e países vizinhos, políticos da UE fazem jogo populista. Um círculo vicioso, pois aumento de oposição na América do Sul será proporcional, opina Alexander Busch.

Contêineres amontoados no porto de Buenos Aires
Foto: picture-alliance/dpa/A. Perez Moreno

É grande a resistência na Europa contra o acordo de livre-comércio com o Mercosul, festejado poucas semanas atrás como "histórico". Na Áustria, todos os grandes partidos votaram contra; os governos da Irlanda e França igualmente consideram se o ratificarão.

Também a Suíça – que, através da Associação Europeia de Livre-Comércio (Efta, também integrada pela Islândia, Liechtenstein e Noruega) já firmou um tratado com o Mercosul – quer esperar de um a dois anos antes de tentar colocar o acordo em movimento.

Motivos de ceticismo são a apreensão sobre o fogo na Amazônia e a agropecuária latino-americana, a qual, do ponto de vista dos críticos, só é competitiva à custa do meio ambiente. O presidente do Brasil, o populista de direita Jair Bolsonaro, ainda pôs mais lenha na fogueira com sua negação das ameaças à mata tropical.

Contudo não são muito menos populistas os políticos europeus que, após 20 anos de negociações com os sul-americanos, de repente descobrem que lá o meio ambiente e a Amazônia estão sofrendo danos. A preocupação com o meio ambiente da América do Sul ajuda a angariar votos na Europa. E nenhum governo quer agricultores protestando nas ruas.

Mas as críticas miram na direção errada: o acordo com o Mercosul foi negociado com base no Acordo de Proteção do Clima. Os parceiros sul-americanos concordaram em respeitar as normas ambientais e sanitárias europeus, e até mesmo o princípio da prevenção, segundo o qual a importação de produtos da América do Sul será sustada tão logo se anunciem prejuízos em um dos continentes. Trata-se de comprometimentos abrangentes.

Ainda pouco tempo atrás, seria impensável os governos sul-americanos acatarem amplas exigências de sustentabilidade. No entanto a grave crise econômica e a baixa produtividade na região obrigaram-nos a reconsiderar. Os governantes esperam que suas economias comecem a crescer mais rapidamente através da abertura de mercados, mais investimentos estrangeiros e privatizações.

Por isso, talvez o acordo de livre-comércio com a União Europeia seja o meio mais veloz de impor padrões ambientais mais rigorosos na América do Sul. Por isso, numerosas organizações ambientais e representantes indígenas do Brasil apoiam o pacto que antes encaravam com ceticismo.

O moderno agronegócio brasileiro igualmente espera que em breve os padrões passem a valer para todos os fazendeiros, e que as ovelhas negras sejam colocadas de lado. É irresponsável da nossa parte de nós, europeus, colocar em risco o acordo de forma tão leviana. Isso não vai fazer que nenhuma árvore deixe de ser derrubada no Brasil; não será plantada menos soja transgênica, e sim mais.

Além disso, é apenas uma questão de tempo até os lobbies da indústria e sindicatos sul-americanos também se posicionarem contra o tratado com a Europa: eles são quem mais tem a perder com a abertura dos mercados e o fim das subvenções com que sempre puderam contar.

Agora, além de tudo, eles recebem da política europeia os argumentos de mão beijada: se os europeus fecham seus mercados contra as mercadorias da região, então por que o Mercosul deveria abrir suas fronteiras para a concorrência?

Ao que tudo indica, as intermináveis e complicadas negociações sobre o acordo de livre-comércio foram mera brincadeira de criança, em comparação com o que está por vir.

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