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Opinião: É necessário elevar o tom contra Kagame

Andrea Schmidt é chefe da redação suaíli da DW
Andrea Schmidt
5 de agosto de 2017

Comunidade internacional prefere destacar estabilidade e crescimento de Ruanda e faz vista grossa para a repressão no país, cuja população anseia por mais participação e liberdade, afirma a jornalista Andrea Schmidt.

Foto: Reuters/J. Bizimana

A Constituição de Ruanda até prevê um sistema político multipartidário, mas também esta eleição no país foi livre só no nome. Além do presidente Paul Kagame, do partido governista Frente Patriótica Ruandesa (FPR), apenas dois outros candidatos foram aceitos: Frank Habineza (Partido Verde) e o independente Phillip Mpayimana. Mas a concorrência em condições desiguais já deixava claro que eles não eram de fato páreo para o ocupante do cargo. Todos os demais pretendentes foram eliminados antes mesmo da campanha, por questões burocráticas.

Kagame, o homem forte no poder, governa com pulso firme e não tolera opositores. É verdade que ele tem conquistas para mostrar: um crescimento econômico de 7%, um bom sistema de saúde, pouca corrupção e redução da pobreza. Só que, assim como em muitos outros países africanos, só uns poucos ganham com esse crescimento econômico. A fachada limpa e brilhante das ruas de Kigali faz com que políticos do exterior logo esqueçam que, no interior do país, os chamados agricultores de subsistência cultivam seus pequenos lotes com os recursos mais simples. Além disso, devem plantar o que lhes é determinado.

Andrea Schmidt é chefe da redação suaíli da DWFoto: DW/L. Richardson

A repressão às liberdades de imprensa e de expressão é encarada com vista grossa e pouca pressão contrária. Desde o fim do genocídio, em 1994, a FPR está no poder e, desde 2000, Kagame é presidente. Se, no início, muitos ruandeses da diáspora voltaram para ajudar na reconstrução, hoje muitos preferem deixar o país. Afinal, quem gosta de viver num país onde, devido a um sofisticado sistema de espionagem, toda crítica é morta já na raiz?

Em muitas nações africanas governadas de forma autocrática, como o Burundi e Uganda, os donos do poder mandam alterar a Constituição a bel-prazer para poder ficar mais tempo no poder. A máxima deles é: "Só sozinho eu posso governar este país e garantir segurança e crescimento econômico". E foi assim que, em 2015, Kagame alterou a Constituição por meio de um referendo controlado pelo governo para acabar com o limite de dois mandatos.

Observadores internacionais costumam destacar que Ruanda é um dos países mais estáveis da África, dentro da lógica "melhor uma autocracia estável do que o caos". Isso pode até ser correto dentro de um certa ótica, mas é, também, um argumento fatal – como se não houvesse alternativas! Não há como justificar que a comunidade internacional renuncie a praticamente qualquer crítica. Problemas não faltam e devem ser chamados pelo nome: em Ruanda, a intimidação de críticos de Kagame faz parte da ordem do dia, políticos foram obrigados a fugir para o exterior, outros estão na cadeia por motivos tênues, alguns desapareceram sem deixar rastros.

Kagame vai começar agora seu terceiro mandato de sete anos. Seria desejável que, nesse longo período, as bases para um futuro livre fossem criadas, que finalmente uma sociedade civil livre pudesse se desenvolver, que democracia e liberdade de expressão verdadeiras fossem permitidas, que na eleição de 2024 houvesse muitos candidatos com reais chances. Se não, qual o sentido de uma eleição? Elas não devem continuar sendo usadas para maquiar uma democracia de fachada! Do contrário, esse país de população majoritariamente jovem, que aspira à participação política e livre expressão, vai acabar implodindo. Mas, para evitar que isso aconteça, também é necessário que haja pressão externa sobre o vencedor desta eleição, Kagame.

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