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Eleições na Tunísia

25 de outubro de 2011

Nas primeiras eleições livres a uma assembleia constituinte na Tunísia, registra-se uma vitória dos islâmicos. Motivo de preocupação? Rainer Sollich, chefe da redação em árabe da DW, comenta.

O país tem menos habitantes que o Cairo. E mesmo assim escreve a história em grande estilo: no início do ano, os tunisianos foram o primeiro entre os povos do mundo árabe a ter coragem de destituir um governante autoritário do poder. Eles provaram que liberdade, democracia e direitos humanos, no mundo árabe, não são valores "importados" do Ocidente, merecendo, por isso, o respeito da comunidade internacional. E o mais importante: eles se transformaram em exemplo para outros movimentos revolucionários semelhantes, em parte bem-sucedidos, em países como o Egito, a Líbia, a Síria, o Bahrain ou o Iêmen.

Agora o país de origem da Primavera Árabe tem mais uma vez todas as razões do mundo para sentir orgulho de si mesmo: as primeiras eleições livres na história da Tunísia transcorreram praticamente sem qualquer incidente. O alto nível de participação nas urnas foi sensacional e as irregularidades foram exceção. Desta forma, os tunisianos deram mais um passo decisivo rumo ao futuro e em prol da implementação de relações democráticas no país. Assim, continuam servindo de exemplo para todos os povos árabes, que não queriam somente se livrar de seus ditadores há muito no poder, mas pretendiam também, ao mesmo tempo, criar uma forma de estabilidade baseada na autonomia dos cidadãos.

Nós, europeus, precisamos, contudo, tomar mais uma vez conhecimento de que, nas eleições livres nos países árabes, as forças vencedoras não são exatamene aquelas que angariam a simpatia do Ocidente. Como já aconteceu na Argélia e nos Territórios Palestinos, também na tradicionalmente laica Tunísia os islâmicos levaram a maioria dos votos. No entanto, é notável que um grande número de tunisianos votaram em partidos não islâmicos, embora estes não formem uma frente única coesa.

As razões do bom desempenho dos islâmicos nas urnas são diversas. O partido conta com um bônus de confiança do eleitorado em função das décadas de resistência ao regime de Zine El Abidine Ben Ali e dá respaldo aos desejos dos muçulmanos conservadores. Além de ter contado, segundo consta, com o apoio profissional da Arábia Saudita e de outros países do Golfo Pérsico durante a campanha eleitoral. A plataforma eleitoral apresentada pelo partido não é tampouco fundamentalista, mas remete a uma compreensão moderada do islã. Além disso, parece que o partido é o que mais recebe votos de confiança no que diz respeito à capacidade de resolver os problemas econômicos da Tunísia - o país sofre com um altíssimo desemprego, especialmente entre os jovens.

O sucesso dos islâmicos registrado nas urnas terá que ser aceito tanto por seus adversários políticos dentro do país quanto pela comunidade internacional. Ele reflete a vontade do povo. Embora haja também motivos de preocupação: há perigo de que as liberdades civis sejam cerceadas pela retomada de supostas normas religiosas? Quão confiáveis são as afirmações dos islâmicos de se empenharem em prol da democracia e dos direitos humanos, bem como pela equiparação de direitos entre homens e mulheres? Esta equiparação é mais avançada na Tunísia que em qualquer outro país árabe, logo, isso não deveria ser de forma alguma modificado. Não apenas a comunidade internacional, mas também os próprios tunisianos irão ficar de olho no Partido Ennahda. Este, por sua vez, terá agora a chance de mostar que islã, democracia e modernidade são compatíveis.

Autor: Rainer Sollich (sv)

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