Opinião: Última chance para a Grécia
20 de fevereiro de 2015A rejeição sumária da Alemanha surpreendeu e até desconcertou muitos políticos em Bruxelas. Finalmente a coalizão de radicais de esquerda e de direita em Atenas solicitou uma prorrogação do programa de resgate, dando um pouco de esperança a um acordo com os credores. Foi aí que o tesoureiro conservador Wolfgang Schäuble bateu com o punho na mesa.
Ele rejeita o pedido grego como farsa: a Grécia se compromete, em princípio, com muitas demandas do Eurogrupo, mas, nos detalhes o ministro das Finanças grego, Yanis Varoufakis, permanece demasiadamente vago. Há pontas soltas demais: pedido indeferido.
O presidente da Comissão Europeia, Jean-Claude Juncker, e o presidente do Eurogrupo, Jeroen Dijsselbloem, que nos últimos dias haviam mediado, ajudando os gregos na formulação do pedido, estão um pouco perplexos com o duro "não", vindo de Berlim e agora também apoiado por Helsinque. Teria sido mais recomendável consultar os parceiros do Eurogrupo, dizem, e então pedir emendas à Grécia.
A tática de negociação de Schäuble provoca críticas mesmo dentro da coalizão de governo em Berlim. No entanto, o líder do Partido Social Democrata (SPD), Sigmar Gabriel, admite que Schäuble agiu corretamente, e que o pedido de Atenas não pode ser aprovado dessa forma. Antes da reunião do Eurogrupo sobre o recente drama grego, que já é a terceira, o clima é, logicamente, bastante ruim.
Nesta sexta-feira é provavelmente a última chance para a tropa radical liderada por Alexis Tsipras chegar ao bom senso. E os mais linha-dura do Eurogrupo terão provavelmente a última chance de ceder um pouco aos gregos e manter a coesão do euro, que, afinal, é o cerne da integração europeia. O fato de o lado grego ter descartado a possibilidade de fazer modificações em seu pedido sugere que as negociações serão muito duras e longas, é que o final não está absolutamente garantido. A insolvência da Grécia se aproxima cada vez mais, inexoravelmente.
O presidente do Banco Central Europeu (BCE), Mario Draghi, também perdeu a paciência com as excêntricas ideias do economista radical Varoufakis. Os gregos põem seu dinheiro a salvo, a arrecadação fiscal está despencando, e o desenvolvimento econômico, comprometido. Em compensação, os gregos parecem ter reconquistado o orgulho próprio – o que é uma troca infeliz. A Grécia já depende totalmente do BCE. Sem ajuda emergencial para os bancos gregos, é apenas questão de dias a saída da Grécia da zona do euro, com a perda de todas as fontes de dinheiro de que dispõe.
O pedido de prorrogação do atual programa de resgate, pelo qual tanto se está brigando, é realmente apenas um problema menor. A extensão do programa só garante que seja paga, num prazo de seis meses, a última parcela, de pouco menos de 7 bilhões de euros, do empréstimo total de 240 bilhões de euros, concedido pelo Fundo Monetário Internacional (FMI), o BCE e a Comissão Europeia. Antes disso, a assim chamada troica tem que conferir a contabilidade grega.
O assunto portanto, não é o novo e ambicioso programa de reforma, saneamento e bem-estar social que o governo grego prometeu a seus eleitores, e que ninguém sabe como financiar. Os grandes problemas, como a reestruturação ou corte da dívida sequer foram tocados. Essa é uma discussão que ainda está por vir.
Após seis meses, terá que ser negociado um novo contrato com o Eurogrupo e o FMI – algo que, do ponto de vista atual, parece quase impossível. É mais provável que antes a Grécia finalmente entre em falência. O novo governo grego de esquerda-direita deve tropeçar o mais rapidamente possível em suas próprias promessas de campanha, ser desmascarado e democraticamente retirado do poder.
Isso também seria duro para a Grécia mas, ainda sim, melhor do que continuar sendo governado por uma de esquerda radical com sonhos de grandeza, um economista de araque e um nacionalista de direita. Até que o país seja catapultado da União Europeia.