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Opinião: Última chance para o G7

6 de junho de 2015

Vai ser um enorme evento de mídia. Mas cúpula do G7 tem que render mais do que belas imagens. E a Alemanha, ser mais do que mero país anfitrião, opina Henrik Böhme, da redação de economia da DW.

Henrik Böhme, da redação de economia da DWFoto: DW

Gênova, 20 de julho de 2001: Silvio Berlusconi, então primeiro-ministro italiano, foi o anfitrião da cúpula do G8 na venerável cidade portuária. Vieram também dezenas de milhares de manifestantes para protestar contra a conferência. Eles viam o Clube dos Oito como a razão de todos os problemas, como bastião do neoliberalismo, responsável pelos males do mundo.

Naquele dia 20 de julho, os protestos atingiram um ápice dramático sem precedentes. Uma bala disparada pelo policial Mario Placanica, de 20 anos, provocou a morte do manifestante Carlo Giuliani, somente três anos mais velho. Mesmo assim, a cúpula se realizou, ainda que os temas políticos empalidecessem diante dos acontecimentos. Concordou-se que, no futuro, a cúpula iria acontecer em algum lugar mais remoto. Para o G8, Gênova foi o primeiro prenúncio de morte.

Poucos anos mais tarde, a quebra do grupo Lehman Brothers abalou os mercados financeiros. O mundo se confrontava com o abismo. Os países do G8 perceberam rapidamente que não poderiam resolver o problema isoladamente. Lembrou-se então do fórum do G20: até então agindo somente no nível dos ministros das Finanças, ele foi então elevado ao papel de bombeiro da crise. Em novembro de 2008, os líderes das 20 principais economias do planeta se reuniram pela primeira vez em Washington.

Como resultado, o Grupo dos Oito perdeu importância. Em meados de 2010, tentou-se no Canadá a realização de uma cúpula dupla: primeiro o G8, então G20. Mas isso tampouco salvou o G8. Ele assumiu um novo perfil, tentando atuar como fórum diplomático, e a economia mundial passou a ser debatida na roda do G20. No entanto, com a crescente superação da crise financeira, a dinâmica do grupo foi se desacelerando. Os parceiros pouco tinham a se dizer, já que seus interesses eram divergentes demais.

Assim, os Oito países apostam numa nova chance: enquanto "comunidade de valores", eles proporiam novas abordagens na busca de soluções para os problemas do mundo. Um desses grandes problemas é a distribuição desigual da riqueza mundial. Regularmente encontram-se nas declarações finais de diversas cúpulas do G7 ou do G8 passagens relacionadas à luta contra a miséria, maior tributação do capital, combate ao protecionismo ou às práticas fiscais dos grandes conglomerados internacionais.

Mas, muitas vezes, se alguma coisa funciona, são só as medidas mínimas. Isso fica bem claro na divisão da riqueza. Nos últimos quatro anos – ou seja, desde a crise financeira –, a fortuna das 80 pessoas mais ricas do mundo aumentou de 1,3 trilhão para 1,9 trilhão de dólares. De acordo com um estudo da organização de ajuda humanitária Oxfam, esse clube dos super ricos possui tanto quanto a metade da população mais pobre do planeta – a qual, afinal, perfaz 3,5 bilhões de seres humanos. Os números da Organização Internacional do Trabalho (OIT) são semelhantes.

De acordo com a OIT, na média global, 10% da população mundial possui 40% de toda a riqueza do planeta. Por outro lado, cabem aos 10% mais pobres somente 2% da renda total mundial. Essa desigualdade não se refere apenas à comparação Norte-Sul, entre países ricos e pobres. Basta olhar para os EUA: ali, os chefes das empresas listadas no Índice S&P 500 ganham 250 vezes mais do que um trabalhador comum. Ao mesmo tempo, mais de 45 milhões de americanos vivem dos cupons de alimentos fornecidos pelo governo.

Tudo isso é sabido pelos líderes das principais potências – que são atualmente sete, desde que a Rússia foi expulsa da roda. Receitas verdadeiras contra esses excessos do capitalismo financeiro desenfreado não estão à vista. Há, naturalmente, uma chance para o seleto grupo: em setembro próximo, uma cúpula extraordinária da ONU deverá definir os Objetivos de Desenvolvimento Sustentável pós-2015 (ODS). Aqui, o G7 poderia se comprometer de antemão com metas concretas próprias para eliminar a pobreza extrema no mundo até 2030.

Os países deveriam adotar medidas de política fiscal ainda mais direcionadas do que foi feito até agora, já que a maioria das empresas que se destacam na evasão fiscal, está sediada em países do G7. Eles deveriam garantir que as normas sociais, ambientais e trabalhistas sejam respeitadas ao longo de toda a cadeia de abastecimento – não de forma facultativa, mas vinculativa.

Nesse aspecto a presidência rotativa alemã do G7 definiu as prioridades certas. Mas a chanceler federal alemã deverá ser mais do que uma boa anfitriã no Palácio Elmau: ela deve mostrar que a Alemanha está disposta a assumir responsabilidades, que há a disposição de se assumir a liderança.

Mas resta a pergunta: será possível impor esses objetivos no círculo do G7? Pois deve estar claro para a roda de participantes que esta é a última chance de justificação da cúpula. Somente se os sete países conseguirem adotar objetivos claros de proteção climática, chegar a um acordo sobre normas sociais e torná-las vinculativas para empresas multinacionais em seus países de origem, então o G7 fará jus à classificação de "comunidade de valores".

Só desta forma se conseguirá desarmar a bomba-relógio social. Há algum tempo foi precisamente o multibilionário Paul Tudor Jones, um operador e gestor de fundos de hedge, que mostrou o cerne do problema. Segundo Jones, a humanidade estaria em meio a uma desastrosa "mania de mercado", a pior já vista. O abismo entre o 1% e o resto não pode durar para sempre. Sua conclusão: "Isso vai acabar em revolução, impostos altos ou guerra."

Esse poderia ser um lema para o G7 – ou o epitáfio na lápide do grupo.

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