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Entre o júbilo e o luto

8 de maio de 2008

O aniversário da proclamação de Israel é ocasião para um lado festejar e demonstrar força, e de tristeza, luto e sensação de inferioridade para o outro lado, escreve Peter Philipp.

Sessenta anos de Israel: israelenses e palestinos detêm-se por algumas horas ou dias para lembrar o ano de 1948, quando tudo começou. E mais uma vez a data é ocasião, para um lado, de festejar e demonstrar força, e, para o outro, de tristeza, luto e sensação de inferioridade.

Peter Philipp

Tanto mais espantoso é que a reflexão se manifeste agora também pelo lado israelense-judaico. Há alguns anos teria sido impensável o que o diário Haaretz publicou sobre o jubileu: "60 anos de nakba, 60 anos de nada".

Nakba (catástrofe) – esta é a expressão usada pelos palestinos para denominar a data da proclamação de Israel. Naturalmente que o autor do texto não considera a fundação de Israel uma catástrofe, mas sim o que aconteceu desde aquela época. E também o que deixou de acontecer: o fato de não se ter alcançado a paz.

No último grande jubileu, há dez anos, ainda se estava otimista e se acreditava que o Acordo de Oslo poderia levar a alguma coisa. Mas isso deixou de existir há tempos. E poucos ainda acreditam no êxito das tentativas de George W. Bush de selar a paz no Oriente Médio antes do fim de seu mandato. Oitenta por cento dos israelenses não acreditam nisso. Entre os palestinos, a porcentagem deve ser maior ainda.

Este pessimismo minimiza a história de sucesso que Israel representa em tantas outras áreas: o Estado judaico não só se tornou nova pátria para centenas de milhares de sobreviventes do Holocausto, mas também se desenvolveu em um país moderno e progressista: apesar de todas as bizarrices sociopolíticas, é uma democracia viva, o país líder na região nos setores da ciência e da medicina, tem um bom desempenho econômico e seu exército é – ainda – o mais forte.

De que servem todos estes avanços se falta a paz, que seria a precondição para finalmente poder gozar tudo isso? Os 60 anos da história de Israel estão repletos de chances perdidas na busca pela paz.

Chances estas perdidas por ambos os lados. Assim como os palestinos – e com eles o mundo árabe –, que por tempo demais rejeitaram qualquer idéia de paz e reconhecimento, também todos os governos israelenses preferiram confiar na força militar em vez de apostar na diplomacia e na disposição de fazer concessões.

Em Israel costuma-se freqüentemente lembrar os "três nãos" dos árabes após a Guerra dos Seis Dias: "não" às negociações com Israel, "não" ao reconhecimento de Israel, "não" à paz com Israel.

Mas também Israel tem uma longa lista de "nãos": por muito tempo não se quis reconhecer os palestinos como um povo. Depois a idéia de um Estado palestino seria rejeitada.

Hoje, os principais tabus para Israel são a questão do retorno dos refugiados e um consenso sobre Jerusalém. Isto para citar apenas os "nãos" mais importantes. Outra "catástrofe" para ambos os lados: eles estão constantemente tratando de fazer voltar a roda da história. (rw)

Peter Philipp é chefe da equipe de correspondentes da Deutsche Welle e especialista em Oriente Médio.

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