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A Alemanha três anos após o "Nós vamos conseguir" de Merkel

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Jens Thurau
31 de agosto de 2018

Famosa frase foi proferida pela chanceler federal como promessa de que a Alemanha conseguiria administrar a crise migratória. Hoje, o desafio é bem maior que o de três anos atrás, opina o jornalista da DW Jens Thurau.

Alemanha passou por transformações desde que Merkel disse sua famosa frase sobre a crise migratória, em agosto de 2015Foto: Reuters/H. Hanschke

Se em algum momento num futuro distante os alemães se lembrarem da era Angela Merkel e procurarem uma grande frase que resuma o período, então "Nós vamos conseguir!" terá grande chance de chegar ao primeiro lugar. Há exatamente três anos, a chanceler federal disse essas palavras, que, desde então, compõem a sentença política mais interpretada, analisada e discutida no país.

Isso foi realmente apenas três anos atrás? Parece que foi há uma eternidade. Isso ocorre porque o país foi fundamentalmente modificado por essa frase e pelas políticas de refugiados e asilo a ela relacionadas. Não institucionalmente, não economicamente – mas politicamente, socialmente e, acima de tudo, mentalmente.

Será que conseguimos mesmo deste então? Sim e não. Quase um milhão de refugiados chegaram à Alemanha naquele ano de 2015. Sendo recebidos, pelo menos inicialmente, de forma calorosa, através de uma ampla cultura de boas-vindas, sustentada por muitos voluntários, comunidades, organizações, igrejas, associações. A grande maioria dos refugiados foi recebida dignamente e se comportou também dessa mesma maneira. Então, conseguimos.

Mas por um longo tempo muitas pessoas chegaram ao país sem controle algum, e desde cedo os governos municipais e regionais relataram preocupações de que nada seria simples e de que, por isso, não conseguiríamos. Havia a sensação de que o Estado, o meio político, não estavam dispostos nem eram capazes de assegurar processos ordenados nem segurança.

De lá para cá, o governo Merkel foi restringindo aos poucos a política para refugiados. Em parte porque ela não encontrava mais uma maioria para um curso distinto e mais liberal, nem na Europa nem na própria Alemanha – inclusive no próprio partido.

Faz tempo que não se trata mais apenas da política de asilo ou de quantos refugiados um país tão grande quanto a Alemanha pode suportar em que período de tempo. O problema agora é que a imigração serviu e serve de estopim para toda uma lista de problemas – dito a grosso modo – na comunicação entre o meio político e a população.

Rancores e ressentimentos que, se pensava, estavam superados há muito tempo, voltaram repentinamente: entre leste e oeste, cidade e campo, direita e esquerda. Os diferentes grupos sociais quase não conseguem mais chegar a um acordo sobre qual a política certa em relação aos refugiados. O tom é agressivo, e populistas de direita e neonazistas usam isso para seus próprios propósitos. Tabus foram quebrados, paradigmas são continuamente deslocados – na escolha das palavras, no nível da argumentação.

Não são poucos os que interpretam a sentença de Merkel da seguinte forma: o "nós" que deve conseguir realizar algo não se refere a todos. O principal ônus da política migratória, nessa interpretação, recai sobre os policiais e representantes de órgãos governamentais, vizinhos de abrigos para refugiados e os municípios – cidades e povoados. Mas certamente não sobre os políticos federais de Berlim.

E há quem aproveite o embalo para ir mais adiante, afirmando que os políticos não estão mesmo interessados nos cidadãos comuns. Não se interessam pela maneira como estes enfrentam a globalização, os inúmeros empregos precários, a insegurança social.

Para o futuro, o "Nós vamos conseguir!" deveria, portanto, considerar algumas questões adicionais: será que a sociedade, a política, as associações, os políticos e os cidadãos conseguirão travar novamente uma conversa construtiva? Conseguirão concordar sobre fundamentos e pilares centrais de nossa ordem social, que todos deveriam valorizar? Sobre Estado de Direito, democracia, equilíbrio social? E também sobre o futuro da política para refugiados? É bem possível que isso seja muito mais difícil de se conseguir do que as já altamente complexas e difíceis recepção e integração dos migrantes.

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