Opinião: A arriscada aposta de Tsipras
Como foi o caso tantas vezes no passado, desta vez, Alexis Tsipras também foi motivo de surpresa. A princípio, o primeiro-ministro esquerdista e líder do partido Syriza pretendia propor uma moção de confiança. Em seguida, ele cogitou fazer com que o Parlamento apreciasse as medidas de austeridade numa sessão extraordinária, especialmente convocada durante o recesso de verão. E, finalmente, ele decidiu – aparentemente de forma espontânea – renunciar. Ir embora simplesmente e deixar o presidente Prokopis Pavlopoulos cuidar do resto? Até pouco tempo, isso era visto como uma ideia abominável, levando em conta as possíveis consequências.
Segundo a interpretação constitucional vigente, nesse caso, o presidente deveria encarregar Tsipras da formação de um novo governo e, em seguida, estender tal pedido também ao segundo ou terceiro maior partido, antes de abrir caminho para novas eleições. Isso permitiria que, como terceira maior força, o partido radical de direita Aurora Dourada também fosse encarregado, pela primeira vez, da formação de um novo governo.
O fato de, até a manhã desta sexta-feira (21/08), Pavlopoulos não ter se manifestado é motivo de especulações. O chefe de Estado possui uma interpretação diferente da Constituição ou a formação de uma grande coalizão de governo ainda é possível? Ou: a oposição interna dentro do Syriza será coroada, possivelmente, como a terceira maior força no Parlamento após a sua separação do partido para, possivelmente, obter um mandato com vista à formação de um novo governo, deixando assim de fora os radicais de direita? Na política grega, quase nada mais pode surpreender.
Mas a questão principal continua: Por que Tsipras parece mais uma vez querer ver para crer? A resposta é: porque não há outra saída. Ele se tornou um chefe partidário sem partido, depois que dezenas de deputados de esquerda se recusaram a segui-lo e projetos de lei importantes passaram a ser aprovados graças somente aos votos da oposição. Uma nova eleição tem a vantagem de o premiê de esquerda poder fazer suas listas eleitorais à vontade, evitando rebeldes correligionários hostis à sua política.
Uma eleição imediata ofereceria um atrativo adicional: os radicais de esquerda em torno do ministro da Energia Panagiotis Lafazanis, que caiu recentemente em desgraça, não teriam quase nenhum tempo para formar a sua muitas vezes anunciada frente contra a política de austeridade, retirando assim votos de Tsipras.
Não foi à toa que Lafazanis protestou, na quinta-feira, contra o período de campanha eleitoral excepcionalmente curto. Por outro lado, ele não se incomodou nenhum pouco com o curto espaço de tempo da campanha eleitoral que antecedeu ao recente referendo realizado na Grécia.
A história da Grécia mostra que um partido de orientação esquerdista só pode ser bem-sucedido se conseguir chegar ao centro da sociedade e for liderado por uma figura carismática. O partido Syriza, de Tsipras, parece atender a esses requisitos, o que não é o caso do grupo ainda incipiente em torno de Lafazanis.
Se Tsipras aproveitar a época favorável e se livrar de forças radicais dentro do Syriza por meio de novas eleições, o seu talento para manobras seria comprovado mais uma vez. O único problema é: uma terceira eleição num espaço de sete meses não resolve nenhum problema financeiro. Pelo contrário, só custa muito dinheiro.