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Opinião: A complicada situação de Tsipras

Spiros Moskovou
17 de julho de 2015

Premiê só conseguiu aprovar o pacote de reformas com a ajuda da oposição. Seu partido está dividido. Aplicar assim as medidas exigidas parece quase impossível, opina Spiros Moskovou, chefe da redação grega da DW.

Spiros Moskovou, chefe da redação grega da DW

O desencanto do primeiro-ministro grego, Alexis Tsipras, com a responsabilidade governamental acaba de se tornar completo. Ao longo de cinco meses, ele tentou impressionar a União Europeia evocando a democracia e a dignidade, em vez de desenvolvendo planos convincentes. Nisso, fracassou.

No último fim de semana, o político esquerdista foi forçado a aceitar uma série de imposições dos credores internacionais, para que a Grécia sobreviva. E na noite de quarta-feira (15/07), viu uma grande parte de seu partido – nada menos que 39 ministros e deputados – se recusar a acompanhá-lo no caminho do pragmatismo. Uma ala considerável do Syriza segue aferrada a um populismo retrógrado.

As primeiras medidas de reforma e austeridade das instituições internacionais foram aprovadas graças à oposição pró-europeia – ou seja, com o apoio da "troica interna", que é como a esquerda mais radical trata o conservador Nova Democracia, o social-democrata Pasok e o liberal de esquerda Potami.

Agora o premiê depende desses supostos inimigos internos para que se firme o acordo com as instituições, que ainda não foi elaborado. Sozinhos, os deputados favoráveis do Syriza e os do parceiro de coalizão minoritário, o Gregos Independentes, não alcançam mais o mínimo necessário de 150 votos no Parlamento.

À primeira vista, se poderia dizer que há um consenso nacional amplo pela permanência da Grécia na zona do euro e pela reforma estrutural do país. Contudo, esse consenso é um perigoso campo minado. No momento, as legendas oposicionistas contribuem para o resgate do país, mas observam, seguras de si, quão necessárias são para fazer passar no Parlamento o primeiro "memorando esquerdista".

Ao mesmo tempo, os oposicionistas não estão dispostos a participar de uma coalizão governamental com o Syriza, em qualquer forma que seja. Este, por sua vez, parece estar definitivamente dividido em ideólogos e realistas, depois do terremoto da última votação. A reformulação do gabinete, com a exclusão dos que querem a volta da dracma, no lugar do euro, só abrandará temporariamente as turbulências.

É certo que já está praticamente assegurado o terceiro pacote de resgate financeiro para a Grécia. Assim o país estará inicialmente a salvo do colapso total. Mas quem vai implementar as medidas de austeridade e reforma? A metade do Syriza – que no momento pranteia a traição forçada de suas fantasias esquerdistas –, ou os antigos partidos governistas – que não foram especialmente bem sucedidos ao implementar os primeiros dois pacotes de resgate?

A aplicação das medidas impostas pressupõe um consenso de atuação e de criatividade que é simplesmente inexistente na Grécia, hoje. Há cinco anos se observa quão inadequado o sistema político grego é para enfrentar uma crise nacional. Fincar pé e, em caso extremo, reciclar – é a fórmula consagrada. Também Tsipras vai primeiro fincar pé, e depois convocar eleições antecipadas. Espera-se que não seja já no próximo trimestre.

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