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A crítica equivocada à OMS

17 de abril de 2020

Trump acusa Organização Mundial da Saúde de ter fracassado na crise da covid-19. Crítica é desonesta e demonstra compreensão totalmente errada do papel e poder dessa organização, opina o jornalista Fabian Schmidt.

O diretor-geral da Orgaização Mundial da Saúde, Tedros Adhanom GhebreyesusFoto: picture-alliance/dpa/M. Trezzini

Críticos, como o presidente dos EUA, Donald Trump, acusam a Organização Mundial da Saúde (OMS) de não responder à crise do coronavírus a tempo. A organização da ONU sediada em Genebra teria aceitado e reproduzido por muito tempo informações tranquilizadoras do governo chinês.

Segundo os críticos, em meados de janeiro, a OMS ainda acreditava que a epidemia poderia continuar sendo um fenômeno regional na China, apesar de Taiwan ‒ que não é membro da ONU e da OMS ‒ já ter há muito fechado suas fronteiras.

Em essência, nada disso está errado. Mas montar a partir disso uma crítica devastadora à OMS é desonesto e demonstra uma compreensão totalmente errada do papel e poder dessa organização intergovernamental, que é principalmente uma autoridade administrativa e não um serviço de emergência médica.

Como as missões dos capacetes azuis da ONU, a OMS é um projeto conjunto de seus Estados-membros e depende principalmente da vontade, capacidades e meios disponibilizados por esses países para implementar projetos em todo o mundo.

Por um lado, essas organizações precisam lidar de forma diplomática e cuidadosa com seus Estados-membros. Dificilmente se podem esperar fortes críticas públicas por parte da OMS às políticas de informação e saúde de cada país-membro. Essa é antes uma tarefa das organizações independentes de ajuda humanitária, de lobistas e, claro, da imprensa.

De acordo com seus estatutos, a OMS deve se orientar pelas autoridades de saúde de seus Estados-membros e não pelos caprichos da opinião pública em sociedades liberais. Ela faz isso de forma uma tanto lenta, mas é devido ao sistema da ONU. Não se pode culpar a OMS por isso.

Portanto, criticar a OMS de forma generalizada é errado e irresponsável, porque a organização faz um trabalho muito importante.

Nesse contexto, os países-membros contribuem apenas com cerca de um quinto do modesto orçamento da organização, de menos de 5 bilhões de dólares ‒ nem mesmo um dólar por ano para cada habitante do planeta. A OMS custa tanto quanto um hospital universitário numa metrópole do mundo industrializado.

A maior parte do orçamento da OMS provém de doadores privados e governamentais, estando assim vinculada a projetos com objetivos claramente definidos e principalmente de longo prazo.

Exemplos de tais projetos são campanhas de vacinação nos países mais pobres do mundo, onde muito se pode fazer com pouco dinheiro. Quando se trata de problemas fundamentais que flagelam a humanidade, mas realmente fáceis de combater, a OMS pode fazer muito ‒ se lhe dermos os meios para fazê-lo. Apenas um exemplo: o sarampo, do qual 20 milhões de pessoas adoeceram e 140 mil morreram no ano passado, ou campanhas para combater a malária e reduzir a mortalidade infantil.

É claro que a OMS também deve ficar de olho em doenças infecciosas emergentes como a covid-19. E quando se trata de trocar informações, ela é uma importante interface global entre governos, cientistas em universidades, institutos públicos e empresas de pesquisas farmacêuticas.

Mas a OMS não é onipotente. O verdadeiro trabalho no combate às doenças emergentes deve e só pode ser realizado pelos sistemas de saúde dos países, pelas instituições de pesquisa e pela indústria.

Apesar do nome ostentoso, a Organização  Mundial da Saúde não pode compensar as deficiências nos cuidados sanitários ou as flutuações nos mercados de medicamentos e equipamentos de proteção. Na verdade, ela se encontra no extremo inferior da hierarquia internacional.

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Fabian Schmidt Jornalista especializado em Ciência, com foco em tecnologia e invenções.
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