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Opinião: A impotência das Nações Unidas

Ines Pohl
Ines Pohl
23 de setembro de 2016

As estruturas da ONU estão anacrônicas: não se encaixam mais num mundo em que conflitos não transcorrem mais ao longo das fronteiras dos Estados, opina Ines Pohl, correspondente da DW em Washington.

A jornalista Ines Pohl é correspondente da DW nos Estados Unidos

As Nações Unidas estão agonizando. As estruturas da organização estão anacrônicas: não se encaixam mais num mundo em que conflitos não transcorrem mais ao longo das fronteiras dos Estados, num mundo em que se luta pelo domínio de ideologias e não mais por ganhos territoriais. Com os ataques verbais do secretário de Estado americano, John Kerry, contra o chanceler russo, Serguei Lavrov, o mundo agora tem a prova em vídeo: a inflacionada organização burocrática não sabe mais o que pode fazer para ajudar sírios e sírias.

O bombardeio do comboio de ajuda humanitária, que deveria trazer alívio para milhares de sírios, é a terrível evidência de que, no final, todas as negociações e disputas não levaram a nada. De que as pessoas estão morrendo. Todos os dias. Mesmo agora, neste momento, enquanto este texto está sendo lido.

O mundo era totalmente diferente quando a ONU foi fundada, em 1945. As vivências da Segunda Guerra Mundial ainda estavam frescas. Para evitar que algo semelhante acontecesse no futuro, foram criadas as estruturas adequadas. Para impedir que superpotências individuais ficassem demasiadamente fortes, foi dado poder de veto aos cinco membros permanentes do Conselho de Segurança. Hoje, potências econômicas importantes, como o Brasil e a Índia, não têm espaço nessa grande mesa. Somente em 1973, a Alemanha do pós-guerra se tornou membro das Nações Unidas.

Em seu cerne, essa estrutura mudou pouco. Países como Rússia, China e EUA ainda podem facilmente impedir qualquer decisão de maioria com seu poder de veto. Aliás, isso diz respeito também à eleição do secretário-geral da ONU. Também nesse caso, essa estrutura impede que um homem ou uma mulher com uma visão clara e corajosa ascenda à liderança do da ONU. No final, somente um meio-termo pode se impor, um candidato consensual que, embora fosse necessário, não pode assumir posições no caso de questões sensíveis.

Ou seja: essa instituição, mais importante que nunca num mundo de terrorismo e de Estados e estruturas que se esfacelam, não encontra coragem nem força para se renovar por conta própria. Provavelmente também porque as potências vencedoras da Segunda Guerra não querem reconhecer que não podem encontrar sozinhas nenhuma solução para conflitos como o na Síria, que precisam abdicar de poder para que a Assembleia Geral da ONU se torne realmente um instrumento poderoso para a compreensão entre os povos.

Com o novo esfriamento de relações entre Rússia e EUA, a reforma da ONU parece ter se deslocado para uma distância inatingível. E isso justamente diante dos olhos de um presidente como Barack Obama, que cedo reconheceu que, sem uma nova ordem mundial, as atuais superpotências não seriam mais capazes de vencer a nova luta pelo domínio de ideologias.

Em meio a essa situação desesperadora, a Alemanha entra com a solicitação para ser aceita por dois anos como membro não permanente do Conselho de Segurança a partir de 2019. As chances não são ruins. Ao menos no conflito na Ucrânia, Berlim mostrou ser capaz de mediar entre as partes. Fontes internas, que ainda não perderam totalmente a esperança, dizem também que a Alemanha – de qualquer forma o quarto maior contribuinte da ONU – poderia avançar, algum dia, para membro permanente da organização.

Será que isso ajudaria? No final, nada mais resta a não ser perceber, mais uma vez, que ainda é melhor ver políticos gritando uns com os outros do que se ignorando mutuamente – e deixando essa conversa somente para as armas.

E, sobretudo, essa Assembleia Geral da ONU mostra mais uma vez que a Alemanha também deve agir – por interesse próprio – no grande palco mundial. O conflito na Síria é somente uma evidência brutal de que, atualmente, também os conflitos mais distantes são capazes de atingir, em algum momento, também o próprio país.

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