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Estado de DireitoRússia

A luta solitária de Alexei Navalny

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Juri Rescheto
18 de janeiro de 2021

A prisão do crítico do Kremlin ao chegar em Moscou já era esperada, o que torna seu retorno uma jogada arriscada. Mas isso não deve fortalecer a oposição russa, opina Juri Rescheto.

O líder da oposição russa Alexei Navalny fala com jornalistas na chegada ao aeroporto de Sheremetyevo em MoscouFoto: Polina Ivanova/REUTERS

Primeiro, as boas notícias – boas do ponto de vista de todos os oponentes do presidente russo, Vladimir Putin: Alexei Navalny, o mais ruidoso de todos os críticos do Kremlin está de volta. Em forma e cheio de energia.

É verdade que Navalny foi preso imediatamente após sua chegada ao aeroporto de Sheremetyevo, em Moscou, no domingo (17/01). Mas, por enquanto, ele está "apenas" detido em prisão preventiva – e tem apoiadores que estão dispostos a continuar lutando por sua causa, mesmo que ele acabe ficando na prisão por mais tempo.

Uma forma de manter a luta seria nas próximas eleições parlamentares, marcadas para setembro. Usando o chamado sistema de "votação inteligente" de Navalny, eles pretendem retirar o maior número possível de eleitores do partido governista Rússia Unida, reduzindo ao máximo o apoio à sigla de Putin.

Uma arma embotada?

A estratégia pode até funcionar, como funcionou em algumas eleições regionais no ano passado. Mas não vai mudar realmente o sistema político russo e nem fortalecer a oposição. Afinal, a Rússia não tem uma oposição de verdade, e sim apenas uma pseudo-oposição fraca de grupos alinhados que deixam passar todas as decisões do Kremlin sem a menor contestação.

Isso não vai mudar com a volta de Navalny. E essa é a má notícia – e não apenas para os oponentes de Putin.

O adversário mais perigoso de Putin

Alexei Navalny é uma marca – carismático, destemido, determinado e conhecido muito além das fronteiras de sua terra natal. Mais do que isso: ele se tornou o político de oposição mais importante da Rússia, alguém que o Kremlin aparentemente teme de verdade. Isso ficou bem claro pela reação completamente exagerada do governo ao seu retorno.

Dezenas de viaturas policiais, centenas de seguranças e imprensa barrada: a área de desembarque do aeroporto de Vnukovo, onde Navalny deveria aterrissar, parecia uma fortaleza. A resposta do governo foi claramente uma demonstração de poder do Estado contra seu cidadão mais indomável.

Isso tudo pode parecer dramático, mas só serve para reforçar a imagem de Navalny de lutador. Enfim as autoridades não o veem mais como um "blogueiro insignificante" ou um "paciente em Berlim" – termos frequentemente usados pelo porta-voz do Kremlin, Dmitry Peskov. Seu chefe, Putin, não se digna nem mesmo a mencionar o nome de Navalny.

O judiciário da Rússia já teve várias chances de colocar Navalny atrás das grades por muito tempo. Mas não o fez – aparentemente, por ordem do Kremlin. Fazer isso seria "honra" demais para um "blogueiro insignificante"; seria dar muita atenção a ele. Agora, isso aparentemente mudou. Navalny se tornou muito conhecido e, em última análise, também muito perigoso para Putin.

Lutador corajoso e solitário

Mas Navalny continua lutando sozinho. Por trás dele, não há nenhum partido; nenhuma multidão unida em sua causa.

Seus vídeos sobre funcionários corruptos são vistos milhões de vezes. E há alguns anos, muitos apoiadores – a maioria jovens – atenderam ao seu apelo para tomar as ruas contra o Estado. Mas o governo respondeu aos protestos de maneira violenta: milhares foram detidos e alguns foram parar na prisão. Desde então, eles têm sido sistematicamente intimidados.

Poucos dias antes da chegada de Navalny, um grupo de ativistas postou um apelo online para que seus seguidores recebessem o crítico do Kremlin no aeroporto. Logo depois, apoiadores de Navalny em Moscou e São Petersburgo receberam uma visita da polícia. Outros ativistas da oposição também foram ameaçados de prisão, caso ousassem mostrar o rosto no aeroporto. E pouco antes da chegada de Navalny, a polícia realizou dezenas de detenções no aeroporto. Tudo isso é prova de que o Kremlin continua sendo um oponente avassalador.

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Juri Rescheto é correspondente da DW em Moscou. O texto reflete a opinião pessoal do autor, não necessariamente da DW.

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