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A perigosa negligência do governo colombiano

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Günther Maihold
30 de agosto de 2019

A paz durou três anos na Colômbia. Agora partes das antigas Farc querem retomar a luta armada. O presidente Iván Duque tratou com desleixo o processo de reconciliação por tempo demais, opina o analista Günter Maihold.

"Uma repressão militar aos rebeldes aumentaria o risco de que a violência no país volte a aumentar"Foto: picture-alliance/AP Photo/I. Perez

Em um vídeo divulgado nesta quinta-feira (29/08), dois líderes guerrilheiros históricos das Forças Armadas Revolucionárias da Colômbia (Farc) anunciaram que querem pegar novamente em armas e iniciar uma nova fase da luta armada.

Iván Márquez e Jesús Santrich, ambos membros da comissão de negociação das Farc nas conversações de paz ocorridas em Havana, capital de Cuba, haviam entrado na clandestinidade e desaparecido. Agora, os rumores foram confirmados de que eles estavam se armando e fundando uma "nova guerrilha".

Esta retoma o nome de Forças Armadas Revolucionárias da Colômbia – Exército do Povo (Farc-EP) e tenta reunir grupos dissidentes das antigas Farc, além de se declarar invicta "na luta ideológica".

Segundo estimativas não oficiais, cerca de 1.800 ex-guerrilheiros continuam armados, como membros de cartéis de drogas ou atuantes na exploração ilegal de recursos naturais ou no negócio de sequestros, como por exemplo, nas chantagens para obter resgates.

Até agora, eles atuavam bastante dispersos no território nacional e não tinham uma estrutura clara de gerenciamento. Agora, eles podem ficar tentados, com o anúncio dos comandantes históricos, a reafirmar sua legitimidade política.

Mas é duvidoso se as negociações anunciadas entre as novas Farc com o marxista Exército de Libertação Nacional (ELN) terão sucesso. De todo jeito, um novo ator da violência entrou no palco político. Isso destrói uma conquista central do processo de paz – o desarmamento e a desmobilização de ex-guerrilheiros – e volta a inflamar a luta armada das Farc, ao lado da já ativa guerrilha do ELN, com a qual o governo de Bogotá não havia conseguido um acordo até agora.

Assim, a Colômbia se encontra mais uma vez numa encruzilhada num processo de paz que sucede várias tentativas fracassadas. A cada vez, os acordos não eram cumpridos, as garantias prometidas não eram respeitadas, e a antiga elite política continuava a controlar o poder.

Será que a declaração dos dois veteranos das Farc pode reacender o fogo de uma guerrilha? Será que o governo Duque colocará um fim à negligência em relação ao processo de paz e trabalhará para aprofundá-lo?

Declarações iniciais de Bogotá sugerem que a "nova" guerrilha não é vista como um sinal de alerta. O ex-presidente Álvaro Uribe considera como confirmada sua tese de que não há processo de paz algum, e sim apenas um "perdão para alguns autores de crimes hediondos combinado com altos custos institucionais".

Para o presidente Iván Duque, a situação se torna um teste de fogo, restando saber se ele se comprometerá com o acordo de paz ou se penderá para a posição de seu mentor político e questionará as bases do processo de paz ou mesmo o declarará como fracassado. Certamente, a repressão militar aos rebeldes começará primeiro, aumentando o risco de que a violência no país volte a aumentar.

Mas por trás disso está a questão fundamental de saber se as elites políticas e econômicas do país estão prontas para enfrentar as questões pendentes da distribuição de terras, reparações e reformas políticas, ou se continuam a colocá-las em segundo plano. Sem mencionar a proteção de ex-combatentes das Farc e ativistas locais da paz, que vêm sendo vítimas frequentes de atentados.

Sem uma implementação mais profunda do acordo de paz, não será possível um novo convívio na Colômbia. A comunidade internacional deve fazer tudo o que estiver ao seu alcance para manter a Colômbia no caminho da paz e da reconciliação.

Günther Maihold é vice-diretor do Instituto Alemão de Assuntos Internacionais e de Segurança (Stiftung Wissenschaft und Politik), em Berlim.

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